Artigo

Reflexões eleitorais

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

Nosso país vive um momento ímpar em sua história: uma eleição majoritária, onde o exercício pleno da democracia encontra uma população exausta, em luta frenética pela sobrevivência, se considerarmos os treze milhões de desempregados neste país. Temos uma população em busca de preservar direitos consagrados em sua Constituição - saúde, segurança, educação -, mas a cuja realidade, marcadamente debilitada pela condição político-econômica do país, não tem acesso.

Fazer uma previsão do que nos espera, a partir de janeiro de 2019, é algo impossível, ainda que nos cerquemos de todos os dados estatísticos, pois que qualquer simulação depende em grande medida do resultado do pleito eleitoral para presidente. Esse é um desafio à parte: em todo o período histórico da redemocratização, nunca esse pleito se mostrou tão incerto e tão polarizado.

Como quem militou grande parte da vida profissional no ensino público universitário, olhamos com imensa tristeza a perda de cérebros geniais; não porque tenham partido do país, mas porque não conseguem dar prosseguimento a pesquisas de mestrado, doutorado e pós-doutorado por falta de financiamento ou pelo corte das verbas das pesquisas em andamento. É como se relegássemos nosso futuro como nação para sermos apenas mero consumidor de tecnologia e pagador de royalties para nações e instituições estrangeiras.

Um olhar para a educação é deparamo-nos com um quadro que beira o completo vexame. Ainda ecoa fundo, em todos que se preocupam com a educação, a constatação de muito sentida, mas agora admitida sem qualquer filtro pelo ministro da educação que, lacônico disse em entrevista: “O ensino médio está no fundo do poço.” Organismos internacionais como a OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico) já nos classificavam em níveis precários nesta área em ranking de competitividade. Muitos saem das escolas sem saber ler de forma crítica; sem interpretar o que leem; de fazer contas básicas na área da matemática e incapazes de abstrações que a filosofia e a sociologia requerem.

A infraestrutura, grande alavancador e instrumento de enfrentamento de crises econômicas como tão bem nos ensinou Roosevelt, na crise de 1929 e, em certa medida, com um pouco mais de endividamento, Juscelino Kubitschek de Oliveira, padece da falta de investimentos robustos. Obras paradas, investimentos freados, mão de obra desocupada, comércio ressentido e famílias fazendo malabarismos nas contas por falta de renda.

A saúde está literalmente numa encruzilhada. A mudança do perfil epidemiológico da população brasileira desafia nosso Sistema. Como em países desenvolvidos, temos nas doenças de perfil crônico, o principal foco de atendimento, mas ainda carregamos regiões inteiras com populações cujo perfil epidemiológico das doenças é infectoparasitário, pois ainda não superamos o desafio de resolver o saneamento básico.

Por fim, as grandes metrópoles clamam e sofrem duramente com a insegurança. Claramente nosso sistema não atende à violência das armas pesadas, dos violentos ataques a bancos, correios e ao grave problema de controle das drogas.

Lembro a famosa obra A vida é um sonho, do espanhol Pedro Calderón de La Barca, onde um delicado entremeio entre fantasia e realidade se desenvolve, tendo como protagonista o príncipe Segismundo. O carcereiro Clotaldo convence o príncipe de que um mundo melhor que ele viveu não passou de um sonho e que a vida é apenas um amontoado de durezas, às quais todo homem tem que acostumar-se.

De volta ao nosso tema, entre anseios e concretudes, uma constatação é certa: o novo presidente precisará mais do que recursos financeiros - ainda que sejam absolutamente essenciais - mas acima de tudo serão imprescindíveis criatividade, uma incansável disposição para o trabalho e doses cavalares de otimismo. Não me refiro a promessas vazias e impraticáveis, mas a uma sincera esperança, uma capacidade técnica e inteligência, associados aos investimentos na ciência e tecnologia. Um gigantesco espírito público que rima com empatia, desprendimento, senso de dever e honestidade. Talvez só assim possamos desfrutar na existência o sonho deste Brasil melhor.

Natalino Salgado Filho

Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.