COMENTÁRIO

“Cidades de Papel” conquista pela simplicidade e força da amizade

Livro adaptado para o cinema do escritor John Green tem pequenas alterações no roteiro, mas cativa público de todas as idades; filme é estrelado por Nat Wolff e a modelo Cara Delevingne

Italo Stauffenberg

Atualizada em 11/10/2022 às 12h56

Engana-se quem pensa que adolescentes não têm histórias para contar. E justamente contando uma aventura por trás da outra que o escritor norte-americano John Green traz para os cinemas a segunda adaptação de seus livros. Desta vez, “Cidades de Papel” chega às telonas com uma difícil missão: superar o enorme sucesso de bilheteria de “A culpa é das estrelas”, primeiro livro adaptado de Green, que foi visto por mais de seis milhões de brasileiros no ano passado.

Ao contrário de seu antecessor, “Cidades de Papel” não é necessariamente um filme de romance, mas um misto de aventura, suspense e, é claro, comédia. Estrelado por Nat Wolff e Cara Delevingne, a adaptação tem como cenário o fim do colegial e as incertezas acerca do futuro que permeiam a cabeça de todo adolescente nessa época.

A trama começa na infância quando Margo Roth Spiegelman (Hannah Alligood) se muda para Jefferson Park e vai morar em frente à casa de Quentin Jacobsen (Josias Cerio). A partir de então, os dois nutrem uma grande amizade e Q (como chamado pela família e amigos) apaixona-se perdidamente pela nova vizinha.

Imediatamente os dois envolvem-se na primeira aventura: eles são as primeiras pessoas a encontrarem o corpo de um homem que cometeu suicídio. Esse caso transforma a vida de Margo, mas passa despercebido por Q, que prefere continuar sua vida pacata e sem muitas alterações.

Eles crescem, mas a amizade entre os dois diminui tanto que já não se falam mais no colegial. Contudo, Quentin (agora interpretado por Nat Wolff) sempre cativou o amor platônico pela vizinha. De repente, Margo (Cara Delevingne) reaparece na janela de Q e o convida a cometer “nove coisas” que seriam, na verdade, planos de vingança contra seu namorado e suas duas melhores amigas.

Quentin, que não é acostumado a mudar de rotina, vê-se obrigado a aceitar o convite só para estar um pouco mais ao lado de Margo. Em uma noite, eles cometem vários “delitos”, e isso reascende a paixão, antes escondida por Q. Para ele, na manhã seguinte, quando poderia revelar a ela seu grande amor, seria o grande dia de sua vida.

Contudo, Margo não reaparece na escola nos próximos dias. A atitude da garota desperta a fúria dos próprios pais, que se recusam a pedir que a polícia a procure, já que ela fugiu em outras oportunidades. Só que esses “sumiços” de Margo eram planejados e ela sempre deixava pistas. Desta vez, elas foram direcionadas a Quentin, que não pensou duas vezes em chamar seus dois melhores amigos, Ben (Austin Abrams) e Radar (Justice Smith) para lhe ajudar na empreitada.

Os três amigos se juntam a Ângela (Jaz Sinclair), namorada de Radar, e Lacey (Halston Sage), melhor amiga de Margo, e vão atrás dela em uma viagem maluca e improvisada pelas estradas dos Estados Unidos antes do baile de formatura. Detalhe, durante essa viagem há uma surpresinha para os fãs de John Green.

Mudanças – O roteiro de “Cidades de Papel” é assinado por Scott Neustadter e Michael H. Weber, os mesmos de “A culpa é das Estrelas” e que também farão o de “Quem é você, Alasca?”, próximo livro de John Green que será adaptado para os cinemas. Mesmo com apontamentos do próprio Green, que indicou o Nat Wolff para protagonizar o filme, “Cidades de Papel”, que tem direção de Jake Schreier (Frank e o Robô).

Três pontos destoam do livro: o homem morto que marcou a história dos personagens principais; a ausência de Margo; e o baile de formatura.

No filme é praticamente silenciada a importância do cadáver encontrado por Margo e Quentin na infância. É por conta deste fato que toda a história se destrincha no livro. Abrandá-lo seria o mesmo que levar toda a trama para outro sentido. O que, de fato, aconteceu.

Outro ponto que foi suavizado pelos roteiristas foi a relevância de Margo em toda a história. No livro, a personagem é enigmática, aventureira e venerada por todos os alunos da escola. Enquanto que, no filme, ela é só uma menina que não sabe o que quer da vida. Cara Delevingne, talvez pela sua pouca experiência em filmes, apresentou uma Margo cheia de caras e bocas (resquícios de sua vida de modelo) e até sem vida. Ela quase não aparece no longa-metragem e, das poucas cenas em que surge, não causa aquela “paixão” no público. Para os leitores de John Green, Margo Roth Spiegelman é uma das suas melhores personagens.

Por fim, o baile foi totalmente deixado de lado no filme. Assim como os outros eventos citados acima, que são de extrema importância no livro, o baile é a situação que move toda a narrativa. O baile, no livro, é odiado com veemência por Quentin, que não se sente obrigado a prestigiá-lo. Já para seus amigos, Ben e Radar, a cerimônia é um “acontecimento histórico”, já que ela representa o fim de um ciclo. É que depois da festa cada um vai para uma faculdade diferente.

Em sua recente passagem pelo Brasil, John Green declarou que achou o filme “até certo ponto” melhor que o livro. Isso por que algumas mudanças feitas pela dupla de roteiristas foram muito bem sucedidas. Uma delas (e aqui não é escrito spoiler, pois o próprio trailer do filme confirma) é que a Ângela ganhou maior participação, o romance com Radar foi mais explorado e ela passou a integrar o time de investigadores liderados por Quentin.

Nesse ponto, “Cidades de Papel” se mostra um excelente filme sobre a força da amizade. Assim como quem já passou por essa fase da vida, a adolescência é um momento crucial na vida de todo ser humano e Green dialoga bem com esse público sobre os afãs dessa época. O trio de amigos funciona bem e cada um se respeita nas suas dificuldades, mesmo que, em algumas vezes, Quentin, por querer encontrar Margo de qualquer forma, tome atitudes um pouco egoístas.

Atuações – Uma das maiores preocupações dos fãs de John Green era se a modelo Cara Delevingne daria conta do recado. E, para não ser muito injusto, ela não deu. A recente atriz não funcionou bem no papel e perdeu a essência da Margo do livro. Cogitou-se a atriz AnnaSophia Robb para assumir o papel. Talvez, se assim tivesse acontecido, a personagem do filme poderia ter se aproximado a do livro.

Enquanto isso, Nat Wolff foi além do esperado. O ator soube representar na dose certa toda aura de um jovem nerd, tímido e que sofre por esconder seu amor platônico pela vizinha. Sem dúvida alguma, Wolff mostrou que é um dos melhores atores teens da nova geração de Hollywood.

Austin Abrams e Justice Smith também estão bem em seus papeis. Cada um representando estereótipos de adolescentes. O primeiro, que se acha o “pegador”, mas não passa de um viciado em videogames e fala bobagens, e o último, fissurado em internet e o mais “racional” dos amigos.

A atriz Halston Sage também surpreendeu em sua atuação, já que ela interpretou uma menina que sofre por ser bonita demais e acha que todo mundo a considera menos inteligente por conta da beleza.

Outro detalhe importantíssimo no filme é a trilha sonora. Produzida por John Debney, a trilha conta com a participação de “Smile”, de Mikky Ekko, “To the Top”, de Twin Shadow, “Search Party”, de Sam Bruno, além de “Look Outside”, da banda Nat & Alex Wolff, da qual o protagonista do filme é cantor.

“Cidades de Papel” é um filme sobre amizade, aventura e, na sua simplicidade, mostra que nem sempre as pessoas são aquilo que aparentam ser. Essa, sem dúvida alguma, é a principal lição que John Green deixa para seu público.

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