PEQUIM E MOSCOU - A China expressou sua "grande indignação" com as sanções impostas pelos Estados Unidos a uma unidade do Ministério da Defesa chinês pela compra de armamentos da Rússia, e avisou o governo do presidente Donald Trump que, se não retirar as punições, vai "arcar com as consequências".
Washington alega que a compra de 20 caças russos Sukhoi Su-35, no ano passado, e de um conjunto de mísseis terra-ar S-400, neste ano, representa uma "transação significativa" segundo uma lei americana de 2017 que pune a Rússia pela interferência nas eleições presidenciais de 2016. Foi a primeira vez em que o governo Trump sancionou um governo estrangeiro por comprar armas russas usando a lei, cujo nome formal é Ato Contra Adversários da América Através de Sanções (CAATSA, na sigla em inglês).
O Departamento de Estado americano anunciou as sanções financeiras na quinta-feira,20, à noite. Elas atingem o Departamento de Desenvolvimento de Equipamentos do Ministério da Defesa chinês, responsável por equipar o Exército Popular de Libertação, assim como seu diretor, Li Shangfu.
As sanções significam que o departamento não poderá exportar produtos para os Estados Unidos, que eventuais propriedades que tenha no país serão embargadas, e que não poderá fazer transações financeiras em dólares ou com instituições americanas.
A decisão americana gerou pronta resposta do governo de Xi Jinping, no momento em que os dois países já se confrontam em uma guerra comercial, iniciada quando Trump impôs tarifas bilionárias à importação de produtos chineses pelos Estados Unidos.
"Este gesto dos Estados Unidos viola gravemente os princípios fundamentais das relações internacionais e prejudica seriamente as relações entre os dois países e suas Forças Armadas", afirmou Geng Shuang, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
Ele disse que Pequim apresentou um protesto formal a Washington. " Pedimos com veemência aos Estados Unidos a retificação imediata deste erro e a retirada das sanções. Caso contrário, terão que arcar com as consequências", advertiu Shuang.
Alvo é a Rússia, diz fonte
Segundo uma autoridade de Washington, que falou a jornalistas sob anonimato, as sanções impostas aos militares chineses buscam atingir a Rússia, e não a China, apesar das tensões entre Washington e Pequim.
"O alvo dessas sanções definitivamente é a Rússia; elas não pretendem minar a capacidade de defesa de nenhum país em particular", explicou a fonte. "O objetivo, em vez disso, é impor mais desgaste à Rússia em resposta a suas atividades malignas".
Segundo a autoridade de Washington, "deixamos bem claro que sistemas como o dos mísseis S-400 têm potencial para a aplicação de sanções segundo a CAATSA".
"Esperamos que este passo mostre a seriedade com que encaramos a questão e faça com que outros [países] pensem duas vezes antes de se envolverem com os setores de defesa e inteligência russos", afirmou.
Moscou, por sua vez, acusou o governo dos Estados Unidos de ameaçar "a estabilidade mundial" com as sanções contra a unidade militar chinesa.
"Seria bom que eles lembrassem que existe um conceito de estabilidade global, que eles estão minando de modo irrefletido", declarou o vice-ministro das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, num comunicado. "Brincar com fogo é estúpido e pode ser perigoso", acrescentou.
Passatempo nacional
Ryabkov afirmou que existe nos Estados Unidos "um passatempo nacional que consiste em adotar medidas antirrussas" e calculou que esta deve ser a 60ª bateria de sanções contra Moscou desde 2011.
"Cada nova série de sanções demonstra a ausência total dos resultados desejados por nossos inimigos (...) E as 'listas negras' americanas se repetem cada vez mais. É engraçado, mas é assim", ironizou.
O deputado russo Franz Klintsevich afirmou que as sanções americanas, no fim, não vão afetar o contrato sino-russo.
"Tenho certeza que esses contratos serão cumpridos no prazo", disse ele à agência russa Interfax. "Ter esses armamentos militares é muito importante para a China".
Especialistas asiáticos em segurança comentaram que a medida americana só vai aproximar ainda mais Pequim e Moscou. "As sanções terão impacto zero nas vendas de armas russas para a China", avaliou Ian Storey, do Instituto Yusof Ishak, em Cingapura.
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