Despedida

Última edição

Joaquim Haickel

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Capa do caderno Alternativo
Capa do caderno Alternativo (capa joaquim haickel)

Não me lembro exatamente quando comecei a publicar meus textos no Jornal O Estado do Maranhão. Sei que foi em meados da década de 1980, depois que a nossa revista deixou de circular encartada nele. Acredito que tenha sido em 1986, o que faz com que esteja completando agora, em 2021, 35 anos de colaboração com esse importante veículo de informação e cultura.

Digo isso com grande pesar pelo fato dele a partir de hoje fechar suas portas, desligar suas impressoras e deixar de circular, abrindo uma lacuna intransponível em nossa sociedade.

Em defesa do JEM, poderia dizer que este é um sinal dos tempos, que o avanço tecnológico no setor da comunicação e do jornalismo, nos impõe condições praticamente impossíveis de serem suplantadas. Poderia dizer que já há muito tempo ele, assim como quase todos os jornais, revistas e a imprensa de modo geral é deficitária. Que as empresas que continuam imprimindo seus periódicos, o fazem de forma titânica, lutando contra as maiores concorrências que essa indústria já enfrentou, a avassaladora tecnologia derivada da maciça informatização do mundo contemporâneo.

Imagine se alguém tivesse contado para Gutemberg que sua máquina, a impressora de tipos móveis, invenção que havia sido até muito pouco tempo a maior responsável pelas transformações do mundo, através da informação e do conhecimento que disseminava, algo capaz de igualar pessoas desiguais, instrumento de equidade e arma para se lutar por melhores oportunidades, seria superada em apenas meia dúzia de séculos, por uma maquininha que cabe na palma de uma mão!?...

Nem mesmo o visionário William Randolph Hearst, imortalizado por Orson Wells em “Cidadão Kane” imaginaria que seu império jornalístico, um dia iria enfrentar tamanha adversidade. Que seus jornalistas, mandados para os fronts das guerras não mais precisariam se deslocar para lá, pois correspondentes com um celular seriam capazes de fazer mais e melhor que eles e numa ínfima fração de tempo, a um custo centenas de vezes menor!?

Antes do JEM, jornais muito maiores, pertencentes a conglomerados muito mais ricos e poderosos, situados nos maiores centros financeiros da Terra, fecharam suas portas. Segundo o Google, instrumento de pesquisa mais acessado do mundo, nos Estados Unidos, entre 2004 e 2018, mais de 1.800 jornais deixaram de existir.

O mesmo Google informa que no Brasil muitos grandes jornais deixaram de circular, entre eles o mais destacado e tradicional foi o Jornal do Brasil. Além dele, A Gazeta Mercantil, O Jornal da Tarde, O Estado do Paraná, o Diário do Povo, O Diário do Comércio, O Sul, e o Brasil Econômico, sem contar os milhares de jornais das pequenas cidades do país.

No Maranhão, muitos periódicos também deixaram de circular, como é o caso do Jornal de Hoje, e outros permanecem sustentando o nome apenas para justificar o trabalho de seu proprietário, que normalmente o opera sozinho e nem chega a imprimir uma tiragem justificável.

Conheço a dor que se sente ao fechar um empreendimento como este. Eu editei durante três anos uma revista que começou semanal, passou para mensal e no fim se transformou em devezenquandal, até desaparecer completamente para se fixar apenas em nossas memórias. A Revista Guarnicê.

A Gráfica Escolar, proprietária do Jornal O Estado do Maranhão tentou durante muito tempo mantê-lo ativo, mas um negócio não pode ser tocado apenas com vontade e garra. Ele precisa se manter econômica e financeiramente, coisa que há muito tempo não acontecia, fazendo com que outras empresas do grupo, suprissem seus déficits, o que inviabilizou a continuidade da operação.

O Jornal O Estado do Maranhão chega à sua última edição impressa, mas todos nós sabemos da importância que ele teve no jornalismo maranhense, principalmente como tela de difusão da arte produzida por nossa gente e como caixa de ressonância da cultura de nosso estado.

Minhas últimas palavras, impressas em suas páginas, são de agradecimento a todos aqueles profissionais, das mais diversas funções, que durante todos esses anos trabalharam para fazer com que esse jornal existisse.

Muito obrigado!

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