Luta racial através da arte
Ator maranhense experimenta uma ótima fase profissional, com reconhecimento do seu trabalho com a peça "Luiz Gama - Uma Voz pela Liberdade", que será reapresentada no Rio de Janeiro neste mês de agosto
São Luís - Um dos mais talentosos atores negros do Brasil, o maranhense Déo Garcez colhe os frutos de seu trabalho no espetáculo “Luiz Gama – Uma Voz pela Liberdade”, que volta à agenda cultural com o enfraquecimento da pandemia do novo coronavírus. Em cartaz desde 2015, a peça, com direção de Ricardo Torres e texto autoral, será reapresentada na próxima terça-feira (24), na escadaria do Palácio Tiradentes/Alerj, no Rio de Janeiro, para marcar os 139 anos de falecimento do jornalista, poeta e advogado abolicionista que libertou mais de 500 escravos do cativeiro ilegal.
No dia 31 de agosto, a apresentação será no Teatro PetraGold, na mesma cidade, com transmissão simultânea on-line, já que a capacidade da casa será reduzida por conta da pandemia. Déo Garcez não esconde sua felicidade pelo reconhecimento do seu talento e trabalho em todo o Brasil, por tocar em um tema bastante discutido na atualidade: o preconceito racial. Ele diz que é uma espécie de coroamento de tudo o que tem feito até agora. Afinal, está na profissão desde os 11 anos, pois começou muito cedo.
Por conta da peça, o maranhense já recebeu prêmios e condecorações, a exemplo da Medalha Pedro Ernesto, concedida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro em reconhecimento a sua luta contra o preconceito racial, por meio da arte e, especialmente, em função do espetáculo “Luiz Gama – Uma Voz pela Liberdade”, que rendeu elogios da crítica especializada.
“Além disso, foi por intermédio dessa nossa iniciativa artística que a data de 24 de agosto entrou, desde 2019, para o calendário oficial da cidade do Rio de Janeiro, via projeto de lei da Câmara Municipal, o que para nós é uma honra. O Dia de Luiz Gama é uma data para se refletir.”, diz o ator.
Para Garcez, a peça ajuda a recuperar uma parte da história que, talvez propositalmente, ficou invisibilizada, além de ser uma forma de trazer à luz problemas raciais que são ainda presentes na nossa sociedade, e fazem parte da luta diária do ator.
“A arte serve para entreter e estimular na sociedade a discussão em torno de questões fundamentais, como é o caso do preconceito racial. Além disso, até então, não víamos, nos teatros, públicos formados por mais de 80% de pessoas negras, reconhecendo-se no papel de protagonistas e, com essa peça, podemos fazer algo diferente ai ainda ajudar na representatividade daqueles que não se enxergavam nos personagens em cima dos palcos. A luta racial faz parte dos meus projetos e é importante celebrarmos esses nomes que lutaram por nós”, diz.
Em fevereiro de 2020, Déo Garcez foi convidado pela Escola de Samba Acadêmicos de Cubango, de Niterói (que homenageou a história de Luiz Gama), para subir num carro alegórico e desfilar no carnaval. "Foi um projeto maravilhoso poder representar o Luiz Gama e levar a história dele para mais lugares".
O maranhense está entusiasmado com a volta do espetáculo aos teatros, embora tenha apresentado, eventualmente, durante a pandemia. “Pretendemos viajar de novo pelo Brasil e, quem sabe, pelo mundo. A história que contamos é um exemplo para as diversas nações. Afinal, o personagem principal é uma referência. Em novembro, nos apresentaremos em São Paulo, por ocasião do Mês da Consciência Negra”, antecipa.
Déo Garcez, cujo nome de batismo é Deolindo Rodrigues Garcêz, saiu do Maranhão quando a família mudou-se para Brasília, onde, em 1987, ele concluiu o curso de bacharelado em Interpretação Teatral, pela Fundação Brasileira de Teatro. Em 1989, concluiu o de Licenciatura Plena em Artes Cênicas, área pela qual se apaixonou. Em 1995, no Rio, concluiu o Curso de Interpretação Teatral, com o diretor Antunes Filho, na Casa das Artes de Laranjeiras. De lá para cá não parou mais. O ator é conhecido pelos personagens: André de “A Escrava Isaura”, Xande de “Prova de Amor” e Sr. Morales, de “Carrossel”.
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