COMENTÁRIO

Em formato de cinema, eles lacraram!

Turma de “Vai que Cola: O Filme” consegue tirar boas risadas em texto que narra os conflitos sociais da população carioca; filme já foi visto por mais de 1 milhão de espectadores

Italo Stauffenberg/O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h54
Cena do filme "Vai que cola"
Cena do filme "Vai que cola" (Vai que cola)

Não há como negar. Paulo Gustavo é o humorista mais badalado do país nos últimos quatro anos. Todo projeto que ele participa vira sucesso. Foi assim com os filmes “Minha Mãe é Uma Peça” (2013) e “Os Homens são de Marte... e é pra lá que eu vou” (2014), as comédias teatrais “Minha Mãe é Uma Peça”, “Hiperativo” e “220 Volts”, além dos programas de televisão no canal Multishow. Um desses enormes sucessos de audiência é o sitcom “Vai Que Cola”, que está prestes a entrar em sua terceira temporada na grade daquele canal. Enquanto o seriado não estreia, a turma engraçada do Méier foi parar no cinema com um filme que não consegue deixar ninguém sério durante 100 minutos.

Mantendo a mesma linha do sitcom, “Vai Que Cola: O Filme” tem como pano de fundo os conflitos sociais da população do Rio de Janeiro: Zona Norte x Zona Sul, pobreza x riqueza, mas claro, com boas doses de humor. É óbvio que aqui também estão inseridos os clichês. A adaptação, dirigida por César Rodrigues (“High School Musical: O Desafio”), começa apresentando Valdomiro Lacerda (Paulo Gustavo), um malandro que conquistou na surdina um confortável apartamento de cobertura em um requintado edifício em frente à praia do Leblon. Em questão de segundos, sua vida boa vira do avesso, pois ele cai no próprio golpe.

Desesperado, Valdomiro encontra abrigo na pensão da Dona Jô (Catarina Abdalla), uma simpática e batalhadora moradora do Méier, subúrbio do Rio de Janeiro, localizado na Zona Norte. Para manter o estabelecimento, ela vende quentinhas pela vizinhança e sustenta “a pão de ló” sua preguiçosa filha Jéssica (Samantha Schmutz), uma adolescente que não gosta de estudar, mas sonha em ser famosa. Ela namora o Máicol (Emiliano D’Ávila), um rapaz pouco inteligente, que conquista o público pelo carisma.

A pensão também é habitada por Terezinha (Cacau Protásio) e Velna (Firorella Mattheis), uma morena e uma loira, uma gorda e outra magra, uma brasileira e uma “gringa”, mas que compartilham pontos em comum: homens e farras. Ferdinando (Marcus Majella), o zelador (perdão, o concierge da pensão, como ele prefere ser apresentado) é um dos personagens mais engraçados de toda a história. Caricato, ele tem um dialeto próprio do mundo gay e gosta de fazer performances bizarras de várias cantoras pop e tem paixão por Barbra Streisand. Por fim, a pensão se completa com Seu Wilson (Fernando Caruso), um eletricista que mantém uma paixão platônica por Dona Jô.

Adaptação - O filme gira em torna do fracasso profissional (se assim podemos descrever) de Valdomiro. Após perder todos os seus bens e ser procurado pela polícia, ele assume uma vida pacata no Méier, mas como tem a boca grande, não deixa de tecer comentários maliciosos aos moradores da pensão, que segundo ele são bregas e pobres, muito pobres. Um belo dia, Andrada (Márcio Kieling) procura Valdomiro para lhe devolver tudo o que ele havia perdido. Ambicioso, o malandro não pensa duas vezes em voltar para a vida boa na Zona Sul.

Depois de uma forte chuva, a pensão é interditada pela Defesa Civil e os moradores são obrigados a sair do local. A solução é morar na cobertura de Valdomiro. É aí que toda a história se destrincha. Transportados em uma Kombi (modelo da década de 80), a trupe do Méier chega completamente carnavalesca a orla carioca. Numa referência ao filme “Priscila, a Rainha do Deserto”, Ferdinando vem em cima da van imitando a icônica passagem de Adam/Felicia (Guy Pierce) pelo deserto australiano. É de “morrer de rir, veado!”

E é nas referências que o filme se encaixa. Numa tentativa de “zoar” geral, são citados Eike Batista, Xuxa Meneghel, Bruna Marquezine, e Luiza Marilac, que há alguns anos viralizou na internet com um vídeo esnobando luxo, bebendo champanhe e banhando em uma piscina quando estava de passagem pela Espanha.

Subsidiados no Leblon, a festeira turma do Méier aos poucos mostra que não consegue abandonar os costumes da Zona Norte. Eles “cafonizam” o luxuoso apartamento com uma decoração questionável, preferem a televisão de caixa a uma com tela de LED, vão à praia e passam vexame, falam alto, vestem roupas espalhafatosas, usam maquiagens fortíssimas, mas não perdem a alegria. Tudo isso enquanto Valdomiro tenta saldar sua dívida tentando vender o apartamento para outro morador do prédio.

A nova cilada em que Valdomiro se envolve é pura aventura. E não há como pensar em “traminha” sem a pitada de humor clássica de Paulo Gustavo. Em “Vai Que Cola: O Filme”, ficção e realidade convergem num mesmo plano. Tem hora que você não sabe se quem está falando é o ator ou a personagem. Na tentativa de fazer o público rir nem que seja com piadas e situações clichês, o filme se sai bem. Não é à toa que já levou mais de 1 milhão de expectadores aos cinemas.

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