Artigo

A soja no Brasil

Atualizada em 11/10/2022 às 12h33

O Brasil é segundo produtor mundial e como o primeiro exportador de soja do mundo. Segundo dado da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra de 2016/2017, o país atingiu uma produção de grãos de 114,1 milhões de toneladas numa área de 33,9 milhões de hectares. Nas vendas externas alcançou a crível marca de 65,9 milhões de toneladas de grãos em 2016, que gerou uma receita de U$S 24,7 bilhões. A participação no total das exportações dos agronegócios nacional chegou a 29,9%.

A expansão da soja no Brasil é objeto de uma vasta bibliografia. A maioria das análises identifica como os principais fatores responsáveis: (i) o aumento da demanda da China; e (ii) a forte valorização dos preços internacionais. Entretanto, apresentam-se outras combinações geoeconômicas responsáveis pela dinâmica da cadeia produtiva no Brasil, entre elas:

- incentivos fiscais para a abertura de novas áreas para a produção agrícola, no caso da expansão da soja no cerrado, ela está relacionada com os incentivos do Prodecer (Programa Nipo-Brasileiro de Cooperação para o Desenvolvimento do Cerrado);

- estabelecimento de firmas produtoras e processadoras de grãos e de carne na região Centro-Oeste e Nordeste;

- baixo valor da terra no cerrado, se comparados aos preços então praticados na região Sul durante a década de 1970 e 1980;

- topografia muito favorável à mecanização, o que propicia a economia de mão de obra;

- boas condições pedológicas com a descoberta da técnica de calagem, que consiste na adição de calcário para reduzir a acidez do solo do cerrado, tornando-o produtivo;

- bom nível econômico e tecnológico dos produtores que ocuparam a região oriunda do Sul, onde cultivaram soja com sucesso;

- regime pluviométrico altamente favorável ao cultivo de verão;

- o desenvolvimento de um bem sucedido conjunto de tecnologias para produção de soja nas áreas tropicais, transformando o bioma do cerrado, mais de 200 milhões de hectares improdutivos, em áreas com potencial para o cultivo da soja;

- surgimento de novos mecanismos de financiamento da produção, como o Certificado de Mercadoria com Emissão de Garantia (CMG), a Cédula do Produto Rural (CPR), o Certificado de Depósito Agropecuário (CDA), o Warrant Agropecuário (WA), o Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), a Letra de Comércio Agrícola (LCA) e o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA);

- a consolidação da soja como importante fonte de proteína vegetal, especialmente para atender a demanda do agronegócio de carnes;

- a criação de um Sistema Nacional de Inovação (Embrapa e instituições públicas e privadas de pesquisa);

- ciclo de expansão da economia brasileira entre 2003-2011.

Ressalta-se ainda que a modernização da agricultura nos anos 1970 gerou novos segmentos produtivos a jusante e a montante da agricultura, que induziram novos hábitos de consumo, como os produtos derivados da soja, bem como criaram uma geração de agricultores (pequenos, médios e grandes), que passaram a se orientar por uma racionalidade técnica em busca da produtividade do capital. Em termos gerais, a expansão da produção e a consolidação da soja no território nacional é fruto das combinações geoeconômicas. Porém, as combinações geoeconômicas não são estáticas e podem modificar-se e combinar-se com novos elementos.

Roberto César Cunha

Geógrafo, mestre e doutorando em Geografia Econômica (UFSC)

E-mail: robertoujsma@hotmail.com

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