Artigo

Os reis dos seguidores

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Recentemente me perguntaram se eu era seguidor de alguma celebridade. Eu respondi que não por três motivos: primeiro porque não gosto de entrar em fila, segundo porque não conhecendo nenhuma celebridade, não confio em segui-las e, terceiro, porque no dia em que eu morrer nenhum deles vai se dar ao trabalho de me seguir.

1 - Seguidores, como se sabe, é o nome que se dá a quem se identifica, mediante um mísero toque de dedo, com o que alguém posta em suas redes sociais. Quando se trata de amigos, ou conhecidos, por quem você nutre alguma admiração, essa prática soa até certo ponto, salutar. Trata-se de uma forma, educada, de mostrar empatia. Acho, porém, que sua denominação mais precisa deveria ser algo como ‘compartilhador’, ‘adepto’, ‘solidário’, mas nunca seguidor. A semântica desse termo pressupõe o contrato de uma relação além da trivial.

“Seguir alguém” insinua que você se tonou um discípulo de outro com quem conjuga ideias semelhantes. Acaba tendo uma significância relativa muito forte, especialmente quando você lembra que essa denominação cognominava os apóstolos que seguiram JC, por quem se dispuseram a morrer. Como usar a mesma denominação, paralelizando-as a quem se anuncia seguidor de gente tão medíocre como Faustão, Luan Santana ou Luciano Hulck?

2. O incrível é que essa mania, de seguidores, veio para ficar, as pessoas buscando exibir ostensivamente seu número de seguidores como se fosse uma moeda de apresentação. Dia virá, caro leitor, em que seu número de seguidores estará na sua carteira de identidade, no seu currículo, e até na sua Prova de Vida de aposentado. Em breve, o aposentado que disser que não tem sequer um seguidor não se tornará digno, sequer, de ser considerado vivo. Claro, sem seguidor não passará para a sociedade de um morto-vivo, o que é pior do que morto.

3. Fico imaginando para breve que as obras e realizações dos grandes homens serão deixadas em segundo plano, passando a valer como estímulo investigativo para celebração de suas memórias apenas o número de seguidores que tiveram. Exemplos:

Hitler? Este sim, será considerado um grandíssimo homem, já que foi um grande influenciador das massas. Um algoritmo precisaria ser urgentemente criado para fazer a conversão para os dias atuais, e ele projetaria que, Hitler teria fosse vivo hoje milhões de seguidores; mais até do que Anitta, a atual recordista. Seria então reabilitado nos livros de História.

E Kafka? O grande escritor checo só foi lido depois de morto, o que mostraria sua completa inapetência para angariar seguidores. Ora, quem foi incapaz de ter um seguidor em vida nem merece que um dia seja lembrado.

E quanto a Jesus Cristo? Coitado, esse só teve 12 seguidores em vida e ainda houve um que deu para trás, negando-o. Vivesse hoje estaria fadado a um retumbante fracasso nas suas pregações. Seria fácil concluir que não valeria a pena segui-lo nos dias que correm, quanto mais se repetisse que um justo peca 99 vezes ao dia quando se sabe que, hoje, um justo peca o dobro disso em tempos normais e 50 vezes mais durante uma pandemia.

Se vivesse hoje e dependesse dos seguidores da net para viver, JC nem chegaria a morrer na cruz aos 33 anos. Morreria de fome antes.

José Ewerton Neto

Autor de O entrevistador de lendas

E-mail: ewerton.neto@hotmail.com

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