SÃO LUÍS - O Sampaio Corrêa anunciou, em nota oficial divulgada na noite desta sexta-feira (17), o afastamento do zagueiro Allan Godói, que foi denunciado pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) e se tornou réu na investigação de uma suposta manipulação de resultados em jogos da última rodada do Campeonato Brasileiro Série B de 2022. De acordo com a publicação da Bolívia Querida, o defensor teve seu contrato suspenso temporariamente, contando com amplo direito a defesa, tanto na esfera criminal quanto na trabalhista.

Saiba mais: Sinal, pênalti e cobrança: veja detalhes da investigação sobre zagueiro do Sampaio Corrêa e quatro ex-atletas do clube

"Diante da gravidade das acusações e das provas apresentadas, e em respeito aos princípios éticos e morais que norteiam o Sampaio Corrêa, informamos que decidimos afastar e suspender temporariamente o contrato do atleta Allan Godói. O Sampaio Corrêa não compactua com qualquer atividade ilícita ou que vá contra os princípios do esporte. Portanto, o clube adotará todas as medidas legais cabíveis", diz um trecho da nota divulgada pelo Sampaio Corrêa (confira na íntegra no final da matéria).

Em denúncia apresentada na quinta-feira (16), o Ministério Público de Goiás (MP-GO) deu detalhes sobre a participação de cinco atletas que defenderam o Sampaio Corrêa no Campeonato Brasileiro Série B de 2022 em uma suposta manipulação de resultados em jogos da última rodada da competição, com o objetivo de favorecer apostadores esportivos. De acordo com as investigações, os jogadores são os zagueiros Allan Godói e Paulo Sérgio, o lateral-direito Mateusinho, o volante André Luiz e o atacante Ygor Catatau.

A manipulação teve início com Luís Felipe Rodrigues de Castro, integrante do grupo de apostadores, entrando em contato com Ygor Catatau para que algum atleta do Sampaio Corrêa cometesse um pênalti durante o primeiro tempo do jogo entre o Tricolor e Londrina, no dia 5 de novembro, pela 38ª e última rodada da Série B. Luís Felipe prometeu um pagamento de R$ 150 mil, sendo que R$ 10 mil foram pagos antecipadamente como "sinal": de acordo com dados obtidos pelo MP-GO, o dinheiro foi depositado na conta do zagueiro Paulo Sérgio, que foi relacionado para a partida, mas não entrou em campo.

Na partida contra o Londrina, Mateusinho foi titular do Sampaio Corrêa e cometeu um pênalti aos 19 minutos do primeiro tempo, derrubando o meia Mossoró na grande área. Inicialmente, a arbitragem não assinalou a falta, o lance seguiu, e Gabriel Poveda marcou um gol a favor do Sampaio, porém, o árbitro Felipe da Silva Gonçalves Paludo anulou a jogada e marcou o pênalti cometido por Mateusinho após consulta ao árbitro de vídeo (VAR). A cobrança de Carpini, no entanto, foi defendida pelo goleiro Luiz Daniel. Na sequência da partida, o Londrina abriu o placar, mas o Sampaio Corrêa virou o jogo e venceu por 2 a 1.

Depois da partida, Mateusinho, Paulo Sérgio e Ygor Catatau passaram a cobrar os apostadores sobre os R$ 140 mil restantes. As conversas no grupo de WhatsApp, que foi criado por André Luiz e contava ainda com Allan Godói, foram descobertas após a Polícia Civil apreender o celular de Mateusinho e fazer uma análise preliminar.

No grupo, os cinco jogadores então vinculados ao Sampaio Corrêa conversaram sobre a expectativa de receber o dinheiro, a existência da dívida e como seria feita essa cobrança. Ygor Catatau fez o contato com Luís Felipe Rodrigues e realizou diversas cobranças, porém, o apostador explicou ao atacante que o êxito completo do esquema na última rodada da Série B dependia de um pênalti em um jogo do Vila Nova, o que não ocorreu. Luís Felipe disse a Ygor Catatau que o grupo de apostadores teve um elevado prejuízo, estimado em R$ 492 mil, e que esperavam receber esse valor de um jogador do time goiano para poder quitar a dívida.

Outros clubes

Também nesta sexta-feira (17), duas equipes que contam com ex-atletas do Sampaio Corrêa se manifestaram sobre a denúncia do MP-GO. O Ituano confirmou o afastamento imediato do volante André Luiz e disse que os assessores jurídicos estão analisando o caso. 

“O Ituano F.C. reforça seu mais absoluto repúdio a tentativas de corromper o futebol, comprometendo-se a apoiar sempre autoridades e entidades desportivas, no vigoroso combate a esta grave ameaça”, diz a nota do Galo de Itu.

O Operário Ferroviário, por sua vez, optou por manter o zagueiro Paulo Sérgio no elenco. Em entrevista à Rádio Clube, de Ponta Grossa, o presidente do Grupo Gestor, Álvaro Góes, disse que o técnico Rafael Guanaes tem toda a liberdade para manter o defensor na equipe e destacou que o Fantasma só vai tomar providências em caso de condenação.

“O presidente Álvaro não afasta ninguém, menos que seja por indisciplina ou algo que esteja errado dentro do clube. Ele é réu, está no processo, e quem precisa decidir se vai jogar ou não é o Guanaes. Se ele jogar e afetar, o Guanaes vai trocar. Nós não vamos tomar posição nenhuma. Posição do clube é que ele é réu e não está condenado. Chamamos ele para conversar e a nossa análise pela história que ele contou é que ele é inocente. Vamos esperar que a Justiça tome (a decisão) daquilo que for a realidade. Se ele realmente dever, ele tem que pagar. A gente conversou com ele sobre o assunto e se for condenado, nós vamos tomar nossas atitudes”, comunicou Álvaro Góes.

Denúncia

Allan Godói, Paulo Sérgio, Mateusinho, André Luiz e Ygor Catatau foram denunciados pelo crime de corrupção ativa em competições esportivas, previsto no Art. 41-C do Estatuto do Torcedor, com pena de prisão de dois a seis anos e multa para quem "solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva ou evento a ela associado". Os denunciados terão 10 dias para apresentarem defesa.

Além dos cinco jogadores que estavam no Sampaio Corrêa em 2022, o MP-GO denunciou seis apostadores e outros três atletas: os meio-campistas Romário e Gabriel Domingos, ligados ao Vila Nova, e o defensor Joseph, que defendeu o Tombense na última Série B e está afastado do clube desde a revelação do caso. As investigações apontam que o grupo especializado em fraudes relacionadas a apostas esportivas atuou em pelo menos três partidas da última rodada da Série B de 2022: Sampaio Corrêa 2 x 1 Londrina, Vila Nova 0 x 0 Sport, e Criciúma 2 x 0 Tombense.

Investigação começou ainda em 2022

O MP-GO iniciou a investigação de manipulação de resultados na Série B em novembro de 2022, poucos dias após o encerramento da competição, graças a uma denúncia de Hugo Jorge Bravo, presidente do Vila Nova. No dia 14 de fevereiro, a Operação Penalidade Máxima foi deflagrada com mandados de busca e apreensão: na ocasião, o único ex-jogador do Sampaio Corrêa a ser alvo da operação foi o lateral Mateusinho, que já tinha saído da Bolívia Querida para defender o Cuiabá. Paulo Sérgio, Allan Godói, André Luiz e Ygor Catatau viraram réus no decorrer do processo, após a investigação apreender o celular de Mateusinho e descobrir conversas do quinteto no WhatsApp sobre o esquema.

Dos cinco atletas que estavam no Sampaio Corrêa em 2022 e foram citados pelo MP-GO na denúncia de manipulação de resultados, apenas o zagueiro Allan Godói continua no clube. Paulo Sérgio está no Operário Ferroviário, Mateusinho acertou transferência para o Cuiabá, André Luiz fechou com o Ituano, e Ygor Catatau foi para o Irã, onde defende o Sepahan.

Confira a nota completa do Sampaio Corrêa sobre o afastamento de Allan Godói:

"O Sampaio Corrêa Futebol Clube vem a público esclarecer sua posição em relação às recentes informações de que cinco de seus atletas (no ano de 2022) estariam, supostamente, envolvidos em crimes de manipulação de resultados em troca de dinheiro durante a última Série B. Dos cinco jogadores mencionados (Mateusinho, Catatau, Allan Godoi, Paulo Sergio e André Luíz), apenas o zagueiro Allan Godoi integra o elenco atual.

Diante da gravidade das acusações e das provas apresentadas, e em respeito aos princípios éticos e morais que norteiam o Sampaio Corrêa, informamos que decidimos afastar e suspender temporariamente o contrato do atleta Allan Godoi.

Ressaltamos que, tanto no âmbito criminal quanto no trabalhista, o atleta terá garantido o contraditório e a ampla defesa, conforme preceitua a legislação.

O Sampaio Corrêa não compactua com qualquer atividade ilícita ou que vá contra os princípios do esporte. Portanto, o clube adotará todas as medidas legais cabíveis.

Reiteramos nosso compromisso com a ética e o respeito às regras do futebol, bem como com nossos torcedores e todos os profissionais que trabalham e lutam pelo crescimento e sucesso do Sampaio Corrêa Futebol Clube".

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