Artigo

Oitenta anos de reinado

Steffano Silva Nunes

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

Sim, eu confesso. Tenho uma playlist do Roberto Carlos no Spotify. As 30 melhores, pra mim. Desde a infância ele já se conectou ao meu inconsciente com músicas como Lady Laura e aquela outra que falava: Eu quero ter mum milhão de amigos... Mas foi a partir do final de 1981, aos meus 11 anos, que dei mais atenção às suas músicas quando papai, Seu Nunes, e mamãe, Dona Anadir, adentram em casa carregando uma caixa cujo o conteúdo era uma moderna radiola 3 em 1. Tinha rádio, toca-discos e dois toca-fitas, o que permitia gravar do disco e do rádio para a fita-cassete, mas também de uma fita para outra. Passei a abrigar os amigos da rua em incansáveis gravações de fitas todo final de semana. Em cima da caixa veio algo que me chamou muita atenção. Um LP (Long play) de Roberto Carlos que trazia a sua depois consagrada “Emoções” e outra que gostei muito, Cama e Mesa: a toalha que desliza no seu corpo inteiro... De tanto ouvir, Decorei aquele LP.

Desde essa época já o chamavam de Rei. Suas músicas de rima fácil, acompanhadas de uma potente orquestra ao fundo, eram sucesso nas rádios. Impregnavam a mente. Depois fui entendendo que ele começou com uma pegada rock and roll: As Curvas da Estrada de Santos, Quando, Não Vou Ficar, e Quero Que Vá Tudo pro Inferno. Seus oitenta anos completados ontem, 19/04, foram acompanhados de várias fases e muitos temas abordados. Fico pensando que lá em 1971 deve ter causado um certo burburinho sua expressão sobre as relações extraconjugais ao lançar Amada Amante: esse amor sem preconceito, sem saber o que é direito, faz a suas próprias leis...

Cantou a amizade em Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo. O lado místico aparece em Força Estranha e Além do Horizonte. Desde o início, digamos assim, canta a sofrência e as despedidas de forma estilosa. Se destacam: À Distância e O Show Já Terminou. Fala das reconciliações em Desabafo, Um Jeito Estúpido de te Amar e O Portão: quando vi que dois braços abertos me abraçaram como antigamente... O rei sempre foi cobrado para assumir uma postura política, mas ele gosta mesmo é de compor e cantar, o que não o impediu de dar uma estocada no regime militar ao compor em homenagem a Caetano Veloso, que estava no exílio, a famosa Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos: você só deseja agora, voltar pra sua gente... Foi um dos primeiros a inserir a pauta ambiental nas canções: As Baleias, O Ano Passado e O Progresso.

Mas a sua longeva carreira está marcada mesmo é pelo romantismo. Como sempre cultivei uma razoável cabeleira, por vezes recorri à música Detalhes ao perceber que seria abandonado por mais alguma namorada deixando o alerta: se um outro cabeludo aparecer na sua rua e isso lhe trouxer saudades minha, a culpa é sua... Café da Manhã fala de todo um dia de amor e se tornou inesquecível pela sátira de Renato Aragão no programa os Trapalhões. Proposta é uma música maravilhosa: eu te proponho não dizer nada, seguirmos juntos na mesma estrada... Outra nesse estilo é Seu Corpo: e só me encontro, se me perco no seu corpo... Outra vez, Olha e Falando Sério também merecem o mesmo destaque de Os Botões da Blusa: e aquela blusa que você usava, num canto qualquer, tranquila esperava...

No auge de um jantar romântico, a sós, não deixe de ouvir Cavalgada: vou me agarrar aos teus cabelos pra não cair do seu galope... Eu acho que todo mundo gosta de Roberto Carlos por que em algum momento da vida você foi, ou é, ou ainda será uma espécie de Amante À Moda Antiga: que fica olhando o céu de madrugada, sonhando abraçado à namorada...

Parabéns. Que venham mais oitenta.

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