Editorial

Um dia de consciência

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27

Não é um dia de festas, mas de reflexões, debates e protestos pela situação social econômica e política na qual permanece o povo negro neste país. Hoje é o Dia Nacional da Consciência Negra. Uma data importante para todos - para negros e negras que lutam contra o racismo e por ações reparatórias e que muito contribuíram para a construção deste país.

E não se pode esquecer neste dia da belíssima arte e cultura negra, tão inseridas na vida dos brasileiros - e porque não dizer São Luís, onde é muito forte a presença de homens e mulheres negras envolvidas nas mais diversas atividades desta cidade, em algumas situações por meio de movimentos afro-brasileiros.

Este 20 de novembro faz referência também ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo de Palmares, que lutou para preservar o modo de vida dos africanos escravizados que conseguiam fugir da escravidão. Não se pode esquecer que a data é importante também pelo reconhecimento dos descendentes africanos na constituição e na construção da sociedade brasileira.

Resgatando um pouco da história, Zumbi foi o último dos líderes do Quilombo dos Palmares, localizado no atual estado de Alagoas, durante o período colonial. Filho de africanos escravizados e nascido nesse quilombo, ele foi educado por um sacerdote e depois retornou ao seu local de nascimento. Ali, lutou para que o quilombo não fosse destruído pelos colonizadores que consideravam um perigo aquela reunião de negros libertos. Em 1695, com 40 anos, Zumbi foi assassinado pelo capitão Furtado de Mendonça, a mando de Domingos Jorge Velho. Foi decapitado e sua cabeça levada para Recife onde ficou exposta em praça pública.

Zumbi lutou até a morte contra a escravidão, que só terminaria em 13 de maio de 1888, com a abolição oficial da escravatura no Brasil, cerca de 193 anos após sua morte.

Pois a luta continua, como revelam dados de 2015 extraídos do Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça: as mulheres negras no Brasil são 55,6 milhões, chefiam 41,1% das famílias negras e recebem, em média, 58,2% da renda das mulheres brancas. E mais: no período de 2003 a 2013, houve um aumento de 54% no número de assassinatos de mulheres negras enquanto houve redução em 10% na quantidade de assassinatos de mulheres brancas. No quadro diretivo das maiores empresas no Brasil, as negras são apenas 0,4% das executivas - apenas duas em um total de 548 executivos e executivas.

O idealizador do Dia Nacional da Consciência Negra foi o poeta, professor e pesquisador gaúcho Oliveira Silveira (1941 - 2009). Ele era um dos fundadores do Grupo Palmares, que reunia militantes e pesquisadores da cultura negra brasileira, em Porto Alegre. Em 1971 (mesmo ano de fundação do grupo), ele propôs uma data que comemorasse a tomada de consciência da comunidade negra sobre seu valor e sua contribuição ao país. Escolheu o dia 20 de novembro. Era muito mais significativo e emblemático do que comemorar o dia 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura, quando o regime escravocrata estava falido e não havia mais como se manter.

O 20 de novembro foi celebrado pela primeira vez naquele mesmo ano de 1971. A ideia se espalhou por outros movimentos sociais de luta contra a discriminação racial e, no final dos anos 1970, já aparecia como proposta nacional do Movimento Negro Unificado. De lá para cá, a data tem motivado a promoção de fóruns, debates e programações culturais sobre o tema em todo o país.

Portanto, no Dia da Consciência Negra vale fazer uma reflexão sobre a importância do povo e da cultura africana no Brasil. O impacto que os negros tiveram no desenvolvimento da identidade cultural brasileira, seja, na música, na política, na religião e na gastronomia, entre várias outras áreas. São Luís, sem dúvidas, foi - e continua sendo - muito influenciada pela cultura negra. Hoje é um dia de comemorar e valorizar a cultura afro-brasileira.

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