COMENTÁRIO

Humor grotesco na telona

“Tirando o Atraso” flerta com temas sérios, mas cai nas galhofas das comédias “besteirol” norte-americanas; filme é estrelado por Robert De Niro e Zac Efron

Italo Stauffenberg/O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h51
Cena do filme Tirando o Atraso
Cena do filme Tirando o Atraso (Tirando o atraso)

É no mínimo constrangedora a sensação de sair da sala de cinema após assistir a comédia “Tirando o Atraso (Dirty Grandpa)” que conta com as atuações de Robert De Niro e Zac Efron. Não que o filme seja de todo ruim, mas bom também não é. A banalização do sexo, a erotização do corpo e as piadas de conteúdo sexual perfazem o conteúdo de toda a obra, que obedece fielmente a escola de comédia grotesca norte-americana, ou o comum besteirol.

Não era de se esperar algo surpreendente. O filme é dirigido pelo britânico Dan Mazer, que foi roteirista de “Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América” (2006) e “Brüno” (2009), além de ter sido um dos produtores de “O Ditador” (2013). Todos estes filmes tiveram a atuação duvidosa do conterrâneo Sacha Baron Cohen.

Roteirizado por John Phillips, “Tirando o Atraso” narra a história de Jason Kelly (Efron), que uma semana antes de casar com sua noiva judia Meredith Goldstein (Julianne Hough), é obrigado a partir em viagem com seu avô Dick Kelly (de Niro) que tinha ficado viúvo e precisava visitar um velho amigo em uma cidade distante. A aventura dos dois acontece em um simpático mini cooper rosa.

Efron traz a tela o típico clichê do “mauricinho playboyzinho bem-nascido”. Rico, advogado, trajando roupas caras (e um pouco questionáveis, convenhamos), com cabelos na base do gel e topetinho, ele é, por vezes, apelidado de “menina lésbica”, já que a pele macia e a forte tonalidade azul dos olhos contrastam com sua real masculinidade.

Acontece que o “vovô Dick”, na verdade, é um picareta. A intenção do pobre velhinho é curtir “a nova vida de solteiro” ao lado do neto. Ao invés de atravessarem os Estados Unidos para visitar um ex-combatente de guerra, eles conhecem em uma lanchonete o trio de estudantes Leonore (Aubrey Plaza), Shadia (Zoey Deutch) e Bradley (Jeffrey Bowyer-Chapman): a tarada, a certinha e o gay, respectivamente.

A tríade está prestes a se formar na faculdade. Leonore tem como objetivo transar com um calouro, um veterano e um professor antes de sair do ensino superior (é por isso que Dick se apresenta como professor). Shadia é uma aprendiz de fotografia e tem sonhos ousados, como rodar o mundo e registrar as mudanças climáticas. Bradley é só um elemento no filme que não tem função alguma.

Shadia, em outra época, estudou fotografia com Jason e isso acaba os aproximando. Em pouco tempo, avô e neto mudam o trajeto e acabam pousando em Daytona Beach, litoral da costa americana, conhecido por ser frequentado por moçoilas e rapazotes. É a partir de então que muitas loucuras são encaradas pelos protagonistas.

Polêmicas

“Tirando o Atraso” também brinca com questões sérias que são temas de discussão nos Estados Unidos, como a campanha de desarmamento na Flórida, a contenção do Estado Islâmico, a falta de instrução da polícia local norte-americana, o discurso racista e de gênero, além, é claro, da promoção das drogas em alguns centros urbanos.

O filme ainda traz cenas ousadas. Em vários momentos, Zac Efron aparece seminu. Robert De Niro demonstra estar completamente à vontade, mas suas aparições são as que causam maior constrangimento no público. A pergunta é: como um ator da envergadura de Robert De Niro (vencedor de dois Oscars e diversos prêmios importantes) aceita interpretar o papel de um senhor idoso tarado sexual?

A prova do humor grotesco é perceptível na cena em que Efron está seminu na praia e esconde o órgão genital apenas com uma “abelhinha de pelúcia” (a mascote do time de lacrosse de uma universidade). Uma criança se aproxima e tenta agarrar a abelha e os movimentos simulam uma cena de sexo. Isso é totalmente abusivo até para um filme de comédia desses do tipo de “American Pie” e companhia.

Apesar de tudo, o filme é capaz de provocar risadas na plateia. Até aquelas típicas “gargalhadas nervosas” oriundas de cenas que nos causam certo desconforto. No final das contas, “Tirando o Atraso” ainda pode gerar uma reflexão na juventude diante do conflito de gerações. Será que as nossas escolhas são próprias ou decididas pelos pais? Jason é um rapaz que cresceu sendo marionete do pai (Dermont Mulroney) e encara o conflito de viver ou não a vida que ele queria para si. O que o filme não deixa claro é se as decisões que ele tomou foram geradas por ele, pelo pai ou pelo avô.

Saiba mais

“Tirando o Atraso” está em cartaz no CINESYSTEM SÃO LUÍS. Sala 3. Sessão (dub): 21h50.

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