Artigo

Um homem de valor

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

Antônio Brandão (1905-1980), meu pai, nasceu em Picos (atual Colinas), no dia 25 de abril, e faleceu em Caxias, no dia 25 de janeiro. Estava à frente de uma nova reforma de nossa casa, na antiga rua do Cisco, e eu mesmo fui busca-lo à sua última morada, em São Luís.

Escrevo, mais uma vez, sobre passagens de sua vida e das indeléveis lembranças que nos deixou.

Ele viveu a infância e adolescência na sua terra natal; depois veio para São Luís e conseguiu emprego na tradicional firma Lima, Faria & Cia., do tradicional comércio da Praia Grande. Tinha, então, 20 anos. Em 1933, casou-se com Nadir, minha mãe, e foram viver em Caxias.

Foi, sempre, um homem generoso com esposa e filhos, netos e bisnetos: presenteava no Natal e, quando viajava, não esquecia as lembranças. Lá pelos idos de 1938, lembro-me da minha primeira bicicleta, presente dele; aquele pequeno veículo, de rodas de borracha maciça, foi responsável pela maior sensação de liberdade até hoje experimentada.

Em 1940, nossa família mudou-se para Picos, ele novamente nomeado prefeito, assim como ocorrera em 1931; a viagem foi rio acima e durou vários dias, com o Itapecuru caudaloso e cheio de corredeiras traiçoeiras.

No final de uma tarde chuvosa, levados até a beira-do-rio pelo amigo José Delfino da Silva, em seu automóvel cor-de-vinho, embarcamos em um grande bote (batelão) rebocado por uma pequena lancha comandada por outro amigo da família, se bem me lembro, o José Maria Machado; papai, na sua inventividade, ajudara a transformar aquele bote em um verdadeiro apartamento, todo forrado, divisórias de palha e armadores de redes. Àquela altura já éramos cinco filhos, pela ordem: Antônio Augusto, Frederico, Rosa, Laura e José.

Ainda nesse ano de 1940 viemos para São Luís, pois falecera meu avô materno, Augusto Ribeiro. Aqui, vivemos dias inesquecíveis, bons e maus, até 1944, quando retornamos a Caxias; meu pai voltava a estabelecer-se, desta vez por conta própria, até 1960, com a tradicional ‘Casa Brandão’, no comércio de fazendas, estivas, ferragens e miudezas em geral, atividade marcante em sua vida empresarial e, com certeza, ‘os melhores anos de nossas vidas’.

Durante todo esse tempo ele colaborou intensamente com as classes produtoras de Caxias: liderou a criação da Cooperativa de Babaçu, fez parte da Associação Comercial e da Associação Rural, foi membro assíduo do Rotary Clube e confrade do Centro Cultural Coelho Neto.

Era um homem de temperamento dócil, falava pouco e expressava seus sentimentos através dos atos que praticava.

Raras vezes o vi com lágrimas nos olhos e uma delas foi quando parti ao trabalho e estudos, no Rio de Janeiro; ele nunca disse, mas desconfio que gostaria que eu tivesse ficado, para assumir os negócios na loja de tecidos, depois na moageira de café, na fábrica de guaraná, na indústria de óleo babaçu e nas plantações de caju.

Na vida pública, além de prefeito de Picos, por duas vezes, foi vogal dos empregadores na Junta de Conciliação e Julgamento de São Luís, em 1935; diretor do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda, em 1940; diretor-secretário do Banco do Estado do Maranhão, entre 1942-1944. Foi ainda advogado provisionado e jornalista profissional.

Meu pai foi um homem humilde, generoso, inventivo, empreendedor, amoroso, participativo, sensível.

Que Deus o tenha em sua Glória, aos 40 anos da sua partida.

Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Economista, membro Honorário da ACL e da ALL, filiado à IWA e ao Movimento ELOS Literários

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