tem foto

Crianças dançam ao som de Jorge Ben Jor na Zâmbia e vídeo viraliza

Crianças de comunidade ouviram pela primeira vez a música do cantor brasileiro com fone de ouvido. Câmera gravou as reações

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
Crianças na Zâmbia dançam música de Jorge Ben Jor
Crianças na Zâmbia dançam música de Jorge Ben Jor (Divulgação)

ZÂMBIA - Um casal de brasileiros decidiu colocar crianças de uma isolada comunidade na Zâmbia, país da África oriental, para escutar uma música de Jorge Ben Jor com fones de ouvido. Elas pareciam encantadas e, sem saber que estavam sendo filmadas, começaram a dançar.

Tudo aconteceu em 2015, mas há alguns dias o vídeo viralizou e chegou até o próprio Jorge Ben Jor, que, além de intérprete, é também o autor de "Ponta de lança africano", também conhecida como "Umbabarauma", faixa que abre o disco África Brasil (1976).

Os meninos que, na época, tinham entre 6 e 12 anos, são da comunidade Goba e moram na pobre vila de Mugurameno, na província de Chiawa, fronteira com o Zimbábue. Vivendo às margens do rio Zambeze, eles estão em uma região próxima de grandes resorts, mas não chamam a atenção dos turistas em busca de safáris.

A comunidade vive em relativo isolamento. Na época, as crianças não conheciam rádio ou TV e chegaram a se assustar com a chegada dos brasileiros.

Por acaso

A nutricionista Daniella Schuarts conta que, em janeiro de 2015, viajou com o então namorado – e hoje marido--, o fotógrafo Leonardo Salomão, no Projeto Evoé, sobre cultura alimentar, que passou por países africanos e asiáticos.

Em busca do modo de vida tradicional e de hábitos alimentares locais, os dois chegaram ao Zimbábue, onde conheceram um homem que contratou Leonardo para fotografar a viagem em um safári de canoa que ele faz pelo rio Zambeze.

Esse homem apoiava a escola comunitária da Vila de Mugurameno e pediu, durante o trajeto, que fossem feitas fotos do local para que ele pudesse buscar doações para a instituição.

“Chegamos até lá depois de quatro dias descendo o rio de canoa. Ficamos encantados. Eles são muito queridos e acabamos pensando que seria uma boa para o nosso projeto, porque mantém um modo de vida super tradicional, ligado à produção de milho”, conta Daniella.

O casal pediu para voltar e a ideia foi aceita. “Voltamos uma semana depois. Como não havia alojamento, levamos a nossa barraca e ficamos lá por quase três meses.”

“Quando chegamos, tinha criança que chorava, porque não entendia quem a gente era. Elas não estavam nem um pouco acostumadas com estrangeiros”, lembra Daniella.

A economia local é baseada na cultura do milho. Embora haja vendinhas com produtos industrializados, os moradores vivem muito isolados culturalmente, relatou a viajante.

Alguns poucos conseguem empregos nos grandes hotéis da região. “Achar um emprego em um resort é uma grande conquista, mesmo que executem as tarefas mais simples, como limpeza. O auge é ser guia do hotel, mas são pouquíssimos homens que conseguem. As mulheres nem saem da aldeia”, afirma Daniella.

A agricultura local é feita à moda antiga, sem nada de tecnologia.

“Como não tem irrigação, eles fazem a horta deles em uma área na beira do rio. E o que acontece? Durante a noite, os elefantes e hipopótamos atacam a plantação. Então, a gente dormia junto com eles, que também têm cabanas perto do rio, e de madrugada a gente ficava se revezando para espantar os animais”, lembra.

'Crianças têm esse requebrado'

Embora a comunidade não tivesse acesso a meios de comunicação, os moradores são muito ligados à música e à dança.

“Apesar de não ter rádio ou TV, eles têm instrumentos musicais e dançam muito os ritmos africanos. As crianças têm esse requebrado. É muito engraçado”, conta Daniella.

Na véspera de deixar a região, Daniella e Leonardo resolveram organizar uma “surpresa” para as crianças que, até então, nunca tinham escutado música brasileira.

“A gente juntou as crianças que queriam participar e falou que ia fazer uma surpresa. Quando tudo estava posicionado para conseguir um ângulo legal, ligamos a câmera e o resultado foi esse que está no vídeo.”

“Foi uma identificação total. É igual a gente quando a gente escuta uma música africana. Você não sabe como, mas aquilo te agrada porque você se reconhece. Você não consegue muito explicar, mas você sente que de alguma maneira aquilo está conectado [à sua cultura]”.

Na época, eles publicaram o vídeo no YouTube e criaram um perfil para a escola em um site que busca voluntários. “Durante alguns meses, levamos muita gente para trabalhar lá, para ensinar inglês, dar aula de arte, ajudar na horta. Foi gente do Japão, da Índia, dos EUA e de vários países da Europa.” A comunidade enfrentou alguns problemas, e decidiram suspender a iniciativa.

A ideia do casal é angariar meios para voltar a ajudar a comunidade. “Por isso, a gente publicou de novo e viralizou desse jeito. Nosso sonho da vida é voltar para lá e rever essas crianças que já estão grandes”.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.