Desafio

Putin facilita passaporte para Leste separatista

Eleito no domingo, Zelenskiy acusa Rússia de travar guerra e ocupar território, palco de violentos confrontos por soberania

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
Presidente eleito da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, faz críticas ao governo russo
Presidente eleito da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, faz críticas ao governo russo (Reuters)

SÃO PETERSBURGO e KIEV - O presidente russo, Vladimir Putin , assinou um decreto que simplifica o procedimento para moradores do Leste ucraniano, controlado por separatistas, obterem o passaporte russo. Kiev respondeu à medida em tom furioso, no primeiro teste de força russo ao presidente eleito da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy.

Cinco anos de guerra entre tropas ucranianas e forças apoiadas pela Rússia deixaram 13 mil mortos, apesar do acerto de um cessar-fogo em 2015. Zelenskiy, que conseguiu vitória esmagadora nas eleições presidenciais de domingo, prometeu encontrar uma solução pacífica para o conflito.

O atual líder da Ucrânia e o futuro chefe de Estado emitiram nesta quarta-feira declarações separadas que denunciam a Rússia como uma força de ocupação no leste da Ucrânia. O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, destacou que a ação do Kremlin violou a lei internacional. Já Zelenskiy acusou a Rússia de travar uma guerra e apelou pelo "fortalecimento da pressão diplomática e das sanções" contra Moscou.

"A Federação Russa reconheceu sua responsabilidade como Estado ocupante", agregou o novo líder ucraniano, sobre o decreto, em nota divulgada por sua equipe.

Em resposta à esperada reação ucraniana, Putin atribuiu a simplificação burocrática à necessidade de garantir os direitos da população do Leste do país vizinho. O texto prevê que os moradores das regiões separatistas tenham direito a receber um passaporte russo no período de três meses após solicitá-lo.

"Não temos o desejo de criar problemas para a nova liderança ucraniana, mas de lidar com uma situação em que as pessoas que vivem no território de Donetsk e da República de Luhansk são geralmente privadas de quaisquer direitos civis. Isso já está passando do limite do ponto de vista dos direitos humanos", disse Putin, ao explicar a ordem.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Pavlo Klimkin, denunciou no Twitter o que chamou de "continuação de agressão e interferência em nossos assuntos internos" por parte da Rússia. O chanceler conclamou os ucranianos que vivem sob o controle dos separatistas a não solicitarem passaportes russos.

A Ucrânia disse que informou as Nações Unidas sobre a iniciativa da Rússia e também pediu à UE que tome medidas "imediatas e decisivas". A estratégia de Zelenskiy para a disputa com separatistas, no entanto, ainda não é clara. Detratores consideram sua falta de experiência perigosa para liderar um país que vive conflito tão tenso.

Em 2014, eclodiram rebeliões contra o governo do governo ucraniano nas regiões de Donetsk e Luhansk. Moscou forneceu ajuda militar para os separatistas, segundo evidências obtidas pelas Reuters, apesar de autoridades russas negarem o apoio.

Pretexto russo

Grupos das duas regiões estão sob o controle de fato dos rebeldes apoiados por Moscou, enquanto Kiev afirma estar determinada a retomar seu controle, posição referendada pela maioria dos países ocidentais.

Oleksandr Turchynov, secretário do Conselho de Segurança Nacional da Ucrânia, disse que a decisão da Rússia é, na prática, dar cobertura legal a Moscou para o envio de tropas ao Leste da Ucrânia, sob o pretexto de proteger os cidadãos russos.

A Rússia nega acusações de enviar tropas e armas pesadas para combater as forças ucranianas na região. As relações entre a Ucrânia e a Rússia ruíram depois que os protestos na Praça Maidan, em Kiev, em 2014, levaram um presidente ucraniano, apoiado pelo Kremlin, a fugir para o exílio.

A Rússia anexou a Península da Crimeia, pertencente à Ucrânia, no mês seguinte, em março de 2014, o que a deixou na mira de sanções ocidentais.

Os Estados Unidos, a União Europeia e a Rússia acompanham de perto os pronunciamentos de Zelenskiy sobre política externa, para ver se e como ele poderia tentar acabar com o conflito. Após a vitória do político novato, o Kremlin disse que era prematuro falar na possibilidade de ele e Putin trabalharem juntos nesta questão.

Zelenskiy prometeu manter a Ucrânia num rumo pró-Ocidente, ao mesmo tempo em que emitiu tom menos enfático que o do seu antecessor, Poroshenko, sobre possíveis planos para o país de 42 milhões de pessoas se unir à UE ou à Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar europeia.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.