Artigo

2018, ano do laicato

Atualizada em 11/10/2022 às 12h33

Com o lema “Sal da terra e luz do mundo” (Ev. De Mateus 5,13 - 14) a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, em seu Documentos da CNBB 105, sugere que o ano de 2018 seja dedicado ao laicato, que significa o conjunto de homens e mulheres leigos, ou seja, sem título nenhum, mas com profundo amor pela causa de Deus, de onde provém a fé de que vivem imbuídos em seu cotidiano marcado pelos desafios que as muitas necessidades existenciais impõem.

O texto sagrado citado no primeiro parágrafo destaca parte do discurso de Jesus que contém as famosas “bem-aventuranças”. Um discurso para o povo comum, homens e mulheres que o buscavam pelas suas necessidades, mas também porque recebiam palavras de vida eterna. As palavras “terra” e “mundo”, contidas na fala de Jesus, apontam para o espaço físico onde a espiritualidade convida à existência, não no plano abstrato das intenções e boas vontades que não se concretizam.

Será que é demais imaginar que a primeira palavra nos fixa em nosso espaço próximo, aquele das relações íntimas e fraternas? Na terra nos ancoramos, construímos referências e vivemos. Aí também espalhamos os valores que o sal invoca, o de preservação daquilo que é permanente, que concilia, que pacifica, porque conciliação e paz distantes não edificam comunidades solidárias. A luz vai longe, é rápida, não esmorece e, obviamente, espanta as trevas. O mundo é vasto e múltiplo e não se ilumina, se no espaço íntimo da terra, não se realiza a espiritualidade que se importa com o próximo, nem se esconde na indiferença ou por comodidade.
Mais do que nunca, precisamos de pessoas que façam a diferença em nossa sociedade com seus exemplos de retidão e probidade. Uma das maiores chagas de nosso país, a corrupção, só será erradicada com o compromisso de todos com valores que o Evangelho dita para nossas vidas. O efeito da corrupção, aliás, se mostra mais deletério do que qualquer doença, porque afeta o desenvolvimento de um país, ultrapassando a mera questão criminal. A corrupção produz efeitos sistêmicos. Seu alcance perdura no tempo e as medidas de combate pedem o envolvimento do conjunto da sociedade.
Se cada leigo se afirmar como sal e luz em seus grupos, em seus trabalhos e em suas famílias, inevitavelmente teremos um mundo melhor. Um mundo em que fome, corrupção, violência e falta de assistência sejam apenas resquícios de um passado distante.
A poetisa Helena Kolody afirmou que a beleza é a sombra de Deus no mundo. Grande verdade. Mas acredito que sua bondade, misericórdia e compaixão se manifestam nos gestos, desde os mais simples até os grandiosos, realizados pelos seres humanos. Quando estes ajudam uns aos outros, estão manifestando, inevitavelmente, a graça de Deus.

O papa Francisco, em carta enviada ao Brasil, a propósito do ano do laicato, conclamou os leigos brasileiros a se engajarem no que chamou uma nova saída missionária. "Não se trata simplesmente de abrir a porta, para que venham, para acolher, mas de sair porta fora, para procurar e encontrar”, exortou. Tratar-se de um servir ativo, protagonista, resgatador.

A seara é grande, disse Jesus, e não há ceifeiros suficientes, assim são os leigos em sua militância que levam as boas novas e a vivenciam. Eles são como as radículas de uma grande árvore que chamamos igreja. Penetram fundo na terra para alimentar tronco, folhas e frutos que, por sua vez, abrigam, alimentam e protegem.

Natalino Salgado Filho

Doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro do IHGM, da ACM, AMC e AML

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