Vítimas do ciclone

Autoridades de Moçambique vão investigar roubos de doações

As Nações Unidas pediram US$ 392 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão) à comunidade internacional para financiar a resposta humanitária no sul da África pelos próximos três meses

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25
A moçambicana Amélia deu à luz em cina de uma árvore, segundo a Unicef
A moçambicana Amélia deu à luz em cina de uma árvore, segundo a Unicef (Reuters)

MOÇAMBIQUE - O governo de Moçambique admitiu desvios da ajuda às vítimas do ciclone Idai, que atingiu o país no mês passado. As autoridades disseram que houve roubo de alimentos e desvios de donativos, e criaram uma comissão de deputados para fiscalizar e punir os responsáveis.

Na quarta-feira (3), o jornal português "Diário de Notícias" informou que o Parlamento moçambicano aprovou a criação de um grupo de trabalho para "avaliar a transparência na assistência às vítimas do ciclone".

Ainda de acordo com o jornal, vários relatos de roubos de alimentos chegaram ao gabinete do próprio presidente moçambicano, Filipe Nyusi. Segundo a agência de notícias Deutsche Welle, Nyusi pediu a criação de uma entidade independente para gerir as doações.

Em resposta, diz a Deutsche Welle, foi criada e vigora desde segunda-feira (1º) uma comissão independente que, nos próximos três meses, vai liderar o processo de distribuição de mantimentos às vítimas do ciclone.

Segundo a agência, o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) moçambicano anunciou que vai reforçar a fiscalização na distribuição de alimentos às comunidades afetadas pelo ciclone.

O INGC é parte da comissão independente criada nesta semana, junto com o Programa Alimentar Mundial e uma empresa de ramo logístico contratada na cidade de Beira.

De acordo com a Deutsche Welle, a diretora-geral do INGC, Augusta Maita, assumiu que colaboradores da instituição que dirige são desonestos ao facilitarem o desvio de produtos que iriam beneficiar pessoas que foram acolhidas nos centros de acomodação na província de Sofala. A capital de Sofala, a cidade de Beira, ficou 90% destruída depois da passagem do ciclone.

Na quarta,3, a Cruz Vermelha anunciou que os primeiros mantimentos enviados pela organização chegaram à comunidade de Búzi, perto de Beira. Segundo a organização, mais de 2,3 mil pessoas estavam isoladas no local. A ONU também anunciou o envio de 900 mil doses da vacina contra o cólera ao país africano — que já registrou 1.428 casos da doença, segundo o último levantamento do governo.

Só em Moçambique, o Idai — que também atingiu o Malauí e o Zimbábue — deixou ao menos 746 mortos e afetou 1,85 milhão de pessoas.

Na terça-feira,2, as Nações Unidas pediram US$ 392 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão) à comunidade internacional para financiar a resposta humanitária no sul da África pelos próximos três meses. Até agora, US$ 46 milhões (cerca de R$ 177 milhões) foram recebidos, segundo a organização.

Mulher dá à luz em cima de árvore

Uma mulher moçambicana deu à luz em cima de uma árvore, relatou na terça,2, o o Fundo Internacional de Emergência para a Infância das Nações Unidas (Unicef, na sigla em inglês).

"Eu estava com meu filho de 2 anos de idade quando, de repente, sem aviso, a água começou a entrar na minha casa, e eu não tive outra opção a não ser pular em cima de uma mangueira próxima", contou a mulher, Amelia, que não sabe a idade que tem, à organização.

"Então a dor começou e eu não tinha ninguém por perto para me ajudar. Em poucas horas, dei à luz a minha filhinha Sara, em cima daquela mangueira. Eu estava completamente sozinha com Sara e meu filho. Ficamos no topo daquela árvore por mais dois dias após o nascimento dela. Mais tarde, os vizinhos me ajudaram a descer e chegamos a este lugar, como todo mundo", contou Amelia, em um centro de hospedagem improvisado em Dombé, na província de Manica, centro de Moçambique.

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