Especial/ São João

Festas que ficaram na lembrança dos arraiais que não existem mais

Do Renascença ao Juvêncio, Zé Cupertino e Apeadouro, há registros de ações para motivar a cultura típica do período junino e que, por razões diversas, foram extintos; restaram somente a saudade e muitas histórias para contar

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24

[e-s001]No período junino, é co­mum o público, amante dos bois e quadrilhas, organizar sua roupa, separar o chapéu de palha e anotar a programação das brincadeiras. Circular pelos pontos da festa é uma praxe, em especial nas principais datas do mês (Santo Antônio, no dia 13; São João, dia 24; São Pedro, 29, e São Marçal, no dia 30), e o costume era ainda mais forte nas décadas de 1970 e 1980 em São Luís. A cidade, que atualmente oferece ao público atrações em circuito oficial, no Centro Histórico, Praça Maria Aragão e em determinados bairros, já teve arraiais espalhados em vários espaços tradicionais. Aos poucos, estas festas foram sendo extintas, restando a quem as viveu somente a lembrança dos momen­tos alegres e intensos.

Do Renascença a Juvêncio. Do Zé Cupertino ao Arraial do Carne Seca. Do Arraial do Apeadouro ao Tico-Tico no Fubá. Estes são apenas alguns exemplos de arraiais que, infelizmente para a maioria, não existem mais. O Estado decidiu, às vésperas do início oficial da programação junina, fazer uma homenagem a quem curtiu alguns destes.
Apesar da manifestação popular ainda permanecer com força, é necessário indagar: houve perda para a cultura junina ludovicense, com o fim destes arraiais, que valorizavam a força dos bairros e os grupos folclóricos? E outro questionamento: o poder público não poderia resgatar os antigos arraiais?

Antes de entender como cada arraial surgiu, é importante fazer um resgaste acerca da origem da festa junina. Normalmente, três são os santos homenageados neste mês de junho: Santo Antônio, São João Batista e São Pedro. Considerado o mês da colheita - já que, em tese, as sementes tiveram tempo de geminar no primeiro semestre -, após a retirada dos bens da terra, eram organizadas grandes festas para comemorar e voltados aos chamados deuses pagãos.

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Com o surgimento do Cristianismo, estas manifestações começaram a ser “abafadas” pelo poder vigente religioso da época. Mas, apesar das tentativas da igreja, as festas não cessavam.

Após reuniões entre os principais membros eclesiásticos, a Igreja decidiu não impedir mais o culto à colheita, mas com uma recomendação clara: a retirada dos alimentos - necessária em um contexto social de promoção à cultura da terra voltada à subsistência - seria feita tendo como referência um único Deus. É o que especialistas definem em trabalhos científicos como “Deus católico”. Ou seja, a comemoração passaria a girar em “torno dos santos” e não mais a partir da celebração de divindades pagãs.

Fortalecimento da festa
Após a “liberação” da igreja, estas festas passaram a ser feitas com a confecção e uso, pelos brincantes, de roupas típicas (com acessórios coloridos e uso de materiais simples como palha, por exemplo). Com o passar dos séculos, a vestimenta - sem razão aparente - perdeu força e os atos eram celebrados sem fantasias.

Com a motivação da colheita, as festas juninas se fortaleceram no interior em especial, pela proximidade entre as pessoas e valorização de terra. Os camponeses, em determinadas comunidades, para estar na festa, se “vestiam como podiam”, ou seja, com (chapéu de palha e outros acessórios).

Quadrilhas e quermesses
A festa junina, além de ganhar no­vos adeptos, também recebeu modificações. A ideia de trazer para o ambiente os personagens do caipira e de sua noiva e o rito do casamento foi um verdadeiro ganho para o período. Porém, no Maranhão em especial, este elemento se somou a outras manifestações que são conhecidas, como o bumba-boi, o tambor de crioula e outras.

[e-s001]O Tico-Tico que acabou: a festa condenada por uma morte
Em frente ao Terminal do São Cristóvão, quem passa pela Avenida Lourenço Vieira da Silva, na Cidade Operária, nem percebe que um terreno, murado e atualmente ocupado por lixo e mato, já foi palco de um dos arraiais mais conhecidos da cidade. O Arraial Tico-Tico no Fubá era um dos bons terreiros juninos que marcavam o mês tradicional na cidade.

A origem do nome não se sabe. A hipótese mais provável é que faça referência a um dos fundadores da festa, que seria morador das proximidades. No entanto, um homicídio registrado ainda na década de 1980 no arraial causou comoção na capital maranhense.

Várias pessoas contrárias à manifestação cultural decidiram, por meios judiciais, impedir a promoção da festa. Quem a viveu não esquece. “Era animado demais, vinha muita gente participar. Eu mesmo fui até lá várias vezes, já que era próximo à minha residência”, disse o repórter fotográfico José de Jesus.

Outros antigos arraiais
Um dos antigos arraiais mais lembrados foi o do Juvêncio. Era realizado com comoção nas décadas de 1970 e 1980 na Rua Riachuelo, no João Paulo, atualmente conhecida pela grande concentração de estabelecimentos voltados para produtos como fogos de artifício, por exemplo.

A concentração das brincadeiras, em especial dos grupos de matraca (que se preparavam para o Encontro de São Marçal no bairro), ocorria ao lado do ponto do delicioso mocotó do seu Juvêncio, velho conhecido do bairro. Segundo o jornalista Joel Jacinto, quem comandava o arraial na verdade era o filho de seu Juvêncio, Júnior Filho.
Outros arraiais lembrados foram os seguintes: o do antigo Clubão da Cohab, no bairro; além do Forquilhão (na Forquilha), o do Ferrugem (no Bom Milagre) e o do Pé Trocado, na Cidade Operária.
Porém, apesar destes, alguns tiveram destaque especial, como os do Renascença, do Apeadouro, do Carne Seca e do Terreiro Raízes.

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