Artigo

Valei-nos São José

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

No artigo passado, trouxe uma breve reflexão sobre a vida de São Luis Rei de França, santo que dá nome à nossa cidade que no último dia oito comemorou quatrocentos anos de fundação.

O povo maranhense é rico, ou melhor, riquíssimo em memória e tradição. Aqui, oferece-se aos santos como preces, não apenas os sons dos sinos, mas também o batuque dos tambores, zabumbas, matracas e pandeirões. Num passeio pelas ruas, sobretudo do Centro Histórico, nos deparamos com imagens, azulejos, pinturas, símbolos e monumentos que testemunham a fé simples da nossa gente. São gestos, costumes, crenças e lendas que cercam de misticismo o cotidiano e emolduram a nossa história. A religiosidade popular, faz parte da identidade, do DNA do nosso povo. É marca indelével de sua estrutura social e do seu desenvolvimento cultural.

Setembro no Maranhão, além das festividades cívicas e do aniversário de São Luis, celebra-se também, no dia dezenove, São José de Ribamar. Trata-se do mesmo José, descendente de Davi (cf. Mt 1, 16; Lc 3, 23-38) esposo de Maria e pai de Jesus (cf. Mt 1, 16). O homem justo (cf. Mt 1, 19), o carpinteiro de Nazaré (cf. Mt 13, 55). A devoção a São José entre os maranhenses é, sem dúvida uma herança da colonização portuguesa. De Portugal, também, segundo a tradição, teria vindo a imagem do “santo de botas” venerada na Cidade Santuário que leva seu nome.

É lendária, porém cheia de significado a narrativa da chegada da imagem, que está intimamente ligada a história de fundação do município. Conta-se que um navio vindo de Lisboa desviou-se de sua rota, em meio a uma grande tempestade e, sendo iminente o perigo de naufrágio o capitão invocou a proteção de São José, logrando êxito em sua prece. Em terra firme, como agradecimento, ergueu-se uma modesta capela dedicada a São José , localizada “ a riba do mar” - “ acima do mar”.

A imagem do santo carpinteiro, de traços rústicos e baixa estatura, atrai todos os anos milhares de pessoas que chegam para pedir, agradecer e renovar sua fé. A cidade se transforma num grande santuário a céu aberto, ornado com fitas, cores, velas e vidas. A praça da Matriz, exibe imagens com passagens da vida de São José, harmonicamente colocadas, formando com que um caminho de oração e contemplação. A concha em formato de Bíblia aberta parece acolher as histórias, as lutas, as preces de cada peregrino que deseja fazer a travessia...quem sabe por isso, na outra ponta ela deságue serena na Baía de São José.

Pai, trabalhador e esposo, o povo se identifica a São José, carinhosamente lhe invocando como padroeiro do Maranhão. Aqui, São José nunca está sozinho, tem ao seu lado Nossa Senhora e o menino Jesus, a quem educou e protegeu. Temos, portanto a imagem da família, a Sagrada Família de Nazaré.

Sempre é tempo de travessia! E utra vez estamos a enfrentar ventos fortes. Ventos que limpam o caminho, encobrem as marcas de que passou, apagam a pegadas deixadas que falam contam das vicissitudes do caminhar. Ventos que dividem e destroem, corroem a esperança e ofuscam a rota do diálogo, da tolerância, da fraternidade e da conivência.

Valei-nos São José! Olhai para o vosso povo que entre luzes e sombras caminha, refazendo sua história. O Maranhão é tua terra, terra de tantos Josés, Antônios e Joãos, de tantas Marias, Margaridas, Rosas e Anas! Olhai por tua gente, e devolve-nos a segurança da terra firme. Terra fértil para o plantio e para a colheita de um tempo de verdadeira paz.

Valei-nos, São José, de Ribamar e do Maranhão!


Kécio Rabelo

Advogado, membro da Comissão Justiça e Paz de São Luis

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