Tensão

Irã chama governo Trump de ''mentalmente incapaz''

Presidente americano ameaça devastar país persa; para Teerã, sanções que atingem líder supremo e chanceler fecham de vez o caminho da diplomacia; Rússia diz ter provas de que drone abatido estava em território iraniano

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Hassan Rouhani ironizou as sanções de Trump e chamou a Casa Branca de "retardada mentalmente"
Hassan Rouhani ironizou as sanções de Trump e chamou a Casa Branca de "retardada mentalmente" (Reuters)

DUBAI e JERUSALÉM - Em resposta às novas sanções contra o Irã anunciadas por Donald Trump na segunda-feira, 24, que miram o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, o presidente iraniano chamou o governo americano de "mentalmente incapaz" e as imposições, que terão poucos efeitos práticos, de "ultrajantes e idiotas".

"Os americanos parecem desesperados e confusos, o que os fez adotar medidas estranhas e falar coisas sem sentido. Esta Casa Branca é mentalmente incapaz e não sabe o que fazer ", disse Rouhani em pronunciamento pela TV, referindo-se à cúpula do governo Trump. "A paciência estratégica de Teerã não significa que temos medo", completou, ao mesmo tempo em que o porta-voz do dizia no Twitter que as sanções a Khamenei podem ser consideradas "um ataque à nação".

Ao reagir à declaração de Rouhani, Trump subiu o tom da guerra verbal e, no Twitter, ameaçou devastar o país persa: "Qualquer ataque a qualquer coisa americana será respondido com força avassaladora. Em algumas áreas, avassaladora significará obliteração", escreveu.

Na segunda-feira, o presidente americano assinou uma ordem executiva que impõe uma série de restrições a Khamenei, como o congelamento dos bens do líder supremo, o bloqueio a fontes externas de financiamento e a proibição de sua entrada nos Estados Unidos. O Tesouro ainda ameaçou punir instituições financeiras e pessoas que tenham qualquer ligação com a liderança iraniana. Ao anunciar as sanções, Trump se confundiu, chamando Khamenei de Khomeini, seu antecessor no cargo e líder da Revolução Islâmica de 1979.

Além de Khamenei, oito comandantes da Guarda Revolucionáriatambém foram sancionados. O grupo foi classificado como uma organização terrorista por Washington em abril e, desde então, seus membros já estavam proibidos de entrar nos Estados Unidos e de fazer negócios com os americanos.

As medidas terão impacto limitado, já que Khamenei nunca viaja para fora do país e empresas ligadas a sua família não têm acesso aos serviços bancários internacionais.

Para analistas como Jarret Blanc, do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, as novas sanções são simbólicas porque as punições impostas pelos Estados Unidos desde o ano passado, quando Trump abandonou o acordo nuclear firmado entre Teerã e as principais potências globais, já tiveram efeito devastador na economia iraniana. As sanções contra as exportações de petróleo do país persa reduziram o volume vendido de 2,5 milhões de barris em 2015 para 300 mil barris neste mês de junho.

Ainda assim, de acordo com o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, até o chanceler do Irã, Javad Zarif , um dos principais negociadores do acordo nuclear que os americanos abandonaram, também será atingido por punições no final desta semana. Educado nos Estados Unidos, o chanceler é considerado um moderado — tipo de figura que os governos americanos anteriores buscaram cultivar.

"Impor sanções inúteis ao líder supremo do Irã e ao chefe da diplomacia iraniana é fechar permanentemente o caminho da diplomacia", disse o porta-voz da Chancelaria Iraniana, Abbas Mousavi, em sua conta no Twitter. "O governo desesperado de Trump está destruindo os mecanismos internacionais para a manutenção da paz e da segurança".

Sem armas nucleares

Trump afirmou que as sanções são uma resposta ao que chamou de "comportamento agressivo " do Irã nas últimas semanas, citando, entre elas, a derrubada de um drone americano na semana passada. O episódio veio dias depois de os EUA culparem o país persa por ataques a dois navios no Estreito de Ormuz , região por onde passa cerca de 30% de todo o petróleo comercializado no mundo. Em resposta, Donald Trumpautorizou um bombardeio a alvos iranianos, que teria sido cancelado pelo presidente dez minutos antes de seu início, após saber que cerca de 150 pessoas morreriam no ataque.

As sanções vão contra a retórica oficial americana, que diz buscar uma solução para a crise por meio do diálogo. Na manhã de ontem, 25, John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional, disse que há disposição de dialogar desde que o Irã esteja de acordo com uma renegociação dos termos do acordo nuclear. Pelo tratado, o Irã se comprometia a limitar seu programa nuclear em troca do alívio das sanções:

"O presidente tem mantido a porta aberta para negociações reais que eliminem completamente e de modo verificável o programa nuclear iraniano, sua busca por sistemas de mísseis, seu apoio ao terrorismo internacional e outros comportamentos malignos pelo mundo", acusou Bolton. "Tudo que o Irã precisa fazer é atravessar essa porta aberta".

Na manhã de ontem, 25, Zarif disse o governo iraniano não tem quaisquer pretensões de construir armas nucleares, reforçando a posição oficial do país persa de que seu programa atômico tem fins pacíficos. Em comentário direcionado aos americanos, o chanceler relembrou os bombardeios às cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial, em 1945.

"Vocês estava realmente preocupado com 150 pessoas? Quantas pessoas vocês mataram com armas nucleares? Quantas gerações vocês dizimaram com essas armas?", disse Zarif, segundo a agência Irib. — Somos nós que, devido às nossas crenças religiosas, nunca buscaremos uma arma nuclear.

Território iraniano

A localização exata do drone abatido na semana passada é um elemento-chave para determinar se o Irã agiu em autodefesa. Osamericanos alegam que seu aparelho de espionagem foi abatido em águas internacionais. Irã, contudo, diz que o equipamento sobrevoava seu território e que foram emitidos dois alertas não respondidos antes do abate. Teerã ainda afirmou que se absteve de atacar um avião militar americano com 35 tripulantes que acompanhava o drone.

Ontem, a Rússia afirmou possuir provas em favor do Irã: " Tenho informações do Ministério da Defesa russo de que o drone estava no espaço aéreo iraniano", disse Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança russo, durante uma reunião de segurança em Jerusalém.

Em comunicado, a Chanceleria russa disse nesta terça que as novas sanções americanas contra o Irã são "imprudentes" e "desestabilizadoras".

"As autoridades americanas deveriam se perguntar sobre as consequências de sua política desestabilizadora para o Irã. Isso não apenas desestabiliza o Oriente Médio, como mina todo o sistema de segurança internacional", diz o texto. "Existe a impressão de que Washington tenta romper todas as pontes, contrariamente ao que dizem suas afirmações de que deseja dialogar com o Irã."

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