Economia ambulante

Amor à profissão, oportunidades de negócios e “foods sem teto”

O Estado encontrou exemplos bem-sucedidos de negócios que começaram e se estabelecem sobre rodas, em alguns pontos de São Luís; responsáveis reclamam da falta de incentivos e visão de gestão do poder público

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

[e-s001]Com os incentivos financeiros de instâncias privadas e com a ausência de oportunidades no mercado de trabalho, o número de empresas do ramo alimentício e outros setores que se consolidam ou que se constituíram na categoria food trucks cresceu de forma considerável. Se por um lado a economia local ganha um serviço fundamental, por outro, cresce a concorrência e a chance de insucesso, caso um negócio surja sem as condições ideais. Em São Luís, em várias vias públicas, é possível ver foods dos mais diferentes tipos. Apesar disso, responsáveis reclamam da ausência de políticas públicas e da falta de visão de negócios por parte do poder público.

Um dos pontos atuais de maior concentração dos foods na Ilha é em frente à Arena Domingos Leal (Lagoa da Jansen). No local, cerca de oito food trucks se concentram, diariamente, oferecendo, em geral, lanches a base de carne vermelha. Estilizados com marcas em inglês e layouts originários dos veículos ofertados em outras praças nacionais, como São Paulo e Rio de Janeiro, os food da Ilha lutam por melhorias. No local, sem energia elétrica própria, por exemplo, os donos dos lanches reuniram cotas e adquiriam dois geradores que, com autonomia de até sete horas, mantém os negócios em funcionamento.

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O dono do truck mais estilizado da Lagoa é João Mendonça, que oferece o Burger Truck, uma Kombi, revitalizada por ele, e que chama a atenção pela autonomia e comodidade. Com dois funcionários, o empresário cita que, diariamente, precisa inovar em receitas e promoções. “Com a concorrência, temos de oferecer um produto de qualidade”, justificou.

[e-s001]A O Estado, o empresário disse que não há nenhum incentivo da Prefeitura de São Luís para a consolidação do negócio. Segundo ele, inclusive, há um projeto do Poder Executivo Municipal para retirá-los da Lagoa. Até o fechamento desta edição, a Prefeitura não havia se manifestado sobre o assunto. “Se a gente sair daqui, que já não temos as condições ideais, vamos para onde?”, indagou. Uma ideia dele é levar vários foods à área central da cidade, que está passando por recuperação urbana, com as reformas das praças Deodoro e Pantheon.

Cozinheiro há mais de dez anos, o também empresário Josemar Bonfim abandonou a vida nas dependências internas de uma cozinha para investir no mercado food de rua. Ele vende hambúrgueres e churrasquinhos na região da Lagoa. “Sempre buscamos receitas novas para agradar ao cliente, que é nosso alvo”, disse.

[e-s001]Ele também confirmou a informação de que o poder público pensa em retirá-los da área da Lagoa da Jansen. Para o empresário, os foods não podem ficar sem espaço – ou sem “teto” como ele mesmo definiu. “Acho que somos responsáveis por uma boa parcela da economia local. Não há incentivo do poder público e, muitas vezes, é preciso amor para se manter no dia a dia, lutando por clientes”, disse.

Marketing na venda e exemplos bem-sucedidos de foods

Em São Luís, não são poucos os exemplos positivos de negócios via foods. O foco desta realidade está na Avenida Litorânea, nos arredores do parquinho, onde diariamente transitam milhares de pessoas. Estacionados, vários food trailers se concentram e buscam as melhores estratégias para atrair clientes.

Um dos negócios mais famosos da região é o “Rei do Beiju” - que também agora é uma burgueria bem-acabada. O dono do negócio é Regivan Lima, conhecido por “abençoado”. Ele, que aborda todos os seus clientes com o termo “abençoado”, oferece até 40 sabores de beijus recheados. E sabe todo o cardápio de cabeça. “As pessoas têm de saber o que oferecer e como oferecer. Chamar meus clientes de abençoados é uma forma de marketing que criei e que pegou. Além de chamar meus sabores por números”, disse.


[e-s001]Impulsionando o negócio, está o sabor número 30, um beiju recheado com molho de camarão e catupiry. A preparação da massa do beiju é feita de forma “abençoada” pelo próprio dono do negócio. “Começo a preparar todo o dia por volta das 5h. No início da tarde arremato tudo e à noite venho para cá, vender”, disse.

O “Rei do Beiju” contou ainda que possui estabelecimento fixo e que adotou a unidade móvel como forma de expansão de mercado. “Como percebi que, na minha área, as coisas não estavam boas, decidi estender minha rede de clientes com a instalação deste food. Deu certo, posso dizer que foi a melhor coisa que fiz”, afirmou.

Na Avenida Litorânea, a diversidade de foods com as mais variadas receitas chama a atenção. Vão desde comidas típicas da Bahia, à gastronomia japonesa. Um destes negócios é o Kamitaf Sushi, um charmoso food trailer de cor preta, com prestativos funcionários, e que, de forma limpa e segura, oferece pratos voltados para quem ama a culinária oriental. Clientes abordados por O Estado elogiaram a forma como o food se porta na hora de oferecer o prato. “Aqui é muito legal, a gente come uma comida deliciosa, bem-feita e na beira da praia”, disse a funcionária pública Bárbara Gomes.

Empresas se especializam na fabricação e personalização

Empresas que originalmente estavam focadas no mercado de produção metalúrgica, estão enveredando pelo caminho dos foods, em São Luís

Devido à consolidação do negócio no mercado local, empresas que originalmente estavam focadas no mercado de produção metalúrgica também estão enveredando pelo caminho dos foods. Em São Luís, empresários oferecem de maneira autônoma estruturas que podem ser alugadas ou adquiridas à vista.

[e-s001]No bairro Anjo da Guarda, O Estado esteve no galpão de produção de uma das empresas. Atualmente, de acordo com o responsável pelo empreendimento, o empresário Frederico Teixeira, o mercado não está em ascensão. Várias razões, segundo ele, são apontadas para a tendência, como a importação da matéria-prima (que disponibiliza materiais em alta com a elevação do dólar no mercado mundial) além da queda na produção industrial brasileira. Outro fator, segundo ele, é a escassez de mão de obra. “Estes fatores, somados ao momento financeiro do país, brecaram o setor”, disse.

Mesmo assim, segundo ele, há pedidos de food trailers e trucks até o fim do ano. Trabalhadores atuam de maneira incessante em seu galpão para dar conta dos pedidos. Em média, um food trailer, por exemplo, demora cerca de 20 dias para ser confeccionado, desde a elaboração do projeto inicial até a sua conclusão. “A demora é para o encaixe das várias chapas e disponibilização para a inclusão de um reservatório de água na estrutura que dá uma autonomia interessante para o trailer”, disse.

O aluguel de um food trailer varia de R$ 600,00 a R$ 700,00, dependendo do produto. O contrato de locação tem duração de dois anos, podendo ser prorrogado. Para adquirir um food trailer, é necessário inicialmente, na empresa de Frederico Teixeira, desembolsar cerca de R$ 15 mil. “Com a complexidade na fabricação e atual situação do mercado, considero um preço justo e dentro dos padrões”, disse. Existem outras empresas especializadas na fabricação de foods que estão situadas nos bairros da Alemanha, João Paulo e Turu.

Capacitação técnica
O Sebrae, pelo projeto “Negócios sobre rodas” incentiva a fomentação desta modalidade de negócio em todo o país. Atualmente, no mercado local, o órgão é responsável apenas pela capacitação técnica e promoção de eventos de divulgação das principais marcas. No futuro, há uma ideia de incentivar financeiramente os negócios. “Nossa preocupação é com a qualidade do negócio. Muitas vezes, o dono do food é alguém sem experiência no ramo. Por isso, é importante a formulação de um bom projeto para a viabilização financeira e, em consequência, manutenção do negócio”, informou a gerente da unidade regional do Sebrae em São Luís, Marise Abdalla.

Ao procurar o Sebrae, os postulantes nos foods são orientados inicialmente a abrir uma CNPJ (via Receita Federal). Em seguida, são cadastrados como MEI (microempreendedores individuais), o que viabiliza menores taxas no financiamento e dá outras vantagens. Futuramente, dependendo do bom andamento das vendas, este dono de food pode passar para outra categoria que engloba modalidade de negócio mais complexa. “Isso dependeria do sucesso no negócio. Normalmente, pessoas que ocupam este setor têm sucesso. Portanto, o termo MEI refere-se aos primeiros períodos do empreendimento”, disse a gestora do Projeto Negócios sobre Rodas na Região Metropolitana de São Luís, Shamia Renata Coimbra Mendonça.

SAIBA MAIS

Eventos

Em novembro, vários eventos estão previstos para a divulgação do serviço de foods. Entre os dias 16 e 25, haverá a Feira do Livro no Multicenter Sebrae. As estruturas móveis de alimentos também deverão ser vistos no Maranhão Fashion Week (nos dias 24 e 25), na segunda edição do encontro dos Food Trucks (no Golden Shopping no dia 26) e no Sabor de Negócios, nos dias 29 e 30.

Dicas para quem quer começar a empreender via foods

Buscar a capacitação técnica
Viabilizar formas de investimento inicial
Informar-se acerca da realidade do mercado atual (tendências, perspectivas, locais de venda, dentre outros itens)
Escolher um produto a ser ofertado
Adquirir as licenças e concessões legais (Blitz Urbana, Detran, Vigilância Sanitária e Receita Federal)

Fonte: Sebrae

Contatos para quem quer abrir um food

Blitz Urbana
Avenida dos Franceses, A – Alemanha (complexo da Guarda Municipal)
Telefone: 0800 280 0234
Vigilância Sanitária
Endereço: Av. dos Franceses, 113 - Alemanha - São Luís/MA
Telefone: 32124321
Sebrae
Av. Prof. Carlos Cunha, Jaracati. São Luis/MA
Telefone:3216-6166

Itens mais importantes do Projeto de Lei número 59, de 2018, que regulamenta a venda de alimentos por veículos automotores

- O “food truck” conterá até 6,3 metros de comprimento e oferecerá o espaço de três metros de calçada livre para pedestres;
- Não serão admitidos aos “food trucks” estacionar frente a estabelecimentos de ensino, repartições públicas, hospitais, farmácias e portões de acesso a edifícios;
- O armazenamento, transporte e a venda deverão observar a legislação sanitária vigente no âmbito federal, estadual e municipal;
- A instalação de equipamentos em passeios públicos respeitará a legislação urbanística em vigor;
- Fica autorizado o Poder Executivo pela emissão de autorização de funcionamento, penalidades e multas;

Fonte: Câmara de São Luís

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