Impasse

Líder trabalhista rompe negociações do Brexit

Jeremy Corbyn deixa a primeira-ministra Theresa May mais perto da renúncia e diz que governistas e opositores não conseguiram superar diferenças políticas; ele questiona força de premier em articulação de acordo para saída da União Europeia

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
Primeira-ministra britânica, Theresa May ouve discurso de líder trabalhista, Jeremy Corbyn, no Parlamento em Londres
Primeira-ministra britânica, Theresa May ouve discurso de líder trabalhista, Jeremy Corbyn, no Parlamento em Londres (Reuters)

LONDRES — O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, rompeu na sexta-feira,17, as negociações do Brexit com o governo da primeira-ministra britânica, Theresa May . A principal legenda de oposição do país tentava, há um mês e meio, articular com os governistas conservadores uma saída para o impasse no acordo da saída do Reino Unido da União Europeia, rejeitado três vezes pelo Parlamento do país. Corbyn ressaltou que os trabalhistas permanecerão contra os termos combinados pela premier com a União Europeia.

Em carta enviada a May, Corbyn destacou que, na sua avaliação, as negociações avançaram o máximo que puderam. Mesmo conduzidas em boa fé por ambas as partes, segundo ele, ficou claro que os dois partidos não conseguiriam superar divergências. O líder trabalhista classificou as conversas como "detalhadas e construtivas", mas colocou em dúvida a própria força do Gabinete britânico em cumprir qualquer acordo.

"Ainda mais importante, as crescentes fraqueza e instabilidade de seu governo significam que não pode haver confiança em garantias do que possa ser acordado entre nós. Como eu disse quando nos encontramos na noite de terça-feira, tem havido uma crescente preocupação, tanto no gabinete da oposição quanto no Partido Trabalhista, sobre a capacidade do governo de cumprir qualquer compromisso", escreveu Corbyn na missiva.

Em resposta ao fim das negociações, o porta-voz de May destacou que a premier ainda confia ser dever dos parlamentares negociar um caminho que coloque em vigor o desejo popular expresso em referendo. Em junho de 2016, 52% dos eleitores britânicos apoiaram o Brexit. A líder continua a trabalhar duro pela aprovação do acordo, em contato sobretudo com a coalizão de conservadores e membros do Partido Unionista Democrático, disse o porta-voz. Ele concordou que ficou clara a impossibilidade de um acordo com os trabalhistas e disse que o Gabinete agora avalia seus próximos passos.

"Autoridade erodida"

O posicionamento de Corbyn marca mais uma derrota para May e sua negociação do Brexit, à qual a União Europeia concordou em ceder mais tempo em decorrência do impasse político britânico. As conversas com os trabalhistas eram vistas como um último recurso. Em abril, a premier se viu forçada a recorrer a Corbyn para tentar um acordo que lhe garantisse mais apoio parlamentar, mas as conversas esfriaram quando ela cobrou em artigo de jornal um consenso dos opositores, que se irritaram com vazamentos das reuniões. Braço-direito de Corbyn, John McDonnell destacou que não confiava mais em May.

Na carta, o líder trabalhista justifica que a decisão da premier de entregar o cargo em breve fez membros do Gabinete competirem para sucedê-la, o que teria desestabilizado ainda mais, segundo ele, a já "erodida autoridade" de May, com críticas públicas de seus aliados a propostas da equipe de negociação.

Durante as conversas, os trabalhistas pressionaram May a concordar, como condição de um acordo, com a articulação de uma união aduaneira entre Londres e a UE, à qual a premier e os principais defensores do Brexit resistiam por significar, na prática, a manutenção de um elo com o bloco europeu e a impossibilidade de o Reino Unido alcançar suas próprias tratativas comerciais com outros países.

Negociações

O porta-voz da premier ressaltou que as negociações emperraram especialmente nas discussões sobre a questão alfandegária e a possível realização de um segundo referendo, defendido pela oposição. Nesta semana, o governo ressaltou que pretende colocar o acordo do Brexit sob escrutínio do Parlamento pela quarta vez, na primeira semana de junho. Sem mudanças nos termos, apontou Corbyn, os trabalhistas votarão contra de novo. Os deputados conservadores, por sua vez, pediram nesta quinta-feira que May estabeleça uma data clara para sua partida, independentemente do resultado da votação parlamentar.

"Após seis semanas de negociações, é justo que o governo deseje novamente testar a vontade do Parlamento, e consideraremos cuidadosamente quaisquer propostas que o governo deseje apresentar para romper o impasse do Brexit. No entanto, devo reiterar que, sem mudanças significativas, continuaremos a nos opor ao acordo, pois não acreditamos que salvaguarde empregos, padrões de vida e indústria manufatureira no Reino Unido", escreveu o líder do Partido Trabalhista.

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