Ameaça

Irã afirma que violará acordo se Europa não reagir a Trump

País se prepara para estocar mais urânio enriquecido do que o previsto pelo acordo de 2015; Hassan Rouhani, já havia advertido no início de maio que os europeus teriam 60 dias para começar a garantir a Teerã os benefícios decorrentes do tratado nuclear

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
O presidente do Irã, Hassan Rouhani, já havia advertido europeus no início de maio
O presidente do Irã, Hassan Rouhani, já havia advertido europeus no início de maio (Reuters)

DUBAI - O estoque de urânio enriquecido do Irã ultrapassará no dia 27 de junho o limite estabelecido pelo acordo nuclearassinado com as principais potências globais em 2015, anunciou ontem, 17, Behrouz Kamalvandi, porta-voz da Organização Iraniana de Energia Atômica. Segundo ele, ainda existe a possibilidade de o país persa manter sua produção de urânio nos limites estabelecidos há quatro anos, se os países europeus agirem para bloquear os efeitos das sanções impostas pelos Estados Unidos depois de abandonarem o acordo, em maio de 2018.

"Nós quadruplicamos a taxa de enriquecimento e a aumentamos ainda mais recentemente, então o estoque deverá ultrapassar o limite de 300 quilos em 10 dias", disse Kamalvandi em uma entrevista coletiva televisionada a partir da usina nuclear de Arak."Ainda há tempo se os países europeus agirem. Se eles cumprirem seu compromisso, as coisas voltarão à situação original".

O presidente do Irã, Hassan Rouhani, já havia advertido no início de maio que os europeus teriam 60 dias para começar a garantir a Teerã os benefícios decorrentes do tratado nuclear; caso isso não ocorresse, disse na ocasião, o país começaria a se afastar dos termos do acordo.

Bomba atômica

No acordo de 2015, o Irã se comprometeu a não produzir a bomba atômica, em troca dos benefícios econômicos que esperava obter com o fim das sanções então vigentes da ONU, da União Europeia e dos EUA. As sanções europeias e as impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas foram suspensas, mas, dado o poder do dólar e do sistema financeiro americano, a volta das sanções de Washington acabou atingindo o comércio e os investimentos no Irã de empresas de outros países, incluindo as europeias.

Além disso, o governo de Donald Trump afirma estar empenhado em reduzir a zero as exportações de petróleo iranianas, punindo os países que comprarem o produto de Teerã. Com isso, as exportações iranianas caíram de 2,5 milhões de barris por dia em abril de 2018 para 400 mil barris por dia em maio deste ano.

A manutenção de um estoque baixo de urânio enriquecido é uma das principais garantias de que o Irã não terá combustível suficiente para produzir uma bomba nuclear. De acordo com o acordo assinado há quatro anos, o país persa deveria manter um estoque máximo de 300 quilos. A produção excedente deveria ser vendida a outros países.

Comércio

Para evitar as sanções americanas, os signatários europeus do acordo nuclear — Reino Unido, França e Alemanha, além da própria União Europeia — vinham trabalhando em um mecanismo que permitiria que empresas do continente mantivessem o comércio com o Irã por meio de permutas. O mecanismo, no entanto, só se aplicaria a itens alimentícios e medicinais, que já são isentos das sanções americanas.

O anúncio da Organização Iraniana de Energia Atômica ocorre em um momento de extrema tensão entre os Estados Unidos e o Irã, depois que o governo Trump acusou Teerã das explosões que na última quinta-feira atingiram dois petroleiros nas proximidades do Estreito de Ormuz, região por onde passa cerca de 20% de todo o petróleo comercializado no mundo. Teerã nega qualquer envolvimento com os ataques.

Ao retirar os Estados Unidos do acordo nuclear, Trump alegou que gostaria de um tratado mais abrangente, que contemplasse também os mísseis convencionais iranianos e seu apoio a forças que se opõem a aliados regionais americanos, como o Hizbollah libanês. O cerco de Trump ao Irã é secundado por Israel, que sempre se opôs ao tratado nuclear, e pela Arábia Saudita.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.