Editorial

É preciso conhecer o São João

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30

O mês de junho é um dos mais importantes para as festas populares nordestinas, devido ao São João. Nesse contexto, o Maranhão se destaca por uma representação do auto do bumba meu boi, apresentado em sotaques de orquestra, matraca, zabumba e costa de mão. Além do bumba meu boi, a festa é composta também pelo tambor de crioula, grupos de cacuriá, shows de artistas locais que exaltam a nossa cultura com composições que homenageiam os ritmos juninos, entre outras tradições que passam também por uma culinária típica do período.

Mesmo com um complexo cultural rico e singular para atrair turistas para o estado nessa época do ano, a gestão pública estadual tem conseguido mergulhar numa sucessão de equívocos para a realização da festa. Em um breve retrospecto, é possível destacar uma sucessão de problemas dos últimos quatro anos. Em 2015, por exemplo, com a ideia de homenagear Donato Alves, um dos principais compositores do sotaque de orquestra do Maranhão, autor de toadas como Bela Mocidade, o governo estadual batizou um dos principais arraiais da cidade com o nome dele. O que seria um reconhecimento da importância do compositor se transformou em um vexame, pois, o arraial recebeu uma placa com o nome “Nonato Alves”. Um erro de grafia absurdo e que denotou a falta de conhecimento dos gestores sobre a importância dos mestres da cultura popular do Maranhão.

No ano passado, os grupos de bumba meu boi no sotaque Costa de Mão, que correm o risco de desaparecimento, tiveram um espaço ínfimo na programação do São João. Pressionados pelo Iphan, o governo assinou acordo de valorização da brincadeira e anunciou que o sotaque seria o grande homenageado no São João deste ano. Porém, a homenagem segue na teoria, pois a participação dos grupos segue apagada. Ontem, noite de São João, apenas dois grupos do sotaque se apresentaram nos arraiais do circuito oficial junino em São Luís.

Esse não é o único equívoco ao tratar a cultura maranhense. Quando foi anunciada a programação oficial, o grande destaque ficou para os shows de artistas nacionais e chamou atenção para a contratação como atração principal do cantor Agnaldo Timóteo, cujo repertório não tem relação alguma com as festas juninas. Esse show causou estranhamento, principalmente, pelo governo ter deixado de fora da festa artistas locais consagrados no período junino. Foram muitas as reclamações, o que fez com que o governo recuasse, incluindo cantores maranhenses no circuito e colocando Timóteo em um show alternativo, voltado ao público da terceira idade

As falhas não acabaram com a divulgação de uma programação polêmica, enquanto os gestores estaduais comemoram a festa, o Boi de Guimarães, um dos expoentes do sotaque de zabumba, precisou participar de um evento beneficente realizado no domingo para ajudar a custear as despesas das apresentações em São Luís. É que o grupo, apesar de contemplado na programação oficial, recebe um cachê considerado baixo para o custeio das despesas com alimentação e deslocamento de Guimarães para São Luís.

Promover cultura é uma missão séria que necessita de responsabilidade e de conhecimento para valorizar a cultura. Não há espaço para amadorismo para valorizar a cultura local.

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