Tensão

Irã já ultrapassou o limite do estoque de urânio enriquecido

Governo iraniano diz que medida é ''reversível'' caso europeus se esforcem para salvar pacto. País exige suspensão de sanções econômicas, especialmente sobre o setor petroquímico

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Governo do Irã diz ter ultrapassado limite de urânio enriquecido, possivelmente violando acordo nuclear
Governo do Irã diz ter ultrapassado limite de urânio enriquecido, possivelmente violando acordo nuclear (Reuters)

GENEBRA - O Irã ultrapassouo limite de material atômico armazenado no país estabelecido pelo acordo nuclear de 2015, anunciou o chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif . A informação foi confirmada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que mantém inspetores nas instalações nucleares iranianas. Mesmo assim, Zarif garante que a medida não se trata de uma violação dos termos do acordo.

" Nós não violamos o JCPOA (sigla em inglês para o acordo nuclear de 2015). O parágrafo 36 do acordo explica o motivo: nós recorremos à exaustão a ele após a saída dos EUA (do acordo). Demos ao E3+2 (grupo formado pelos demais signatários) algumas semanas enquanto nos reservamos em nosso direito. Finalmente tomamos uma atitude após 60 semanas" disse Zarif, em publicação no Twitter.

O parágrafo 36, citado por Zarif, diz respeito ao mecanismo para resolução de conflitos entre os signatários do acordo. Na visão do governo iraniano, a saída dos EUA e a subsequente adoção de sanções econômicas, aliada à falta de ação dos europeus para achar alternativas às medidas, servem como justificativa para que o país deixe de cumprir parte de suas obrigações.

O país persa havia anunciado no mês passado que passaria a estocar mais urânio levemente enriquecido do que o permitido.

"Assim que o E3 (França, Alemanha e Reino Unido) cumprirem suas obrigações, voltaremos atrás" escreveu Zarif. Teerã deu um prazo até domingo, 7 de julho , para que os europeus se pronunciem. Caso contrário, diz o governo, novas ações serão adotadas, incluindo o aumento do grau de enriquecimento de urânio, hoje limitado em 3.67% , patamar considerado "adequado" para atividades nucleares pacíficas.

Potências

O acordo assinado em 2015 pelo Irã e as principais potências globais, conhecido formalmente pela sigla JCPOA (Plano de Ação Conjunta Global, em inglês), prevê controles estritos das atividades nucleares iranianas em troca do alívio das sanções econômicas. Com a saída dos EUA do acordo, em maio de 2018, o Irã deixou de colher os benefícios que esperava como contrapartida da garantia de que não produzirá armas nucleares.

O objetivo da cláusula que limita o estoque de urânio a 300 quilos é impedir que país persa tenha urânio suficiente para produzir combustível para uma bomba atômica.

Diplomacia

Na sexta-feira, 28, representantes do governo iraniano se reuniram com França, Reino Unido, Alemanha, China e Rússia, em Viena, para tentar salvar pelo menos parte do acordo. No final da rodada de negociações, o governo do Irã afirmou que os avanços haviam sido insuficientes .

Nesta segunda-feira, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, defendeu que o Irã cumpra o plano, dizendo que tais ações " não ajudam a preservar o acordo ". O governo do Reino Unido disse que vai "considerar os próximos passos" após o anúincio dos iranianos. Já o premier israelense, Benjamin Netanyahu, defendeu que os países adotem " sanções automáticas " contra Teerã.

Os iranianos deixam claro que seu objetivo principal é retomar o volume das exportações de petróleo , severamente afetado pelas sanções americanas. Em abril do ano passado, as exportações iranianas chegavam a 2,5 milhões de barris diários. Nas duas primeiras semanas de junho o número caiu para 300 mil barris por dia.

O impacto das sanções americanas fez aumentar a tensão no Golfo Pérsico. Há dez dias, o Irã derrubou um drone de vigilância americano que, segundo afirmou, havia invadido o seu espaço aéreo. O presidente americano, Donald Trump, chegou a aprovar um bombardeio retaliatório contra alvos iranianos, mas suspendeu a operação minutos antes do ataque.

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