Poluição

1000 pontos de lançamentos de esgoto identificados na Lagoa da Jansen

Segundo especialista, ações realizadas pelo governo têm sido insuficientes para solucionar problema na Lagoa; situação afeta a saúde pública, meio ambiente, turismo e lazer da região

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

SÃO LUÍS - Ao contrário do que foi dito pelo governador Flávio Dino (PCdoB) durante o debate com outros candidatos ao Governo do Estado, promovido pela TV Mirante na noite de terça-feira (2), os serviços de manutenção na bacia da Lagoa da Jansen e entorno têm sido insuficientes para garantir a qualidade do ambiente. A conclusão é do engenheiro doutor em Saneamento Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP), Lúcio Macedo. Segundo ele, das cinco etapas que seriam necessárias para a revitalização da área, apenas uma chegou a ser iniciada.

Questionada sobre as condições do corpo hídrico do Parque da Lagoa da Jansen, a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) informou, por meio de nota, que a obra de retirada dos pontos clandestinos de lançamento de esgoto no local foi concluída em 2017 com a remoção de 80 pontos de despejo de efluentes. Os dados, enaltecidos pelo governador e candidato à reeleição, Flávio Dino, durante o debate, foram criticados por Lúcio Macedo.

“De forma nenhuma pode-se tirar, entre tantos pontos, apenas 80 e dizer que está tudo muito bom. Isto não se reflete na qualidade ambiental da Lagoa. Isso é apenas um arranhão numa questão séria, que é uma grande ferida que nós temos no principal ambiente hídrico de entorno da área urbana da cidade de São Luís: um espelho de água completamente comprometido”, explicou Lúcio Macedo.

O especialista afirmou que, em pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Maranhão, foram identificadas cerca de 300 fontes pontuais de descarte de esgoto por tubulações e, pelo menos, 700 fontes difusas - lançadas de forma clandestina por residências, restaurantes e estabelecimentos comerciais que existem em torno dos 25 hectares da Lago da Jansen, demonstrando a deficiência das obras realizadas pela Caema.

“A formação dessa escuma, que é justamente o extrato de materiais surfactantes, como detergentes, que mostram claramente a inexistência de oxigênio na Lagoa; a presença de pássaros que se alimentam de algas decompostas no ambiente e ainda a presença de fungos, que formam essa parte verte mucosa no entorno da bacia”, esclareceu o engenheiro.

Poluição
De acordo com Lúcio Macedo, a não renovação das águas da bacia acaba intensificando a poluição do corpo hídrico e a mortandade de espécies. “Deveria haver um sistema frequente de troca entre as águas da baía e da laguna para que acontecesse a renovação do corpo hídrico, pois isso afeta a existência de espécies devido às condições do ambiente. O principal fator é a multiplicação de algas rúpias, que se alimentam de esgoto e, ao se decompor, alteram os índices ideais de oxigênio no ambiente aquático, causando mortandade de diversas espécies”, explicou o especialista.

Além dos prejuízos causados à área, as condições da Lagoa da Jansen influenciam na balneabilidade das praias da capital, pois, devido a infiltrações, a água poluída entra em contato com o mar, tornando-o, em inúmeros pontos, principalmente na orla da Ponta d’Areia, impróprios para o banho.

“O material que se encontra no fundo da Lagoa migra para a praia, que também passa a ficar poluída em função da grande poluição que existe nos sedimentos. Só para se ter uma ideia, o parâmetro estipulado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) é da ordem de 10 mg/l. Aqui nós temos cerca de 1.000 mg/l de sedimento de fundo. Outro ponto é a quantidade de coliformes. O limite estabelecido para balneabilidade, por exemplo, é de 1.000 cólis por 100 ml. Aqui nós temos cerca de 8.000 cólis por 100 ml, oito vezes maior que o recomendável”, ressaltou Lúcio Macedo.

Prejuízo
Além dos prejuízos ambientais, o problema afeta a qualidade de vida da população. O mau cheiro da Lagoa da Jansen gera incômodo e preocupa quem trabalha e frequenta a área e seu entorno. Entre os meses de agosto e novembro, quando os ventos costumam ser mais fortes, o odor alcança um perímetro ainda maior, afetando a economia e a renda de quem trabalha no local, como é o caso de Regina Nunes, que mora no São Francisco, possui uma barraca de lanches na Lagoa da Jansen e tem que conviver diariamente com o incômodo.

“A gente aguenta por necessidade, mas ninguém gosta de viver assim. Tem dia que não tem quem aguente ficar aqui. A gente só continua vendendo porque tem uma clientela cativa, mas tem gente que só passa aqui, pega seu lanche e vai embora. Nesse período do ano, a venda até cai. Nem turista passa muito tempo aqui - só encosta, tira uma foto e vai embora, reclamando”, contou ela.

Quem pode optar por outros percursos evita passar pela região, como contou o estudante David Alves. “Eu só passo quando é o jeito, mas, sempre que possível, evito, porque o mau cheiro é muito forte. Mas algumas pessoas não têm alternativas”, afirmou David Alves.

Nas redes sociais
Após as afirmações do governador sobre as condições da Lagoa da Jansen, o professor de judô e líder comunitário da região do São Francisco Italo Nunes manifestou-se em vídeos publicados nas redes sociais, criticando as reais condições do local. O vídeo repercutiu bastante na Ilha.

Em entrevista a O Estado, ele enfatizou as queixas. “Lidar com essa realidade é complicado. Além do odor insuportável, à noite, por não ser Lagoa e sim esgoto, a quantidade de insetos que se acumula naquela região é absurda. Sem contar que ainda existem pessoas que se alimentam do que tem ali. Então, você já imagina a potencialidade de uma situação dessa tornar uma comunidade inteira doente”, frisou.

Risco confirmado por Lúcio Macedo. “Os aerossóis provenientes da Lagoa, ao ser inalados, podem desencadear problemas respiratórios e viroses, e o contato direto com as águas poluídas oferece inúmeros riscos de sérias doenças de pele, demonstrando que se trata de um problema de saúde pública”, enfatizou.

Solução para a Lagoa deveria ocorrer em cinco etapas

Os problemas registrados na Lagoa da Jansen, e que afetam a saúde, o meio ambiente, o turismo e a economia, podem ser solucionados, desde que sejam implementadas medidas de revitalização da área. De acordo com o engenheiro e doutor em Saneamento Ambiental, Lúcio Macedo, investimentos em torno de R$ 210 milhões seriam suficientes para modificar a atual situação da Lagoa da Jansen em pouco mais de quatro anos.


Conforme esclareceu o especialista, os serviços, já apresentados à Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais, deveriam ser realizados em cinco etapas, mas, até o momento, apenas uma chegou a ser iniciada, com a implantação das comportas da barragem da Lagoa.

Etapas

1ª - Renovação das águas;
2ª - Retirada dos pontos de lançamentos de esgoto;
3ª - Recuperação das espécies aquáticas;
4ª - Remoção de material orgânico em decomposição;
5ª - Projetos de Educação Ambiental na área e entorno e fiscalização.

Causas da poluição na água

As fontes de poluição da água são separadas em duas categorias, dependendo da origem do poluente. São causas humanas, como o descarte incorreto de produtos e o lançamento de esgoto e produtos químicos na água.

Fontes pontuais
São fontes individuais facilmente identificadas, como um encanamento ou uma vala. Exemplos dessa categoria incluem o lançamento dos poluentes de uma fábrica diretamente na água.

Fontes não pontuais
Também chamadas de fontes difusas, são relacionadas à contaminação que não é originada de uma fonte individual e discreta. Como elas não são provenientes de um ponto de lançamento ou de geração específico, o controle e a identificação são difíceis. Alguns exemplos de fontes difusas são a infiltração de agrotóxicos no solo, o descarte incorreto de substâncias prejudiciais ao meio ambiente, o lixo e o lançamento de esgoto diretamente nos córregos.

Consequências
Efeitos em humanos

Alguns micro-organismos, como bactérias, que podem se desenvolver naturalmente na água ou serem introduzidas com os tipos de poluição citados, podem causar doenças como febre tifoide, cólera, hepatites, disenteria e pólio.

Efeitos no meio ambiente
Alguns tipos são facilmente identificados, enquanto outros podem não ser notados até que causem grandes danos. Mesmo que a água de um rio ou lago pareça limpa, ela pode conter um número grande de poluentes.
Os efeitos dos diferentes tipos de poluição da água são complexos e, em muitos casos, ainda não compreendidos totalmente. Diferentes organismos podem responder de modo distinto ao mesmo tipo de poluição. direta com os efeitos da poluição. Uma coisa é certa: todos os tipos de poluição têm efeitos negativos.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.