Artigo

Num domingo qualquer

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Tenho dito às pessoas mais próximas que ninguém sabe mais dos meus defeitos que eu, e que, ademais, sei, também, como poucos, das minhas virtudes, que, tenho convicção, são maiores, felizmente, que os meus defeitos.

Um dos meus defeitos é ser reflexivo em demasia. Penso mais do que devia. E, mais grave ainda, exponho as minhas inquietações, mesmo que elas sejam bizantinas, no alvitre de instigar, como o farei adiante.

Pois bem. Num domingo qualquer, saí, à tarde, para minha habitual caminhada, de máscaras, como deve ser nesses tempos pandêmicos.

Sem surpresa, deparei-me com incontáveis pessoas, na Av. Litorânea, desprovidas do indispensável acessório, o que me levou à conclusão - irônica, claro - de que, por algum privilégio que outros não possuem, têm UTI reservada para uma eventualidade.

Adiante, avaliei - ironizando, da mesma forma - que, se não têm garantia de internação, devem ter um pacto de não contaminação com o novo coronavírus; ou, noutro giro, têm convicção de que, contaminadas, não desenvolverão os sintomas da Covid-19.

Em arremate, ponderei, com a mesma inspiração irônica, que os que insistem em desafiar o vírus, devem ter certeza, ademais, de que, morrendo, têm vaga garantida junto ao criador, daí a negligência com as medidas sanitárias que a situação reclama.

A minha mais grave constatação exponho a seguir, com uma dose elevada de escárnio e revolta: quem se arrisca à contaminação, com grande probabilidade de replicar o vírus, é uma pessoa má, a merecer veemente repúdio.

Após essa inquietante conclusão, pensei, em seguida, como um alento, que, apesar dos maus, somos, sim, uma maioria boa, que pode ser traduzida, para exemplificar, na vitória esmagadora da paraibana Juliette Freire no reality show da Rede Globo, reconhecida, quase à unanimidade, como a participante detentora das melhores qualidades.

Convenhamos que, se dentre os participantes do reality em comento, no qual as virtudes e os defeitos são expostos com crueza, a vencedora foi exatamente a que tinha as melhores qualidades, com mais de 90% dos votos - e a mais rejeitada, percentualmente, foi a que exibiu os piores defeitos -, não se pode dizer, por esse e outros exemplos que poderiam ser trazidos à colação, que a sociedade seja composta, em sua maioria, de pessoas más, conquanto admita que há, sim, uma minoria má, como as que se exibem sem máscaras em locais públicos, expondo, à toda evidência, a sua total falta de respeito para com o igual, como uma desconhecida que, em Santos (SP), sábado, dia 5 de junho, além de se recusar a usar máscaras, ainda classificou a ação das autoridades sanitárias de suja, indigna e imoral.

Pois bem, concluindo, sem surpresa, que o ser humano, de regra, é bom, voltei meus olhos para a beleza do pôr sol, decidido a registrar o fenômeno no meu aparelho celular, sucedendo, entrementes, que, ao retirar o telefone da pochete, deixei cair a chave do meu carro, que, felizmente, foi encontrada por um parceiro de caminhada, que a entregou a mim com singular entusiasmo.

Esse dado da realidade me levou de volta à reflexão inicial sobre o ser humano, para concluir, definitivamente, que, com pequenas e, às vezes, simbólicas ações, as pessoas demonstram, sim, a sua bondade, disso inferindo-se que, apesar dos maus, os bons ainda são a absoluta maioria, daí a minha conclusão de que, apesar de tudo, dias virão “em que seremos melhores, melhores no amor, melhores na dor, melhores em tudo” (Jota Quest).

É isso.

José Luiz Oliveira de Almeida

Desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão

E-mail: jose.luiz.almeida@globo.com

blog: joseluiz.almeida

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