Julgamento

STJD bane Ygor Catatau do futebol e suspende Paulo Sérgio e Mateusinho por dois anos; veja sentenças

Cinco ex-atletas do Sampaio Corrêa foram julgados nesta terça-feira (6), por suposta participação em esquema de manipulação de resultados.

Gustavo Arruda / Imirante Esporte

- Atualizada em 06/06/2023 às 21h48
O zagueiro Paulo Sérgio, ex-Sampaio Corrêa, durante julgamento no STJD.
O zagueiro Paulo Sérgio, ex-Sampaio Corrêa, durante julgamento no STJD. (Raphael Zarko / ge)

RIO DE JANEIRO - A 5ª Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) realizou, na tarde desta terça-feira (6), o julgamento dos cinco ex-atletas do Sampaio Corrêa acusados de participação em um suposto esquema de manipulação de resultados em jogos da última rodada do Campeonato Brasileiro Série B de 2022, com o objetivo de favorecer apostadores esportivos. O atacante Ygor Catatau foi banido do futebol, o lateral-direito Mateusinho e o zagueiro Paulo Sérgio foram suspensos por 720 dias, o volante André Luiz recebeu uma multa de R$ 50 mil e o zagueiro Allan Godói foi absolvido das acusações. Todos os processos cabem recurso no Pleno do STJD.

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O atacante Ygor Catatau, atualmente no Sepahan, do Irã, foi apontado pelos auditores do STJD como intermediário do quinteto que defendia o Sampaio Corrêa em 2022 e participava do esquema de manipulação de resultados. Por causa disso, Catatau recebeu, por unanimidade, a maior punição do grupo: além de ser banido do futebol, o atacante terá de pagar uma multa de R$ 70 mil.

Por conta de proibições de uso de alguns aplicativos de internet do Irã, Ygor Catatau não prestou depoimento no Ministério Público de Goiás (MPGO), que iniciou a investigação de manipulação de resultados, e também não compareceu ao julgamento no STJD. O advogado Felipe Macedo, que representou Catatau, afirmou que vai recorrer da pena, mas, por ora, o atacante pode seguir a carreira fora do Brasil, já que uma punição internacional depende de uma notificação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para a Federação de Futebol da República Islâmica do Irã. Caso receba essa solicitação, a Federação do Irã poderá decidir se aplica ou não a pena a Ygor Catatau.

O zagueiro Paulo Sérgio, que hoje joga no Operário Ferroviário, recebeu, por maioria dos votos dos auditores do STJD, uma suspensão de 720 dias (dois anos) do futebol profissional e ainda terá de pagar uma multa de R$ 70 mil. Antes da pena, Paulo Sérgio prestou depoimento ao STJD, onde negou participação em esquema de manipulação esportiva e ressaltou que não estava em campo na última rodada da Série B.

O lateral-direito Mateusinho, que hoje está no Cuiabá e cometeu um pênalti na última rodada da Série B, também foi suspenso em 720 dias e multado em R$ 70 mil, em decisão unânime do STJD. Durante o julgamento, o advogado de Mateusinho citou a presença da mãe do atleta, que teve uma crise de pressão alta, e lembrou a origem humilde da dupla: antes de se profissionalizar, o atleta vendia quentinhas no Centro do Rio de Janeiro.

Já André Luiz, que acertou transferência para o Nam Dinh, do Iraque, após ser dispensado pelo Ituano no início das investigações do MPGO, foi condenado pela maioria dos auditores do STJD a pagar uma multa de R$ 50 mil e não recebeu nenhum tipo de suspensão do futebol. O volante participou do julgamento por vídeo e deu um depoimento sigiloso.

Por fim, os auditores do STJD absolveram o zagueiro Allan Godói, que foi dispensado pelo Sampaio Corrêa quando teve seu nome citado nas investigações do MPGO e atualmente defende o Operário Ferroviário. O STJD considerou as provas insuficientes para apontar a participação do defensor no esquema de manipulação de resultados. Allan Godói esteve presente no julgamento e se emocionou com a absolvição.

Entenda o caso

A manipulação teve início com Luís Felipe Rodrigues de Castro, integrante do grupo de apostadores, entrando em contato com Ygor Catatau para que algum atleta do Sampaio Corrêa cometesse um pênalti durante o primeiro tempo do jogo entre o Tricolor e Londrina, no dia 5 de novembro, pela 38ª e última rodada da Série B. Luís Felipe prometeu um pagamento de R$ 150 mil, sendo que R$ 10 mil foram pagos antecipadamente como "sinal": de acordo com dados obtidos pelo MP-GO, o dinheiro foi depositado na conta do zagueiro Paulo Sérgio, que foi relacionado para a partida, mas não entrou em campo.

Na partida contra o Londrina, Mateusinho foi titular do Sampaio Corrêa e cometeu um pênalti aos 19 minutos do primeiro tempo, derrubando o meia Mossoró na grande área. Inicialmente, a arbitragem não assinalou a falta, o lance seguiu, e Gabriel Poveda marcou um gol a favor do Sampaio, porém, o árbitro Felipe da Silva Gonçalves Paludo anulou a jogada e marcou o pênalti cometido por Mateusinho após consulta ao árbitro de vídeo (VAR). A cobrança de Carpini, no entanto, foi defendida pelo goleiro Luiz Daniel. Na sequência da partida, o Londrina abriu o placar, mas o Sampaio Corrêa virou o jogo e venceu por 2 a 1.

Na conversa de WhatsApp obtida pelo MP-GO, os apostadores Ícaro dos Santos e Bruno Lopez de Moura acompanharam os jogos manipulados. Bruno revela a Ícaro que fechou com Ygor Catatau, e que o atacante fecharia com outro jogador do Sampaio Corrêa. Em conversa com outro interlocutor, eles mencionam que “ficou lindo para o Mateusinho” pois o “cara errou”, referindo-se ao pênalti desperdiçado pelo Londrina.

Depois da partida, Mateusinho, Paulo Sérgio e Ygor Catatau passaram a cobrar os apostadores sobre os R$ 140 mil restantes. As conversas no grupo de WhatsApp, que foi criado por André Luiz e contava ainda com Allan Godói, foram descobertas após a Polícia Civil apreender o celular de Mateusinho e fazer uma análise preliminar.

No grupo, os cinco jogadores então vinculados ao Sampaio Corrêa conversaram sobre a expectativa de receber o dinheiro, a existência da dívida e como seria feita essa cobrança. Os atletas manifestaram, por mais de uma vez, que teriam cumprido com sua parte no esquema ao cometer o pênalti e esperavam receber todo o valor prometido. "Se dá errado, nossa vida tava um inferno!", escreveu Paulo Sérgio.

Ygor Catatau fez o contato com Luís Felipe Rodrigues e realizou diversas cobranças, porém, o apostador explicou ao atacante que o êxito completo do esquema na última rodada da Série B dependia de um pênalti em um jogo do Vila Nova, o que não ocorreu. Luís Felipe disse a Ygor Catatau que o grupo de apostadores teve um elevado prejuízo, estimado em R$ 492 mil, e que esperavam receber esse valor de um jogador do time goiano para poder quitar a dívida.

Investigação

O MPGO iniciou a investigação de manipulação de resultados na Série B em novembro de 2022, poucos dias após o encerramento da competição, graças a uma denúncia de Hugo Jorge Bravo, presidente do Vila Nova. No dia 14 de fevereiro, a Operação Penalidade Máxima foi deflagrada com mandados de busca e apreensão: na ocasião, o único ex-jogador do Sampaio Corrêa a ser alvo da operação foi o lateral Mateusinho, que já tinha saído da Bolívia Querida para defender o Cuiabá. Paulo Sérgio, Allan Godói, André Luiz e Ygor Catatau, que também defendiam o Sampaio em 2022, viraram réus no decorrer do processo, após a investigação apreender o celular de Mateusinho e descobrir conversas do quinteto no WhatsApp sobre o esquema.

Dos cinco atletas que estavam no Sampaio Corrêa em 2022 e foram citados pelo MPGO na denúncia de manipulação de resultados, apenas o zagueiro Allan Godói permaneceu no Sampaio Corrêa para a temporada de 2023. A Bolívia Querida, entretanto, decidiu encerrar o contrato com Allan Godói após o andamento das investigações.

Em fevereiro, quando Mateusinho foi alvo da Operação Penalidade Máxima, o Sampaio Corrêa manifestou apoio às investigações, ressaltou que não compactua com fraudes no futebol e cobrou punição aos responsáveis.

Operação Penalidade Máxima

De acordo com as investigações da Operação Penalidade Máxima, grupos criminosos convenciam jogadores de futebol a cometerem lances específicos em partidas para gerar lucro a apostadores em sites do ramo. As propostas chegavam a R$ 100 mil.

Na primeira denúncia, havia a suspeita de manipulação em três jogos da Série B de 2022, incluindo a partida entre Sampaio Corrêa e Londrina, pela última rodada da Segundona, porém, os desdobramentos da operação levaram os investigadores a constatar que o problema era de âmbito nacional e ocorreu nos Estaduais, além da primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

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