O que tem a ver um jornal fundado em São Luís a 1º de maio de 1863, com outro que também nasceu na mesma data, em 1975?
O primeiro, veio ao mundo há 158 anos, intitulado de O País e pertencia ao jornalista Temístocles Aranha; o segundo, nascido há 46 anos, com a denominação de O Estado do Maranhão, fundado por dois jornalistas, José Sarney e Bandeira Tribuzi.
Segundo o grande historiador, Jerônimo de Viveiros, nos primeiros tempos de O País, o jornal circulava duas vezes por semana, mas vinte anos depois passou a ser diário e anunciava-se como defensor dos oprimidos, das injustiças, dos sentimentos altruísticos da sociedade e da grandeza e felicidade do Maranhão.
Nos seus primeiros anos de vida, o jornal de Temístocles Aranha, não tinha tipografia própria, com a redação na Rua de Santo Antônio, mas cuidadosamente elaborado com criteriosos artigos e editorais, selecionadas transcrições e interessantes correspondências, magnificamente revistas e impressas, assim relatava mestre Jerônimo.
Já O Estado do Maranhão, antes de ganhar esse nome, era conhecido por Jornal do Dia, que funcionava na Rua de Santana, de propriedade do empresário Alberto Aboud, que vendeu a um grupo de empresários e políticos, encabeçados por José Marão e José Sarney, mas, na metade da década de sessenta do século passado, passou para o domínio integral de Sarney.
O Jornal do Dia, à época, não possuía os equipamentos tecnológicos da comunicação moderna, portanto era produzido e circulava sob o reinado das máquinas de datilografia e das linotipos.
A partir de 1975, o Jornal do Dia deixa de circular, sendo substituído por um veículo de comunicação mais moderno, batizado com o nome de O Estado do Maranhão, com a sua redação no bairro de São Francisco, despojado de equipamentos ultrapassados e substituídos pelo que havia de mais moderno no mundo da tecnologia gráfica.
Se entre O País e O Estado do Maranhão havia uma coincidência quanto as datas de fundação, também não discrepa com relação aos motivos pelos quais ambos deixaram de circular.
Mais uma vez recorro ao professor Jerônimo de Viveiros e transcrevo o texto no qual o dono de O País deu por encerrado o seu jornal e que tem muito a ver com o fim de O Estado do Maranhão: “Não deve desaparecer um jornal da natureza deste, sem que o leitor, que já está com ele habituado, seja informado do motivo desta resolução.
“Há muito tempo lutava O País com grandes dificuldades financeiras para manter-se, desde que sua publicação, de três vezes por semana, passou a ser diária, pois duplicou a sua despesa e pequeno aumento teve a receita.
“Isso obrigou-me a sacrifícios enormes, até que, esgotados os meus recursos, veio uma sociedade comandita amparar o jornal.
“ Vendo, porém, eu, depois de um ano de formada a sociedade, que o estado financeiro da empresa não melhorava, dei disto conhecimento aos sócios comandatários, àqueles que tão generosamente me auxiliaram, e a quem a maior gratidão devia; em vista da escrituração que lhes foi apresentada, e do lhes expus, resolvemos suspender circulação do jornal.
“É este o único motivo porque desaparece O País.
“ Não se rompe com hábitos inveterados sem sentir-se grande abalo, não se deixa uma profissão que se exerce, sem a interrupção de um só dia , por mais de vinte anos, sem um profundo sentimento; e assim pode cada um avaliar o que me vai na alma, vendo desaparecer O País, este jornal que criei e que sustentei até o impossível.
“Mas como não há dor sem lenitivo, resta-me a consolação de retirar-me da imprensa sem a ter desonrado, de ter sustentado o jornal no mais elevado nível de conceito público.
“Aos bons e velhos assinantes do País, a todos que o auxiliaram minha eterna gratidão.
“Aos meus companheiros de trabalho, meus amigos, esses honrados operários, que desde a fundação do jornal não desamparam e a seus companheiros de oficina, meu profundo reconhecimento.”
O MEU INGRESSO NO JORNALISMO
Devo o meu ingresso no jornalismo ao poeta e escritor Bandeira Tribuzi, que conheci nos idos de 1962, quando era o redator-chefe do Jornal do Povo, de propriedade do deputado federal Neiva Moreira.
Ele e eu estávamos registrados como candidatos à Assembleia Legislativa do Maranhão, pelo Partido Social Progressista, nas eleições proporcionais de 1962, e fazíamos parte de um grupo que costumava se reunir na redação do Jornal do Povo, situado num casarão da Rua da Paz, ou então na Praça João Lisboa, debaixo de uma árvore, apelidada de urucuzeiro, porque, segundo os militares, “abrigava simpatizantes do credo vermelho” e onde pontificavam figuras humanas de valor moral e cultural, lideradas por Bandeira Tribuzi e José Mário Santos.
Por causa regime militar, em abril de 1964, o grupo sai de cena e volta a se reunir em 1965, face à eleição ao governo do Maranhão. Uma parte do grupo, liderada por Tribuzi, apoia a candidatura de José Sarney, e a outra, capitaneada por Zé Mário se bandeia para o candidato Renato Archer.
Com a investidura de Sarney no cargo de governador, Tribuzi conquanto perseguido pelos militares, torna-se figura proeminente do novo governo, ao lado de outros valorosos técnicos maranhenses.
Pelas mãos de Joaquim Itapary, depois de receber o sinal verde de Sarney, aportei na Superintendência do Desenvolvimento do Maranhão, órgão com a função de formular estratégias, planos e ações para a construção do Maranhão Novo.
Tribuzi, além das atividades técnicas, prestadas à Sudema, também, comandava o Jornal do Dia, agora sob o domínio de Sarney. Num dia de 1967, com a conversa girando em torno de jornal e de jornalistas, Tribuzi, a quem eu costumava mostrar os meus aleatórios textos, pergunta-me se topava escrever uma coluna no JD, a respeito de assuntos variados. Sem pestanejar, aceitei o desafio, assumindo a coluna Roda Viva, que comecei com o pseudônimo de J. Amparo.
A coluna, por causa da minha formação política de oposição, fato que me levou à perda do mandato de deputado estadual, em abril de 1964, rapidamente conquistou o público, que, à época, tinha o costume e o prazer de ler os jornais editados em São Luís.
No Jornal do Dia, trabalhei durante dez anos. Depois de certo tempo, abdiquei do pseudônimo e a festejada coluna Roda Viva só deixou de ser publicada por causa de um atrito com o então deputado Alexandre Costa, que não gostou de uma nota divulgada a seu respeito, levando a direção do JD a prestar solidariedade ao político e não ao seu colunista.
DEPOIS DO JORNAL DO DIA
Ao deixar o jornal de Sarney, o jornalista Adirson Vasconcelos, que dirigia O Imparcial, convidou-me para continuar com a Roda Viva, no matutino dos Associados, onde passei longa temporada até o dia em que bati de frente contra os interesses políticos do jornalista Pires de Sabóia, então candidato a deputado federal pela Arena.
Minha saída de O Imparcial coincidiu com o lançamento de um novo matutino em São Luís, projetado pelo jornalista Cordeiro Filho. Tratava-se de O Jornal, publicado em tamanho tabloide, policromia e sustentado em três pilares: política, sob a minha responsabilidade; polícia, a cargo do jornalista Eloy Cutrim; e esporte, que o jornalista Fernando Sousa redigia.
Quando Antônio Carlos Lima foi chamado por José Sarney para dirigir O Estado do Maranhão, fui convidado para colaborar nas edições de domingos, com matérias sobre fatos e episódios históricos, políticos e culturais do passado maranhense.
Aproveitava, também, para colaborar, com prazer e alegria, com o meu amigo Pergentino Holanda, com notas oportunas e interessantes, as quais, muitas vezes escapavam de seu domínio de jornalista atuante e competente.
Esse convívio com a redação de o Estado do Maranhão, levou o meu amigo, profissional de primeira linha, Ribamar Correia, a convidar-me a escrever a coluna Roda Viva no Caderno Alternativo, nos finais de semana, no lugar do saudoso escritor Carlos Lima, que havia falecido.
De pronto aceitei ao convite de Ribamar Correia, ao qual devo a grande e irrecusável oportunidade de retornar ao convívio jornalístico e de fazer parte de uma equipe de profissionais da melhor categoria e de um veículo de comunicação que ao longo do tempo sempre acompanhou a evolução da tecnologia impressa, mas hoje deixa de circular, abrindo um enorme vazio na vida maranhense e na história de nossa vibrante imprensa.
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