Tensão

Irã vai aumentar os níveis para o enriquecimento de urânio

País informou que chegará a nível de enriquecimento de 5%. Limite fixado em acordo internacional é de 3,67%. Material tem potencial de uso para produção de armas nucleares;medida quebra o acordo de 2015, que visava a conter as ambições nucleares do país

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Abbas Araqchi (direita), ao lado do porta-voz da Companhia de Energia Atômica do Irã, Behrouz Kamalvandi, e o porta-voz do governo, Ali Rabiei, em coletiva em Teerã
Abbas Araqchi (direita), ao lado do porta-voz da Companhia de Energia Atômica do Irã, Behrouz Kamalvandi, e o porta-voz do governo, Ali Rabiei, em coletiva em Teerã (Reuters)

TEERÃ - A República Islâmica do Irã deu ontem, 7, o segundo passo para elevar o nível de enriquecimento de urânio, fixado em 3,67% no acordo nuclear internacional, de 2015.

"Por enquanto, chegaremos a um enriquecimento de 5%", disse o porta-voz da Organização da Energia Atômica do Irã, Behruz Kamalvandi, em entrevista coletiva conjunta com o vice-ministro de Exteriores, Abbas Araghchi, difundida pela televisão estatal.

O urânio de baixo enriquecimento é usado para produzir combustível para reatores nucleares, mas, potencialmente, pode servir para a produção de armas nucleares.

Kamalvandi afirmou que "em algumas horas, será completado o trabalho técnico, e o processo de enriquecimento superará 3,67%". Ele disse ainda que "amanhã, quando a Organização Internacional da Energia Atomica (AIEA) publicar seu relatório, o nosso nível de enriquecimento estará acima" inclusive desse nível.

O porta-voz declarou ainda que o nível de enriquecimento de 5% é o necessário para o fornecimento de combustível para alimentar as centrais térmicas do país, sem "aumentar o número das centrífugas".

A possibilidade de o Irã passar a enriquecer urânio acima do acordado com a comunidade internacional já havia sido anunciada pelo presidente do país, Hassan Rohani, na quarta-feira (3), sem mais detalhes.

Na sexta-feira,5, Ali Akbar Velayati, conselheiro para Assuntos Internacionais do aiatolá Ali Khamenei, disse que o enriquecimento de urânio do Irã aumentaria "o que for necessário para nossas atividades pacíficas".

"Para o reator nuclear de Bushehr, precisamos de um enriquecimento de 5%, um objetivo completamente pacífico", declarou em entrevista publicada na página on-line do aiatolá Khamenei.

A central de Bushehr (oeste) funciona com combustível importado da Rússia e é controlada de perto pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Aumento do estoque

O anúncio de Rohani foi a segunda reação do governo iraniano à saída dos Estados Unidos do pacto internacional e ao restabelecimento de sanções por parte de Washington contra Teerã.

Na segunda-feira (1º), o governo confirmou que ultrapassou o limite previsto de 300 kg de estoque de urânio de baixo enriquecimento também previsto pelo acordo.

Sob o tratado, o Irã foi autorizado a produzir um limite de 300 kg desse produto e poderia enviar as quantias em excesso para fora do país para armazenamento ou venda.

O aumento das reservas e o nível de enriquecimento reduziriam o tempo que o Irã precisaria para produzir material suficiente para uma bomba nuclear, estimado em um ano. O governo nega que esse seja seu objetivo.

Passo perigoso

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou ontem, 7, o anúncio feito pelo Irã representa um "passo muito perigoso". Ele fez um apelo aos líderes da França, do Reino Unido e da Alemanha, que assinaram o acordo, para que imponham "duras sanções" à República Islâmica.

Israel continua denunciando as ações do Irã na região e se considera alvo do programa nuclear iraniano. Teerã garante que seu programa tem vocação puramente civil e que não pretende se dotar de arma atômica.

Netanyahu também disse, ontem, que Israel é contra a presença iraniana na Síria.

- Nós agimos contra o Irã. Façam vocês o que devem fazer - completou, dirigindo-se aos líderes europeus.

O anúncio iraniano marca a última violação do acordo. Recentemente, o país anunciou que aumentaria sua produção de urânio enriquecido , que pode ser usado para produzir combustível para reatores, mas também para armas nucleares. O país já armazenou urânio mais enriquecido do que o permitido pelos termos do acordo.

Mesmo assim, o Irã negou veementemente que tenha qualquer intenção de construir armas nucleares.

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