Artigo

Doutora Maria Augusta - “In memoriam”

Atualizada em 11/10/2022 às 12h34

A médica Maria Augusta Brahuna Alvim era natural do município de Pastos Bons, localizado na Microrregião das Chapadas do Alto Itapecuru, ao Leste do Estado do Maranhão. Graduou-se pela antiga Faculdade de Ciências Médicas do Maranhão, no ano de 1966. Fez parte da 4ª turma.

Inteligente e com nuanças de gênio, aos cinco anos de idade já sabia ler e escrever. E mais: no antigo curso ginasial, despertava admiração por sua desenvoltura em Matemática e Física, disciplinas que naquela época, como nos dias atuais, não caíam no gosto da maioria das meninas.

Em terras ludovicenses, foi aluna do Colégio de São Luís, dirigido pelo saudoso professor Luís Rego. Ao terminar o científico (atual Ensino Médio) e já decidida a cursar medicina, foi, provavelmente, atingida pela chama que incendiava a juventude estudiosa maranhense da época pós-fundação da nossa Faculdade de Ciências Médicas.

Lembro-me bem: no início de 1961, a faculdade foi “invadida” por uma multidão de meninas, cabendo citar Célia Buzar, Selma Assub e, naturalmente, Maria Augusta Brahuna. Os acréscimos a seus sobrenomes, como se tornaram conhecidos, só vieram muito tempo depois.

Durante o curso, cujas aulas aconteciam em dependências de diversos hospitais, dentre eles o Hospital Presidente Dutra (ainda não era Hospital Universitário), Maria Augusta sempre foi um exemplo de abnegação. Um episódio talvez lembrado por poucos dos seus contemporâneos teve lugar, certa vez, quando ela ainda cursava o primeiro ano.

As aulas da disciplina Histologia eram ministradas no 2º andar do citado hospital. Após as teóricas, os alunos passavam para a prática, num setor onde eles e professores escarafunchavam os segredos de células, tecidos e órgãos humanos. Numa daquelas ocasiões, a esforçada Maria Augusta se entreteve tanto às voltas com microscópios e micrótomos, que perdeu a noção do tempo. Todos os outros foram embora e ela não percebeu. Um funcionário descuidado, julgando não haver mais ninguém no setor, trancou a única porta de saída e se ausentou do local.

Só mais tarde (a noite avançava lentamente) ela “descobriu” que estava só e trancada na sala. Literalmente presa no gabinete de Histologia. Deu alarme, bateu na porta, gritou e pediu ajuda... casualmente alguém que passava por lá ouviu os seus apelos e comunicou a outros e outros. Começou, então, uma caçada. Deu um trabalho danado localizar o paradeiro do tal funcionário, que veio libertá-la da “prisão”.

A doutora Maria Augusta fez residência médica em São Paulo, e se especializou em pediatria e patologia tropical. A partir daí, é incrível como ela conseguia equilibrar as suas atividades profissionais e familiares: entrou para o clã dos Alvim, fez cursos no Brasil e no exterior (Alemanha Ocidental), realizou pesquisas médicas, publicou trabalhos científicos e se tornou sócia efetiva de entidades de renome, como a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Sociedade Brasileira de Infectologia e outras. Em São Luís, dentre muitas atividades, foi sócia fundadora da Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal do Maranhão.

Em reconhecimento por sua atuação como médica e professora, a Academia Maranhense de Medicina decidiu homenageá-la em 2016: Maria Augusta Brahuna Alvim foi registrada no rol dos seus patronos: Cadeira Nº 46.

ALDIR PENHA COSTA FERREIRA

Médico, membro da Sociedade e da Academia Maranhense de Medicina

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