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Selma Figueiredo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
A jornalista Selma Figueiredo na redação de O Estado; profissional acompanhou diversas mudanças na arte de fazer jornalismo impresso
A jornalista Selma Figueiredo na redação de O Estado; profissional acompanhou diversas mudanças na arte de fazer jornalismo impresso (selma figueiredo)

Nem faz tanto tempo assim, mas as máquinas de escrever ainda dominavam a redação de O Estado quando comecei um estágio extracurricular no ano de 1993, época em que o jornal impresso foi formador de gerações de jornalistas e repórteres fotográficos que saíam às ruas para traduzir nas páginas o dia a dia, as agruras e os avanços da cidade. Na minha chegada, já havia a novidade dos computadores à disposição, mas em número reduzido e a equipe ainda vivia a nova fase de adaptação.

Ao mesmo tempo em que fui efetivada como repórter do caderno Alternativo, os computadores se multiplicaram na redação. Para recebê-los, uma reforma completa no espaço. Agora, eram umas duas dezenas e a máquina de escrever se aposentava. Junto com ela, saíram de cena as pranchetas dos diagramadores, as réguas de paica ainda sobreviventes e até as folhas de papel ficaram bem mais raras.
Era um processo sem volta que se iniciava. Mais um momento de adaptação ao novo (como já disse o poeta Belchior, "o novo sempre vem"). E as novidades nunca pararam, e sempre foram abraçadas pela turma de bons profissionais que fazia a Redação borbulhar, ferver dias, noites e madrugadas.

A internet chegou e trouxe as suas infinitas possibilidades. E o jornal fez bom uso delas. A então chamada rede mundial de computadores virou espaço de contato, link entre fontes, cenário para pesquisas e muito mais.

E as inovações continuaram. Nasceram os sites de notícias, bem tímidos no início, os blogs diversos e em todos os campos, os aplicativos, as redes sociais.

A Redação foi se adaptando a essa vastidão midiática, foi sim... até que o jornal, nesse formato impresso e diário, quase perdeu a razão de ser diante da necessidade de publicar cada vez mais rápido a notícia sobre um fato e, também, claro, por causa dos altos custos de produção que um matutino aglutina - equipe maior, especializada, papel, tinta, etc.

E, mais uma vez, vivemos tempos novos. Estamos novamente em fase de adaptação a novas tecnologias. O fato é que o jornalismo impresso parece já não caber neste presente. E o jornal O Estado sai de cena deixando uma trajetória marcante e que se confunde com a do próprio Maranhão, que, inclusive, carrega no sobrenome.

São 62 anos, mais de 21.200 edições e muitas informações compartilhadas, páginas especiais, cadernos e suplementos. Haja pauta, lead, mote… Fazer parte dessa equipe nessas mais de duas décadas e meia trouxe trabalho, aprendizado e conquistas.

Na Redação, cresci e ganhei com a convivência dos grandes nomes do jornalismo e da crônica maranhenses; com a produção de matérias sobre os mais diversos assuntos; e, mais ainda, com a conquista de amizades - e algumas irmandades -, que ficam para a vida toda. Vibramos juntos a cada manchete emplacada, reclamamos de muitas pautas, choramos a cada partida de um companheiro querido - e foram muitos nesses anos. São centenas de histórias vivenciadas.

Agora, devem virar objeto para estudos de pesquisadores. A rotativa parou, o site travou, o aplicativo estagnou, mas a história de O Estado fica para sempre.

E, assim, seguirá a vida, com sua eterna mudança numa sociedade em que, segundo pesquisas, não se tem mais tempo (nem paciência) para ler além do título das reportagens ou, até no máximo, o subtítulo. As inovações não param. Em alguns momentos são até revitalizações do que já existe, como no caso do Podcast, que em sua essência é rádio dos bons. Pode ser, inclusive, que um dia ocorra um retorno do jornal, de uma maneira diferenciada, claro, adaptada a algum novo tempo futuro. Quem sabe...

O jornalismo seguirá de olho nas tendências, com novas plataformas para mais textos, mais mudanças, fatos, notícias, inovações… para mais vida. Mas, O Estado deixa de circular. A leitura das notícias não trará mais o cheiro da tinta fresca da impressão e as novas páginas da história serão somente no sentido figurativo, pois estão digitais.
Jornalista, repórter, editora e, nos últimos anos, coordenadora de Redação de O Estado

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