Comércio Informal

Desemprego recorde leva comércio ambulante de volta à Rua Grande

Pandemia trouxe o vendedor ambulante novamente para dentro da Rua Grande, principal centro comercial de São Luís; situação do mercado informal na região divide opiniões; Shopping Popular ainda não foi construído

Kethlen Mata/ O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Comércio ambulante invadiu a Rua Grande novamente
Comércio ambulante invadiu a Rua Grande novamente (vendedores ambulantes)

SÃO LUÍS – Com a pandemia do novo coronavírus e a crise econômica instaurada, o número de desempregados bateu recorde. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a população desocupada no Maranhão em 2020, que era de 248 mil pessoas no começo da pesquisa (maio/2020), passou para 481 mil em setembro. Na comparação com agosto, mais 36 mil pessoas ficaram sem emprego. Foi, justamente, a partir de setembro, que os vendedores informais voltaram com força para a Rua Grande, no Centro. O Sindicato dos Vendedores Ambulantes de São Luís (Sindambulantes), alega que essas pessoas ainda não estão sindicalizadas.

A PNAD, mostra ainda, que a Proxy da Taxa de Informalidade (percentual de pessoas ocupadas como trabalhadores informais em relação ao total de pessoas ocupadas) foi de 52,6%, em setembro, no Maranhão, mantendo-se estatisticamente estável frente ao registrado em agosto (52,3%). O Estado esteve na Rua Grande nesta terça-feira, 17, e constatou uma quantidade expressiva de novos vendedores ambulantes, os tradicionais “camelôs”. Carlos André Lima Cidreira, de 42 anos, comprova a situação, diferente dos vendedores que estão chegando agora, ele já trabalha no comercial informal há 20 anos. Para ele, ficar nas transversais da via não ajuda no faturamento, ainda mais em tempo de crise.

É necessário, antes de tudo, relembrar que em 2019 essas pessoas foram remanejadas para as vias transversais da Rua Grande, por causa da obra de requalificação do espaço, que, inclusive, foi concluída há pouco mais de um ano. O vice-presidente interino do Sindambulantes, Nélio Braga, afirma que os vendedores sindicalizados têm uma segurança maior, diferentemente daqueles que chegaram agora. No entanto, o sindicato ainda não tem como cadastrar essas pessoas que chegaram. “Estamos tentando ver com o poder público para que eles fiquem lá, pelo menos nesse momento de pandemia”, completou, o vice-presidente.

Shopping Popular
Em fevereiro deste ano, a Câmara Municipal de São Luís, aprovou o Projeto de Lei 306/19 que autorizou a concessão e o subsídio público para construção, operação e manutenção do Comércio Popular de São Luís. Na ocasião, a proposta foi encaminhada pela Prefeitura, e tem objetivo de regularizar o comércio informal da capital. A ideia é que o Shopping Popular – como é conhecido – seja implantado nas proximidades do Ginásio Costa Rodrigues. A obra foi orçada em mais R$ 28 milhões e será executada por meio de parceria público-privada (PPP). A Prefeitura entrará com a contrapartida de R$ 8 milhões. As obras deverão ser entregues em 12 meses.

Em uma rápida visita no local da obra, é possível perceber que não existe, até o momento, nenhuma construção em andamento. Os camelôs esperam ansiosos pelo local, como é o caso de Adilson Pereira Mendes, de 68 anos, que possui uma barraca na Rua Grande, na qual vende roupas.

Para ele, os primeiros meses da pandemia foram difíceis. “Com essa doença, tem muito vendedor. Este ano não foi bom, mas espero uma melhora com a chegada do Natal e Ano Novo”, afirmou, em tom de esperança. Por fim, Adilson, admitiu que planeja sair da comércio informal. “Moro em Ribamar, perto da praia, acho que vou é me aposentar e comer um peixe lá”, destacou, com um sorriso no rosto.

Nas lojas
Para a vendedora de uma loja de artigos femininos, Francinete Santos, os camelôs, de certo modo, protegem os lojistas em termo de segurança. “Sem eles eu acho que a rua fica muito vazia, muito deserta”, frisou. Porém, ela alega que os vendedores informais acabam bagunçando a via, e impedindo que os pedestres tenham uma melhor locomoção pela rua. “Mas, eu acho que eles deveriam ter um local apropriado”, ressaltou a vendedora.

A mulher também falou sobre o faturamento da loja, segundo ela, a presença dos ambulantes impede que os clientes sejam chamados a atenção pela loja. “Eles ficam praticamente na frente, então acaba não mostrando a loja da gente, mas eu sei que todo mundo precisa ter um lugar para trabalhar, pois todo mundo precisa”, finalizou, voltando ao trabalho.

Incerteza
Nélio Braga, comentou, que mesmo os vendedores ambulantes regularizados e sindicalizados não estão isentos de serem abordados pela Blitz Urbana da Prefeitura Municipal. “A gente tenta mediar essa conversa entre os ‘camelôs’ e a Prefeitura”, disse.

De acordo com dados do Sindambulantes, na época em que os ambulantes foram remanejados, principalmente os que foram colocados próximos ao Colégio Liceu Maranhense, a taxa de pessoas que deixou o mercado informal ficou em 60%. “Perto do Liceu o faturamento caiu muito”, afirmou.

O Estado entrou em contato com a Secretaria Municipal de Urbanismo e Habitação (Semurh) para saber sobre a obra do Shopping Popular e sobre a fiscalização da Blitz Urbana na Rua Grande, mas até o fechamento desta edição, não obteve resposta.

NÚMEROS

248 mil pessoas sem ocupação em maio, no estado, segundo a PNAD
481 mil pessoas sem ocupação em setembro, no estado, segundo a PNAD

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