Artigo

A dor da perda

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17

Não é novidade que a vida é feita de ciclos compostos por altos e baixos. Por essa razão, nem sempre as coisas estão do jeito que queremos que estejam. Vamos aprendendo, com o decorrer da nossa caminhada, a enfrentar a dor e a até, de certo modo, esperá-la. Sabemos que, em algum momento, ela irá cruzar o nosso caminho. Afinal, vida perfeita não existe nem em contos de fadas. Ainda assim, nunca imaginamos que presenciaríamos tantas perdas e tantas dores simultaneamente.

Podemos falar em uma escala de dor para as diferentes perdas que o mundo sofreu desde o início da pandemia? Podemos. Todavia, é preciso respeitar todos os que sofrem no momento, independentemente do nível dessa dor.

Há a dor irreparável da perda de uma vida. Um pai, uma mãe, um irmão, amigo, colega de trabalho, ídolo ou alguém que admirávamos. Essa, sem dúvida, é a pior de todas as dores em qualquer momento da nossa existência. E aqui cabe uma observação importante, que, na verdade, é uma dor extra: antes da pandemia, tínhamos, ao menos, a oportunidade de uma despedida mais prolongada, de um momento coletivo de dor que era constituído de abraços, afagos, palavras ditas ao pé do ouvido com uma mão carinhosa tentando transmitir algum conforto por meio das nossas costas. Éramos amparados fisicamente e emocionalmente. Tínhamos alguém ali, sempre perto, até para nos lembrar de comer algo ou para nos ajudar a dormir. Isso, por mais que não amenize a ausência daquele que se foi, pelo menos nos faz sentir menos sozinhos e nos possibilita um tempo maior para processar a perda antes de nunca mais poder ver aquele rosto tão querido.

Hoje, ao perder alguém, o sofrimento é somado à uma dor inédita que é a proibição do velório e do contato físico com a nossa base de afeto. E, infelizmente, a dor da perda não para aqui.

Ainda temos aqueles que perderam dois entes queridos ou mais de uma vez e em questão de dias. É inimaginável que saibamos a dor daqueles que vivenciaram e vivenciam - sim, a pandemia ainda não acabou - essa situação. Nem com todo o esforço de empatia do mundo, conseguiremos sentir um décimo do que essas pessoas sentiram e sentem.

Olhando agora para as demais dores causadas pela pandemia, temos a dor da perda do emprego, da liberdade, do fim do relacionamento que não suportou a quarentena, da perda do direito de ser criança e de poder frequentar a escola, do esfacelamento dos planos futuros e até a dor da perda da sanidade mental.

Temos dores para todos os lados, de todos os tamanhos e de infinita intensidade. A pandemia vai passar, mas a dor da perda sentida neste período tão sombrio da história da humanidade nunca será esquecida.

Dr. Joel Nunes

Secretário municipal de Saúde

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.