Sem apoio

Parlamento da Espanha rejeita novo mandato do socialista Pedro Sánchez

Depois de três meses de negociação, PSOE e Podemos não conseguem fazer acordo para coalizão e quartas eleições em quatro anos ficam mais próximas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Primeiro-ministro Pedro Sanchez no Parlamento espanhol, em discurso antes de votação para confirmação de governo
Primeiro-ministro Pedro Sanchez no Parlamento espanhol, em discurso antes de votação para confirmação de governo (AFP)

MADRI - Depois do fracasso das negociações entre o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE ), social-democrata, e a aliança Unidas Podemos , de esquerda, para a formação de uma coalizão de governo, o primeiro-ministro em exercício da Espanha, Pedro Sánchez , não obteve ontem, 25, apoio do Congresso para liderar um novo governo.

Com isso, a Espanha fica mais próxima de enfrentar novas eleições em novembro — a quarta em quatro anos —, a menos que o PSOE, que tem a maior bancada no Parlamento, mas não a maioria absoluta, consiga chegar a um novo acordo de coalizão até setembro.

Nas últimas eleições gerais, em abril, o PSOE obteve 123 cadeiras no Parlamento de 350 lugares. Para superar o número de votos negativos da oposição de direita e formar o governo, Sánchez precisava do voto positivo do Podemos, que tem 42 deputados, e também de legendas menores, como a Esquerda Republicana da Catalunha (ECR), com 15 parlamentares.

Com a abstenção do Podemos e do ECR no Parlamento, após o fracasso das negociações, o premier em exercício contou apenas com 124 votos do próprio partido e de outra sigla menor, enquanto todas as legendas de direita votaram contra ele, num total de 156 votos. Houve 66 abstenções.

O PSOE e o Podemos governaram juntos, mas em uma coalizão informal, durante o curto primeiro mandato de Sánchez, que começou em junho de 2018, depois que o primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy, envolvido em um escândalo de corrupção, foi derrubado por uma moção de desconfiança do Parlamento.

Desde as eleições de abril, no entanto, o PSOE recusou-se por 60 dias a negociar com o Podemos, dizendo que não aceitaria que o líder da legenda, Pablo Iglesias, participasse do Gabinete. O jovem político exigia que sua sigla tivesse cargos importantes no governo e não apenas figurativos.

Legendas

Ao longa da última semana, as duas legendas estiveram próximas de um acordo em diversos momentos, inclusive quando Iglesias aceitou não participar pessoalmente do governo, mas as divergências prevaleceram logo em seguida.

Os dois partidos adotaram uma estratégia arriscada, evitando negociações desde abril, quando aconteceu a eleição, até a última sexta-feira. Neste dia, o principal entrave à aproximação, a exigência por parte de Iglesias de integrar a cúpula do governo, foi retirada. Em troca disso, no entanto, o Podemos exigiu cargos importantes no governo, o que o PSOE não aceitou.

Na segunda-feira, primeiro dia de votações, Sánchez e Iglesias tiveram um embate acalorado no Parlamento sobre a divisão de cargos. O Podemos exigia pastas importantes como Finanças e Trabalho, pedido considerado incompatível com o número de assentos da legenda no Parlamento. No dia seguinte, em uma votação preliminar , o PSOE também não conseguiu obter maioria de votos sim — que, na ocasião, precisava ser absoluta — perdendo por 124 contra 170 votos e 52 abstenções.

Conforme a votação ontem, 25, se aproximava, entretanto, ficava cada vez mais claro que o impasse impediria a formação de um governo. Após uma série de trocas de farpas públicas em programas de rádio e televisão, o PSOE rejeitou a oferta final do Podemos cerca de três horas antes da votação, considerando-a ambiciosa demais e deixando claro que um acordo não seria obtido. Segundo o PSOE, o Podemos exigia controlar mais da metade do gasto público e cargos relacionados ao orçamento.

"Nunca houve problemas no programa. O problema tem sido os ministérios. Iglesias queria controlar o governo, 100% dos gastos do governo, sendo a quarta força", disse Sánchez em discurso na tribuna. "Demonstramos uma nobre vontade de acordo, propostas que o sr. Iglesias rejeitou uma após a outra. Não conheço nenhum precedente de um líder de esquerda que se sinta humilhado pela proposta de vice-presidência. Uma proposta respeitosa e sensata. E mais do que razoável, pois em seu partido não há experiência alguma, dada a sua juventude, na gestão do governo".

Recusa

Iglesias respondeu que "o seu partido aceitou tudo o que lhe foi exigido", mas que o PSOE recusou representação "proporcional aos seus votos".

"Senhor Sánchez, peço-lhe que faça uma reflexão: pensa que se referiu a nós com o respeito que um possível parceiro do governo merece?", disse Iglesias. "É muito difícil negociar um governo de coalizão a 48 horas da nomeação e filtrar tudo pela imprensa. Uma negociação do governo precisa, pelo menos, não ser tacanha".

O Podemos e o PSOE são próximos em uma série de questões políticas, mas discordam sobre um assunto-chave na Espanha: a independência da Catalunha. Enquanto o partido de Iglesias apoia um plebiscito para que os catalãs decidam seu próprio futuro, a legenda de Sánchez descarta esta opção.

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