A tampa e a panela

Atualizada em 11/10/2022 às 12h54

Quem curte automobilismo certamente assistiu a “Rush – No limite da emoção”, filme em que é narrada a interessante rivalidade entre os pilotos campeões mundiais James Hunt e Niki Lauda nos anos 1970. Um duelo que acabou extrapolando os limites impostos pelos circuitos. Tornou-se uma questão pessoal. Guardadas as devidas diferenças, foi o que aconteceu com Ayrton e Prost nos tempos áureos da McLaren.

Lembro de um velho ditado: “Toda panela precisa da sua tampa”. Penso nisso agora porque depois do Grande Prêmio da Rússia Lewis Hamilton declarou para quem estivesse a fim de ouvir que o único rival à sua altura é o ferrarista Sebastian Vettel.

Faz sentido. Hamilton está a uma ou duas corridas de se consagrar tricampeão da categoria a que pertence. Com toda a sua inegável competência, Vettel conseguiu amealhar impressionantes quatro títulos com a RBR. Em qualquer ramo de atuação a pessoa tem de se espelhar em quem é melhor naquilo que faz e tentar superá-lo. Motivação válida, assim creio. Se você acrescentar a questão da pura e aplicada desavença particular, vamos dizer que vem com o pacote. Um tempero a mais para a rixa.

Semana passada, li a respeito de como Damon Hill (lembram dele?) venceu a “batalha dos herdeiros” e conquistou sem campeonato mundial. Filho do lendário Graham Hill, Damon superou, em 1996, o canadense Jacques Villeneuve – cujo pai, Gilles, certamente dispensa explicações e definições.

E Jacques era parada dura. O famoso osso duro de roer. Afinal, 1995 fora um ano especial em sua vida e sua carreira, por ter sido campeão da Fórmula Indy e das 500 Milhas de Indianápolis. Transferido para a F-1 no ano seguinte, disputou o campeonato com Damon até a última prova, no Japão. Uma vez que quem espera (quase) sempre alcança, obteve o título em 1997, o terceiro até hoje a erguer o caneco nas duas categorias. Os outros dois? “Só” Emerson Fittipaldi e Mario Andretti. O que valorizou e muito a conquista de Hill e tornou memorável a disputa de 1996.

Por assim dizer, Villeneuve foi a tampa da panela de Damon. E vice-versa. Como Prost foi para Senna. Como o Coringa é para o Batman. Como Lex Luthor é para o Superman.

Já em 2015, a rivalidade não se confirmou. O passeio de Hamilton sobre Nico Rosberg foi tranquilo. Por isso Hamilton foi buscar em Vettel o “adversário ideal” para 2016. É como se dissesse para seu companheiro de equipe: “Toda panela tem sua tampa. Agora, quem mandou você nascer pra frigideira?”.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.