Novos tempos

O bumba meu boi fez seu guarnicê e encantou no mundo virtual

Em meio à maior crise sanitária dos últimos 100 anos, grupos de bumba-boi, acostumados com grandes públicos, tiveram de se "reinventar", usando a tecnologia

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

[e-s001]São Luís - Quem pensa em São João relaciona o termo, não somente ao santo católico, como à festa com momentos de alegria e grande concentração de brincantes nos principais arraiais da cidade e do interior do estado. Porém, diante da maior crise sanitária dos últimos 100 anos do planeta, a festa – de grande apelo popular – não ocorreu nos moldes apresentados com sucesso.

O prazer da festa, o toque das matracas e dos chocalhos, e a satisfação em ver o seu batalhão em cena, deram lugar à reclusão nos barracões e à obrigatória diminuição da concentração de admiradores. Manifestações tradicionais do nosso Maranhão tiveram de se reinventar para que datas marcantes, como São João, São Pedro (comemorado nesta segunda-feira, 29) e São Marçal (lembrado neste dia 30 do mês) não passassem em branco.

O Estado ouviu, nas últimas semanas, representantes de grupos conhecidos do público para entender de que maneira os membros passaram o mês de junho menos intenso das últimas décadas, em se tratando de apresentações. As poucas horas de sono, entre um dia e outro da programação oficial, deram lugar às agendas internas e programação para – quem sabe – retomada futura, e ainda este ano, dos compromissos culturais.

Apesar da ausência da programação ‘presencial’ junina – por causa das orientações sanitárias de isolamento social –, nomes famosos da rica cultura junina maranhense enfatizaram que o momento é de aprendizado. Para eles, é uma oportunidade de união das comunidades que formam os batalhões mais famosos da nossa cultura.

O isolamento social e o impedimento para apresentações locais, também representam uma chance para que outras manifestações, como tambor de crioula, dança portuguesa, quadrilhas e outras, pudessem viabilizar outras formas de divulgação de suas marcas.

O Grupo Mirante também colabora com a valorização da cultura e a empresa promoverá, a partir de segunda-feira (29), o Arraial Bumba Minha Casa, com atrações que prometem fazer o fã junino curtir a sua festa, com a comodidade de não precisar sair de casa.

[e-s001]Maioba tradicional e inserida nas redes: o arraial na live
Da tradição das antigas festas, em que brincantes se reuniam com instrumentos simples e montavam o batuque que, anos mais tarde, virou a manifestação do bumba meu boi, nasceu um dos grupos mais tradicionais do estado. O Boi da Maioba se consolidou, após o período inicial de “itinerância” pelo antigo Jenipapeiro e adjacências, quando a brincadeira passou a ganhar status de coisa séria.

A partir da década de 1960, o Boi da Maioba ganhou ainda mais representatividade. Nomes como João de Chica e Calça Curta até hoje são lembrados por quem sempre remete aos baluartes para ressaltar a importância da manifestação.

Se João de Chica e Calça Curta foram os primeiros responsáveis pela fase inicial do Boi da Maioba, outros nomes como Dá na Vó, ou Luiz Rosa Gonzaga (primeiro amo do boi) também são lembrados. Dá na Vó foi responsável por “começar a cantoria” e se destacou em um contexto de grandes nomes, como Hilário, Germano da Mata, Luiz Costa, Januário e outros. Estes e outros, somados a João Chiador, consolidaram o nome da Maioba entre as referências para Bumba meu Boi no estado.

O grupo, de tantas referências, vive uma fase inédita e se inseriu definitivamente, em 2020, no contexto do uso dos recursos tecnológicos para a divulgação das marcas que, afetadas pela pandemia, foram comprometidas na agenda de apresentações anuais. No dia 20 de junho deste ano, o Boi da Maioba promoveu – em parceria com empresas e com o apoio do Grupo Mirante – uma live interativa. De acordo com a direção do grupo, a live contou com mais de 200 mil visualizações.

A apresentação, que teve grande parte do batalhão pesado maiobeiro, participação de cantadores atuais (como Darlan, Marcos e Juninho), instrumentistas, e contou com a retaguarda técnica do Grupo Mirante e outros profissionais, contratados pelo Boi da Maioba.

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A estrutura, montada na sede do grupo, brindou o público com uma apresentação histórica de pouco mais de duas horas. As toadas que marcaram a vida dos maiobeiros, como “Se não existisse o sol” e outras, foram ecoadas. A iniciativa também teve o cunho social, já que os valores arrecadados, a partir do oferecimento de um QR Code próprio, em tela, foram encaminhados para a Maioba.

Para Cecilene Ferreira, diretora do Boi da Maioba, e cujo sangue maiobeiro corre nas veias a partir da descendência de precursores da festa (ela é filha de Zé Inaldo, um dos nomes mais importantes da Maioba), a promoção das lives – ao mesmo tempo em que atenuou a saudade dos fãs e minimizou os impactos financeiros – também serviu para inserir uma marca histórica em um segmento inédito, até então. “Marcar a história da Maioba com a promoção desta live é, sem dúvida, algo que ficará como legado”, disse.

[e-s001]Da tristeza do espaço vazio à alegria da marca no digital
Com a descendência de Calça Curta, um dos nomes mais importantes da história da Maioba, Zé Inaldo tem envergadura para falar sobre esse momento maiobeiro de inserção do grupo nas ferramentas digitais. Para o dirigente e amante da cultura, é um período que deve ser respeitado. “Ninguém no mundo escolheu estar nessa situação tão grave. Logo, temos que nos adaptar”, disse.

Apesar das restrições sociais, na sede da Maioba (no bairro) os integrantes que têm acesso à sede do grupo mantém a rotina como se a agenda estivesse lotada de apresentações pela cidade. Com máscaras e álcool gel, os colaboradores não veem a hora de tudo isso passar. “Claro que a gente queria estar no nosso São João belo. Mas entendemos a situação”, disse.

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