Entrevista

"Mesmo com a crise, nossa cultura permanecerá forte", diz Bulcão

Otimista com a chegada do boi ao mundo virtual, Luis Bulcão é a favor de uma programação, ainda este ano, se houver condições

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Luis Bulcão é otimista com relação ao bumba meu boi virtual
Luis Bulcão é otimista com relação ao bumba meu boi virtual (Luis Bulcão)

São Luís - Um dos nomes mais conhecidos da cultura local e fonte de conhecimento sobre o assunto, o ex-secretário de Cultura do Estado, Luís Bulcão, conversou com O Estado sobre a atual situação dos festejos juninos, sem arraiais, sendo obrigados a acontecer no ambiente virtual. Ele ressaltou que, apesar da ausência da programação oficial junina, as manifestações não perderão força nos próximos anos.

Bulcão aponta que as lives vieram para ficar, no segmento do bumba meu boi, e é a favor de elaboração de uma programação, ainda este ano (caso haja condições sanitárias), de apresentações fora do calendário tradicional.

Esse momento de ausência de programação junina nos principais arraiais é inédito? Já ocorreu algo na história semelhante?

Na verdade, até antes da década de 1990, o São João era ainda algo descentralizado. Foi necessária a intervenção do poder público, em especial no âmbito estadual, para que essas manifestações – que antes se apresentavam de forma improvisada, muitas vezes em troca de alimento ou bebida – se transformassem em peças culturais e manifestações de divulgação, de fato, do que é produzido pelo maranhense. No entanto, uma ausência de programação em virtude de uma doença como a Covid-19, sem dúvida, é inédita e sem precedentes.

Essa ausência das apresentações, na sua opinião, como estudioso e conhecedor da nossa cultura, enfraquecerá nossas manifestações tradicionais? Ou terão o efeito contrário?

Pelo contrário, nossas manifestações sairão ainda mais fortalecidas após esta crise. Não tenho a menor dúvida disso. Os grupos ocupam espaços importantes na nossa cultura como um todo, mas possuem raízes que, mesmo uma pandemia, são incapazes de serem cortadas com suas comunidades. Fora que esses grupos estão aproveitando o aparente momento de suspensão presencial das atividades para se reinventar. Nossa cultura é bela e única e, ainda que uma crise gravíssima, ela permanecerá assim enquanto as futuras gerações a preservarem.

O senhor é a favor ou contra da promoção de uma programação de São João ainda este ano e fora do calendário tradicional?

Apesar de ser algo que foge das tradições, penso que devido à necessidade que as pessoas têm de se divertir, neste caso, se houvessem as condições sanitárias adequadas, não vejo problema para a promoção de uma programação fora do calendário usual. As pessoas estão sufocadas em suas casas, sem poderem minimamente sair. E quando saem, estão receosas. As apresentações são uma forma, para quem gosta, de clara descontração. Se houver condições, ainda que no fim do ano, por se tratar de um período atípico, não considero absurda uma programação dos grupos culturais marcantes da época junina.

Qual a importância dos arraiais com a presença de público para a nossa cultura?

Sem dúvida, é a marca destas manifestações. Além de elevar o ego dos participantes dos grupos, a interação entre os grupos, suas toadas e o público é única. Os mais intensos na festa querem participar e acompanhar suas manifestações preferidas e acompanham cada toada ao lado dos pandeirões e outros instrumentistas. Fora que a promoção do público alavanca o turismo, algo que estamos vendo prejudicado neste momento por uma questão maior, que é a segurança física de todos.

Quanto às lives que alguns grupos de bumba boi estão promovendo, para o senhor, vieram para ficar? Ou somente são uma tendência de momento na sua visão?

Creio que as lives vieram para ficar. Penso que não são uma tendência de momento, pelo contrário. As manifestações estão vendo que estas ferramentas são uma forma de ampliação da marca cultural do nosso estado, pelo fomento das apresentações nestes recursos digitais. Mesmo quando passar, os grupos manterão esta tendência de exibições também na internet.

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