Artigo

Estandarte da liberdade (II)

Atualizada em 11/10/2022 às 12h35

Iniciei na semana passada uma série de artigos sobre um dos grandes nomes do jornalismo brasileiro, o nosso Neiva Moreira, que se vivo estivesse, completaria 100 anos no próximo dia 10 de outubro.

Se é próprio do ser humano estar condenado a ser livre, como afirma Jean Paul Sartre, Neiva cumpriu cabalmente sua condenação. Conhecedor da dura realidade que cerca o Maranhão e o Piauí, sua vida toda foi pautada pela luta em favor dos oprimidos. Seu instrumento preferencial de atuação sempre foi a imprensa. E disso deu provas já aos quinze anos de idade, participando ativamente da redação do jornal estudantil A luz. Idealista, na inteira extensão do termo, sonhava transformar o mundo, para fazê-lo mais justo e melhor para todos.

Estudou no Liceu de Teresina, quando de sua morada em Flores, hoje Timon. Nessa escola, chegou a fundar o jornal A Mocidade, junto com seu amigo Carlos Castelo Branco. Mas os ventos da mudança começaram a impingi-lo para tentar a vida em São Luís. O tio Cícero Neiva Moreira, bem relacionado, ajudou o sobrinho a enveredar nessa empreitada.

Na capital do Maranhão, contou com as benesses do desembargador Constâncio Carvalho para chegar ao jornal O Globo - A Pacotilha, dedicando-se no matutino a cobrir os embates políticos na Assembleia Legislativa. Entrementes, retomou os estudos no Liceu maranhense onde também firmou um nome. Nessa época, foi eleito presidente do Centro Estudantil e travou sólida amizade com o professor Mata Roma, que depois viria ser vereador por São Luís.

Também chegou a prestar serviços no Exército e tomou uma decisão, ao sair da vida castrense, que mudaria sua trajetória para sempre: iria embora para o Rio de Janeiro à procura de trabalho na capital do país. São Luís tinha se tornado muito pequena. Com a mesma determinação que veio do interior do Estado para a capital do Maranhão, sentiu que era hora de alçar voos mais altos. O ano era 1942. A guerra havia tornado muito difícil a vida dos jornais locais, com anunciantes reduzidos e tinta adquirida com muita dificuldade. O ano era 1942. Deixava a esposa Anatália e o filho Antonio Luís em busca de uma vida mais próspera. Embarcou no Itaité na terceira classe e, após 14 dias embarcado, chegava à capital do país.

Em terras cariocas, chegou até Os Diários Associados pelas mãos de outro tio, o Manuel Neiva, onde trabalhou no jornal Diário da Noite e em O Jornal. Antes, teve breve passagem em O Diário de Notícias. O sucesso foi tão grande que lhe surgiu o convite para trabalhar em O Cruzeiro, a revista que fez história no Brasil pelos índices astronômicos de venda. Do início como repórter policial saltou para repórter político e internacional, cobrindo as revoluções que eclodiam na América Latina afora e, depois, no México. Estabeleceu uma sólida relação com Assis Chateaubriand, então todo poderoso proprietário do maior grupo jornalístico do país.

Entre idas e vindas ao Maranhão, Neiva Moreira retornou definitivamente à terra no final dos anos 40. Entre idas e vindas ao Maranhão, Neiva Moreira retornou definitivamente à terra no final dos anos 40. Jornalista afamado, aqui chegou com uma missão. Vinha ampliar o domínio de Assis Chateaubriand que tinha como sua propriedade O Globo/A Pacotilha. Ao chegar aqui, publicou um artigo no jornal O Combate, de Lino Machado, que desagradou Vitorino Freire. Este já tinha cisma do jornalista por conta dos ataques que sofria na imprensa nacional. Resultado: Neiva Moreira amargou dez dias na prisão. Foi libertado graças à intervenção do próprio presidente Dutra, que mandou ao Maranhão Adroaldo Junqueira Aires, alto funcionário do Ministério da Justiça, para libertar Neiva. Mal sabia Vitorino e o próprio Neiva que esse episódio viria encaminhá-lo de vez para o mundo político. Sobre essa guinada em sua trajetória, discorremos no próximo artigo.

Natalino Salgado Filho

Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA

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