COMENTÁRIO

Drama das drogas retratado em filme

"Metanoia", primeira produção da Cia de Artes Nissi, descreve o drama de famílias que enfrentam o vício do crack; longa-metragem traz a participação dos atores Caio Blat, Solange Couto e Silvio Guindane

Italo Stauffenberg/ Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h58
Cena do filme "Metanoia"; obra aborda questões como o vício das drogas e recuperação
Cena do filme "Metanoia"; obra aborda questões como o vício das drogas e recuperação (Metanoia)

É louvável a iniciativa da Companhia de Artes Nissi em realizar um filme que aborde um assunto tão debatido, mas tratado com descaso pelo poder público: as drogas. “Metanoia - Mães de Joelhos, Filhos de Pé”, primeira grande produção do grupo de teatro Jeová Nissi em parceria com a 4U Filmes, narra a história de um rapaz que enfrenta a dependência de crack desde a sua iniciação até o período de desintoxicação. O nome que dá título ao filme vem do grego metanoien e significa mudança de mente, transformação.

O filme foi gravado em grande parte na Cracolândia e no Jardim Ângela, em São Paulo. Lá na Zona Sul da capital paulista, Eduardo (Caíque Oliveira), um rapaz de aparentemente 25 anos, vive com Solange (EinatFalbel), sua mãe. Ela o criou sozinha desde pequeno. Apesar de já manter contato com a maconha, Eduardo não se considera viciado até conhecer Jeff (Caio Blat), um playboy que oferece crack. Num estalar de dedos, o rapaz sofre sua primeira transformação. De um filho obediente torna-se agressivo.

Nem com a morte de Jeff (isto não é spoiler), Eduardo deixa o vício, pois como ele mesmo diz “aquela pedra [o crack] já estava dentro de mim”. A partir de então, ele começa a vender objetos pessoais, pertences da mãe e inicia uma série de assaltos a mão armada. O rapaz alegre e espontâneo agora é sujo, viciado e morador de rua.

Pecados - Por ser ambientado em uma zona periférica de São Paulo, o personagem Eduardo é cheio de gírias, o que pode levar o expectador de outras localidades do Brasil a certo desconforto. Contudo, é interessante a forma como o diretor Miguel Nagle descreveu este universo. Ele, que divide o roteiro com Caíque Oliveira, evita os clichês religiosos, mas peca por apresentar uma sequência narrativa não-linear em que não fica perceptível o que é passado e presente. As cenas em que Eduardo está preso em um quarto fechado por grades e suas atividades anteriores não sofrem nenhuma quebra cronológica ou sinalização do que está acontecendo.

Curiosamente, por viver em um bairro tipicamente violento e que sofre influência do tráfico de drogas, Eduardo não ficou refém dessas substâncias ilícitas a partir do relacionamento com moradores da comunidade, mas por alguém estranho aquela zona. O que, de fato, não deixa de acontecer em muitas famílias da periferia. Mas não há só esta falha. A situação do personagem central não é tratada como um caso de saúde pública, pois não há intervenção do poder público para resolver o problema. Ele sequer é citado. Isto se dá em virtude da escolha adotada pelos roteiristas que, por serem cristãos, recorreram a espiritualidade como forma de “salvação” ou “transformação” de Eduardo.

Salvação - Uma das cenas mais brilhantes do filme foi protagonizada por Solange Couto e Silvio Guindane. Os dois se reencontraram depois de 14 anos. Em 2001, eles viveram a dupla Dona Jura e Basílio na novela O Clone (Rede Globo). Desta vez, na tela do cinema, eles interpretam Clara e Cadu, mãe e filho, respectivamente.

O momento é de extrema emoção, já que Clara é uma mãe que não aceita a condição do filho. Ele abandonou a família para residir na Cracolândia. Solange Couto, que na época da gravação estava bem gordinha, nos constrange com sua atuação forte e comovente. Os diálogos são dilacerantes, pois só quem passa ou já passou por uma experiência como esta sabe o quão angustiante é ter um filho, parente ou amigo a mercê das drogas. Em um momento, ao ser orientado por Clara para que deixe de se matar com o crack, Cadu se compara a um morto e adverte: “Como é que se mata alguém que está morto?”

“Metanoia - Mãe de Joelhos, Filhos de Pé” é um filme cristão. Ele foi vencedor de oito prêmios no II Festival Nacional de Cinema Cristão, incluindo melhor filme. Para ser lançado, Caíque e parte da equipe da Cia de Artes Nissi arrecadaram cerca de R$ 900 mil com a venda de trufas, CDs, DVDs, camisas e outros utensílios da companhia.

Parte da renda arrecadada com a exibição do filme será destinada à construção de uma clínica para tratamento de dependentes químicos. Em um vídeo que circula pelas redes sociais, Caíque Oliveira afirma que o projeto Metanoia não acabará após o lançamento nos cinemas. “O objetivo dessa obra é construímos uma clínica de tratamento para artistas usuários da droga. Queremos ajudar a recuperar a essência desses artistas. Cantamos ‘meus heróis morreram de overdose’, mas até quando teremos que perder pessoas tão preciosas por causa das drogas?”, questionou.

Na semana de estreia, o filme foi exibido em 48 salas de cinema pelo país e teve a melhor média de público por sala de um filme nacional de estreia. Entre os lançamentos daquela semana - oito no total -, “Metanoia” conquistou a segunda melhor média de público. Além disso, a produção alcançou a terceira melhor média de público entre os dez filmes mais assistidos no final de semana passado.

Ficha técnica

Filme: Metanoia

Gênero: Drama

Faixa etária: 12 anos

Sinopse: Eduardo (Caique Oliveira) é mais um em meio aos milhares de usuários regulares e dependentes do crack. Criado na periferia de São Paulo, a boa educação oferecida por sua mãe, Solange, não o impediu de ficar preso no mundo das drogas. Ele fica perdido em meio à autodestruição, enquanto Solange tenta desesperadamente salvar o filho do vício.

Em exibição: No CENTERPLEX. Sala 6. Sessões. 16h40 e 18h30. No CINÉPOLIS. Sala 2. Sessões. 14h40, 17h30 e 20h.

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