Aniversário

Os 62 anos de O Estado do Maranhão

Homenagem pelo aniversário do jornal O Estado

Arlete Nogueira da Cruz / Especial para O Estado

- Atualizada em 11/10/2022 às 12h16
Arlete Nogueira da Cruz
Arlete Nogueira da Cruz (Arlete Nogueira)

São Luís - Minha mãe era poetisa, tem um livro publicado pós-mortem, em 1993, com o nome de Poemas. Também escreveu crônicas, publicando-as em jornais de São Luís desde o final dos anos de 1920 até os anos de 1960, usando o nome literário de Márcia de Queiroz. Talvez por simples prudência ou impressão de inferioridade, a verdade é que a maioria de mulheres escritoras usaram pseudônimos, tamanho era o preconceito contra si, ainda hoje existente, bastando lembrar que a nossa extraordinária Maria Firmina dos Reis, considerada por muitos a 1ª. mulher romancista brasileira, obrigou-se a publicar seu romance Úrsula sem seu nome próprio, ou mesmo sob um pseudônimo, trazendo a autoria do romance, na capa do livro, apenas como sendo “De uma maranhense.”

Este preâmbulo é para dizer como comecei a escrever nos jornais de São Luís com a mesma idade de quando minha mãe começou, ela por volta do final dos anos de 1920, com apenas 20 anos, e eu no final dos anos de 1950. Minha mãe quase sempre me levava, adolescente, quando ia às redações deixar seus escritos para publicação.

O jornal O Estado do Maranhão, criado em 1959 pelos poetas José Sarney e Bandeira Tribuzi, seus diretores, num instante em que nos empenhávamos, ao lado das Oposições Coligadas (reunião dos partidos políticos oposicionistas do Maranhão), contra a permanência do vitorinismo em nossa terra. Eu já vinha escrevendo esporadicamente nos diversos periódicos de São Luís (a cidade era pequena, todo mundo era amigo de todo mundo), conhecendo através de meus pais, principalmente de minha mãe, por ser escritora, proprietários de jornais, jornalistas, escritores e colaboradores, como Zuzu Nahuz, Neiva Moreira, Ribamar Bogéa, Pires de Saboia, Lago Burnett, Clóvis Sena, Reginaldo Telles, Bernardo Coelho de Almeida, Bandeira Tribuzi, José Chagas, Déo Silva e muitos outros. (Eu ainda não conhecia Nauro. Ele se encontrava no Rio de Janeiro desde 1958. Fui conhecê-lo quando retornou a São Luís em 1961, perto já do lançamento de A parede, que este ano completa 60 anos.)

Depois de lançar A parede, passei a interagir entusiasticamente junto aos acontecimentos culturais da cidade, tornando-me amiga da maioria dos artistas do Maranhão daqueles anos. Destaco a circulação do jornal O Estado do Maranhão, que dispunha da competência e do humanismo, salutar, de Bandeira Tribuzi, entre outros, a carrear ideias e informações a favor de uma sociedade a se desenvolver com justiça e solidariedade. Na página cultural semanal do jornal estava Helena Barros (hoje Helena Barros Heluy) com o seu importante Muro de Vidro, dominicalmente, a fermentar inovações de altos valores. Tribuzi, escondido sob o pseudônimo de Leucipo Teixeira (disse-me ele que era uma homenagem a Lucy Teixeira, sua grande amiga no final dos anos de 1940), a inspirar e alertar seus leitores diariamente.

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Depois, já casada com Nauro, ficamos assíduos frequentadores da redação de O Estado do Maranhão, levando o que escrevíamos para publicação. Acompanhamos o crescimento do jornal, o estabelecimento de um espaço para implantação das modernas instalações, a admissão de técnicos operacionais, bem como a ampliação de um corpo de jornalistas conceituados e profissionais. Quantas noites, junto com Nauro, permanecíamos ali um tempo maior, conversando com Tribuzi. Ele, com aqueles óculos de aros pesados e de cigarro à boca, sempre vestindo roupas em tons de marrom, camisas e calças, dizendo que se vestia assim porque era um eterno franciscano, parece que estou a vê-lo, pedindo que demorássemos mais, conversando sobre poesia, mostrando a Nauro seus poemas inéditos. Foi numa daquelas noites, já em 1977, que tive a ideia de homenageá-lo pelos seus 50 anos. Sempre fomos muito bem recebidos ali, citando apenas três nomes para representar muitos, Biné Mendes, Ademir Santos e Ribamar Corrêa por longos anos, sem qualquer sonegação de espaço e gentileza. O Estado do Maranhão manteve por muito tempo um grupo de escritores, alternando cada um diariamente, escrevendo memoráveis artigos de consistente domínio intelectual e de lúcida consciência crítica. Nas últimas décadas, criado, continua mantido um suplemento, o Alternativo, com jovens jornalistas, atenciosos e inesquecíveis, para acolher a produção dos artistas e dos escritores maranhenses, possibilitando suas divulgações e a divulgação dos eventos culturais da cidade, fazendo-o sem discriminações.

O Estado Maranhão continua atuando, como poucos jornais brasileiros, numa estoica resistência dentro do atual, doloroso, irresponsável e cruel panorama nacional, destacando assuntos que permitem uma possível e benéfica interlocução com os seus leitores, mantendo-os informados e preservando uma ética e uma dignidade que se fazem sempre necessárias. Estou certa de que continuará nessa linha para satisfazer leitores ávidos de informações e orientações sob ajuizamentos cada vez mais independentes e criteriosos. São meus votos nestes 62 anos do jornal e 91 anos de um de seus fundadores, José Sarney, cumprimentando os que trabalham ali, dos seus diretores ao jornaleiro que distribui os exemplares a leitores ansiosos para consumir e problematizar notícias e opiniões. Porque sempre buscou-se ser assim em todos os tempos e lugares e será uma pena a escalada que vier matar essa necessidade.

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