Artigo

Cai a noite sobre Jerusalém

Luiz Thadeu Nunes e Silva, Engenheiro agrônomo e palestrante

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

Estou ausente do Brasil há duas semanas, visitando uma vez mais um país fascinante, surpreendente, histórico, de grande energia, muitos contrastes e espiritualidades: Israel. É minha quarta vez aqui, e a cada vinda clamo a Deus para retornar, e ele generosamente tem me ouvido. Desta vez, em uma viagem um pouco mais longa; aluguei um carro e com um amigo com quem frequentemente viajo, Ivan Zanella, pude conhecer novos lugares deste pequeno e significativo país. Além do roteiro espiritual, obrigatório, visitei a parte moderna e cosmopolita, vanguarda das descobertas tecnológicas, berço das startups, e dos aplicativos, que tanto facilitam nossas vidas.
Pegamos o carro no aeroporto David Ben Gurion, percorremos todo o país e parte da Palestina.
Por três dias me hospedei em um kibutz, velho sonho de quando estudante de Engenharia Agronômica, e ver a beleza e riqueza da produção de hortaliças, frutas e flores em solo pobre, típico de deserto, com uma produtividade bem acima da média mundial. Não é à toa que o atual governo brasileiro quer importar o modelo israelense em agricultura e irrigação para o nosso Nordeste.
O bom de andar pelo mundo, é poder sentar no final de tarde em um café, desta vez, na Velha Jerusalém e observar calmamente o frenesi do comércio de árabes, judeus, armênios, e cristãos; é um programa obrigatório todas as vezes que aqui venho, e fico a pensar que muitas das mãos daqueles homens que rezam com seus terços o tempo todo, são as mesmas mãos que são capazes de atirar pedras e bombas em nome de Alá, Maomé, Jeová, Deus nos quais acreditam.
Tempo de lembrar do escritor e pensador israelense Amós Oz, fundador do movimento pacifista “Paz agora”, morto nos derradeiros dias de 2018, aos 79 anos, quando dizia: “Há uma crescente polarização e radicalização no mundo. Mais e mais pessoas tendem ao extremismo. A maior parte à direita, às vezes à esquerda, às vezes a um profundo extremismo religioso. Isso acontece porque as questões estão se tornando cada vez mais complexas. Com isso, muitas pessoas buscam respostas simples, de uma sentença, que cubram amplamente tudo o que se está perguntando. E são sempre os extremistas, os fanáticos e os radicais que têm as respostas mais simples. El es têm o tipo de resposta que cobre todas as perguntas do mundo”.
“O fanatismo é a essência perene da natureza humana, o ‘gene mau’. Atribuí-lo a uma civilização, a um povo, a uma religião é contribuir para propagar o gene e criar políticas de ódio identitário.”
Me identifico com as ideias de Amós Oz, um homem vocacionado ao diálogo, que dizia que antes de ser escritor, adorava contar e ouvir histórias, que contar histórias é tão básico quanto a sexualidade, e, para ele que nascera sem nenhum talento para agradar as garotas do colégio, se o destacar nos estudos, ou mesmo se fizesse notar como atleta; foi contando histórias que ele se notabilizou, e atribuía a isso ao fato de ter se tornado escritor e pensador de destaque em todo o mundo.
Nestes dias cada vez mais neuróticos e conturbados que estamos vivendo, a tarde se despede, dando lugar à noite fria; peço mais um café, relembro um pouco do que li de Amós Oz, nesta Jerusalém milenar, mística e misteriosa, e fico a pensar que o mundo seria tão mais simples e suave se respeitássemos os outros com suas diferenças, crenças, culturas e idiossincrasias.

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