Hamilton Almeida - Professor, pós-doutor e pesquisador

A descoberta do bacuri sem caroço, delícia do Maranhão

Estudioso maranhense descobriu o bacuri sem semente, fruto de seus experimentos em torno da espécie Platonia insignis Mart; curioso e dedicado, ele avança em mais estudos, sobre a possibilidade de mutações genéticas a partir de outras espécies de plantas

Evandro Jr. / O Estado do Maranhão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h32
Professor Hamilton Almeida observa o bacuri sem caroço que ele desenvolveu após pesquisa
Professor Hamilton Almeida observa o bacuri sem caroço que ele desenvolveu após pesquisa

O nome científico é Platonia insignis Mart, da família Clusiaceae. A fruta exótica, típica da região Norte e dos estados vizinhos à Região Amazônica, mede cerca de 10 centímetros, apresenta uma casca dura e resinosa e caroços (sementes) cobertos por uma camada de polpa. No Maranhão, ainda mais exótica é a espécie de bacuri sem caroços, desenvolvida pelo curioso e dedicado pesquisador pós-doutor em Ciências Agrárias Hamilton Almeida, da Universidade Estadual do Maranhão (Uema).
O professor é um apaixonado pela natureza e por tudo aquilo que ela oferece de benefícios para o homem. Seu interesse e curiosidade por essa espécie de planta começou em 2004, quando observou a probabilidade de uma mutação genética que originaria frutos sem caroços, os quais passaria a reproduzir em escala comercial. O tema foi objeto de sua tese de doutorado na Universidade Federal do Ceará (UFCE).

Detalhe do bacuri sem caroço, desenvolvido por Hamilton Almeida
Detalhe do bacuri sem caroço, desenvolvido por Hamilton Almeida


Hamilton mergulhou fundo nos estudos para fazer a caracterização da variabilidade genética do bacurizeiro por marcador molecular. Um experimento inédito e que tem atraído a atenção da comunidade científica em outros estados. Agora, ele especula também a modificação genética de outras espécies de frutas, a exemplo da fruta do conde, fruta-pinha ou ata (como é conhecida no Maranhão). E já fez novas descobertas, mas que prefere ainda não revelar.

O objetivo é produzir mudas em escala comercial, no sentido de preservar a espécie”


No entanto, o que mais preocupa o pesquisador, natural de Humberto de Campos, é a questão do desmatamento. “É um problema sério, porque a escassez dos bacurizeiros reflete no processo de polinização. As aves polinizadoras estão desaparecendo, entre elas, o periquito-de-asa-dourada, o xexéu, o papagaio e o beija-flor. Nossa alternativa está sendo atrair as abelhas. Por isso, plantamos diversos tipos de árvores para aproximá-las e suprir a polinização. Há regiões no Maranhão, como mais para o lado do sul, onde as árvores foram derrubadas para utilização do terreno em plantio de soja. E isto é muito sério”, explica o professor, que faz o cultivo das espécies para estudo na Fazenda-Escola do Centro de Ciências Agrárias da Uema.

Tentação
Hamilton passa grande parte do tempo analisando as mutações genéticas das plantas. Na Fazenda-Escola, ele tem o prazer de mostrar as árvores de onde vingam os bacuris sem caroços. A fruta tem o mesmo gosto da tradicional. Uma delícia que o pesquisador não cansa de provar. E se o bacuri com caroço já é uma tentação para os apreciadores, os que nascem sem sementes enchem os olhos. “Onde era para ter caroços, sobra polpa. E aí você pode comer se lambuzando”, brinca o homem dos bacuris sem caroços.
As informações sobre as descobertas do professor estão sendo compartilhadas porque são interessantes do ponto de vista econômico. Por essa razão, ele está conduzindo capacitações em vários municípios maranhenses. Os estudos repercutiram em estados como Pernambuco, Mato Grosso, Bahia, Goiás e Piauí. “A ideia é produzir mudas em escala comercial para também preservar a espécie”, revela.

O pesquisador na área da Uema, onde realiza estudo; grande preocupação é o desmatamento
O pesquisador na área da Uema, onde realiza estudo; grande preocupação é o desmatamento
Minha preocupação é com o desmatamento e queimadas, que estão destruindo as matrizes de bacurizeiros com grande potencial”


Sobre bacuri e seus benefícios, Hamilton Almeida tudo sabe. Olhando com entusiasmo para os bacurizeiros plantados no pomar, ele conta que é uma árvore de grande porte, podendo chegar a até 40 metros de altura e dois de diâmetro. As plantas geneticamente modificadas poderão fornecer até 1.300 frutos por ano, ou seja, três vezes mais que o bacurizeiro silvestre.
O rendimento da polpa das frutas modificadas tem um ganho de 40%. “O bacuri é rico em nutrientes. A polpa é usada na preparação de suco, sorvete, geleia, doces. Dele, tudo se aproveita. A casca é utilizada na culinária, bem como o óleo extraído da planta, usado para fins medicinais”, diz.
Tudo isso e muito mais. A polpa branca da fruta tem altos índices de cálcio, fósforo, ferro e vitamina C. É considerada anti-inflamatório e cicatrizante. Possui também teor forte de fibras. Todas essas particularidades dão ao bacuri a capacidade de tratar e prevenir diversas doenças que afetam o organismo humano. Além de ajudar o corpo na diminuição ou manutenção do peso. Uma iguaria que abunda na região do Cerrado maranhense.

Hamilton Almeida com a planta que foi objeto de sua tese de doutorado pela UFCE
Hamilton Almeida com a planta que foi objeto de sua tese de doutorado pela UFCE

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