Em caso de conflito

EUA cogitam enviar 120 mil soldados ao Oriente Médio

Governo diverge sobre como responder à escalada de tensão com o governo do Irã, que ameaça atacar os Estados Unidos e acelerar o desenvolvimento de armas nucleares

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
Governo diverge sobre como responder à escalada de tensão com o governo do Irã, que ameaça atacar os Estados Unidos e acelerar o desenvolvimento de armas nucleares
Governo diverge sobre como responder à escalada de tensão com o governo do Irã, que ameaça atacar os Estados Unidos e acelerar o desenvolvimento de armas nucleares (Reuters)

NOVA YORK — Em uma reunião entre os principais assessores de segurança nacional do presidente Donald Trump , o secretário interino de Defesa, Patrick Shanahan, apresentou um plano militar atualizado que prevê o envio de até 120 mil soldados ao Oriente Médio caso o Irã ataque as forças dos Estados Unidos ou acelere o desenvolvimento de armas nucleares, de acordo com autoridades do governo.

As revisões foram ordenadas pela ala linha-dura liderada por John Bolton, o conselheiro de Segurança Nacional de Trump. Não se trata de um plano de invasão terrestre do Irã, o que exigiria um número muito maior de soldados, disseram autoridades.

O desenvolvimento reflete a influência de Bolton, um dos mais virulentos falcões do Irã no governo, cuja tentativa de confronto com Teerã foi ignorada há mais de uma década pelo presidente George W. Bush.

É altamente incerto se Trump, que tentou desvencilhar os Estados Unidos do Afeganistão e da Síria, enviaria tantas forças dos EUA de volta ao Oriente Médio. Ontem, ele disse:

"Eu acredito que são notícias falsas, ok? Agora, se eu faria isso? Absolutamente não. Mas não planejamos isso. Esperamos não ter que planejar isso. Se tivéssemos que fazê-lo, enviaríamos muito mais homens do que isso",declarou a jornalistas na Casa Branca.

Também não está claro se o presidente foi informado sobre o número de soldados ou outros detalhes previstos no plano. Na segunda-feira, perguntado se ele estava buscando uma mudança de regime no Irã, Trump disse: "Vamos ver o que acontece com o Irã. Se eles fizerem alguma coisa, seria um erro muito ruim".

Há fortes divergências no governo sobre como responder enquanto aumentam as tensões sobre a política nuclear do Irã e suas intenções no Oriente Médio.

Algumas autoridades americanas disseram que os planos, mesmo em estágio preliminar, mostram como a ameaça do Irã se tornou perigosa. Outros, que pedem uma resolução diplomática para as atuais tensões, disseram que isso é uma tática assustadora para alertar o Irã contra novas agressões.

Aliados europeus que se reuniram com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disseram na segunda-feira que temem que as tensões entre Washington e Teerã possam chegar a um ponto de ebulição, talvez inadvertidamente.

Mais de meia dúzia de autoridades de segurança nacional dos EUA que foram informados sobre os detalhes dos planos atualizados concordaram em discuti-los com o New York Times, sob condição de anonimato.

Ecos do Iraque

O número de soldados envolvidos no plano surpreendeu algumas pessoas que foram informadas. Os 120 mil militares se aproximam do tamanho da tropa dos EUA que invadiu o Iraque em 2003.

A mobilização de uma força aérea, terrestre e naval tão robusta daria a Teerã mais alvos para atacar, e potencialmente mais motivos para fazer isso, arriscando enredar os Estados Unidos em um conflito prolongado. Isso também reverteria anos de retração dos militares americanos no Oriente Médio, que começaram com a retirada do Iraque pelo presidente Barack Obama em 2011.

Mas duas autoridades de Segurança Nacional dos EUA disseram que a redução das forças americanas na Síria, anunciada por Trump em dezembro, e a diminuição da presença naval na região parecem ter encorajado alguns líderes em Teerã e convencido o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica de que os Estados Unidos não têm apetite por um confronto contra o Irã.

Navios petroleiros foram atacados ou sabotados na costa dos Emirados Árabes Unidos no fim de semana, aumentando os temores de que as rotas de navegação no Golfo Pérsico pudessem se transformar em pontos críticos.

"Vai ser um grande problema para o Irã se algo acontecer", disse Trump na segunda-feira, 13, perguntado sobre o episódio.

Os Emirados estão investigando a aparente sabotagem, e autoridades dos Estados Unidos suspeitam que o Irã esteja envolvido. Várias autoridades alertaram, no entanto, que ainda não há provas definitivas ligando o Irã ou seus aliados aos ataques. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano chamou este de "incidente lamentável", segundo uma agência estatal de notícias.

A revisão de alto nível dos planos do Pentágono foi apresentada durante uma reunião sobre a política americana para o Irã. Dias antes, o governo Trump declararara, sem mostrar evidências, que o Irã estava mobilizando grupos no Iraque e na Síria para atacar forças dos EUA.

Como precaução, o Pentágono moveu um porta-aviões, bombardeiros B-52, uma bateria interceptora de mísseis Patriot e mais poder de fogo naval para a região do Golfo.

Mudança de postura

Recentemente, no fim de abril, uma análise da Inteligência dos EUA indicou que o Irã não tinha desejo de provocar um conflito a curto prazo. Mas novos relatórios - incluindo interceptações, imagens e outras informações - indicaram que o Irã estava aumentando a disposição de suas forças substitutas para lutar e as preparando para atacar as forças dos EUA na região.

Não está claro para as autoridades dos EUA o que mudou a postura do Irã. Mas autoridades da Inteligência e do Departamento de Defesa disseram que as sanções americanas têm funcionado melhor do que o inicialmente esperado para debilitar a economia iraniana. Sobretudo após terem sido anunciadas no mesmo passado medidas restritivas contra todas as exportações de petróleo.

Parte dos novos planos parece se concentrar em quais ações militares os Estados Unidos poderão tomar se o Irã retomar a produção de combustível nuclear, que foi congelada sob os termos do acordo de 2015. Seria difícil para o governo Trump argumentar que os Estados Unidos estão sob perigo nuclear iminente. O Irã enviou 97% do seu combustível para fora do país em 2016 e atualmente não tem o suficiente para fabricar uma bomba.

Isso pode mudar se o Irã retomar o enriquecimento de urânio. Mas levaria um ano ou mais para construir uma quantidade significativa de material e mais tempo ainda para transformá-lo em uma arma. Isso permitiria, pelo menos em teoria, tempo suficiente para os Estados Unidos desenvolverem uma resposta, como um novo corte nas receitas do petróleo, ações secretas ou greves militares.

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