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Otan recebe hoje Trump e tenta convencê-lo de seu valor

Países que integram a aliança militar ocidental estão se esforçando para demonstrar que estão aumentando gastos com defesa, conforme exigência do presidente dos Estados Unidos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h38
Nova sede da Otan, em Bruxelas, que custou mais de 1 bilhão de euros
Nova sede da Otan, em Bruxelas, que custou mais de 1 bilhão de euros ( Nova sede da Otan, em Bruxelas, que custou mais de 1 bilhão de euros)

BRUXELAS - A Otan não está apenas estendendo um tapete vermelho para receber o presidente americano, Donald Trump, em Bruxelas, hoje, 25.

A aliança militar ocidental, que Trump algum tempo atrás declarou ser obsoleta, vem reformando sua imagem e está pronta para inaugurar uma nova sede que custou mais de € 1 bilhão (R$ 3,65 bilhões).

Nos últimos meses os países membros vêm se esforçando para demonstrar que estão aumentando seus gastos com defesa, conforme o que Trump exigiu, apesar de já o estarem fazendo há alguns anos em resposta a uma Rússia agressiva.

E, embora concordem com o chefe do membro mais poderoso da aliança que a Otan poderia fazer mais para combater o terrorismo, eles dizem que isso pode ser conseguido fazendo mais do que já estão fazendo: treinando e orientando tropas no Afeganistão e equipando forças locais no Iraque para lhes dar condições melhores de combaterem elas próprias a milícia terrorista Estado Islâmico.

"Só vão discutir assuntos que são realmente importantes para Trump, de modo que presidente deve sair desta reunião sentindo que a Otan foi receptiva a ele", comentou Kristine Berzina, analista da Otan no think tank alemão Fundo Marshall. "Pelo menos é isso que o pessoal aqui espera que aconteça."

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De fato, como parte do processo de reforma da imagem a ser anunciado durante a visita de 24 horas que Trump fará à cidade que ele certa vez descreveu como "buraco infernal", a Otan provavelmente vai concordar em unir-se à coalizão internacional de 68 países que combate o EI.

Trata-se de uma iniciativa simbolicamente importante, especialmente desde que, na terça-feira, o EI reivindicou a explosão letal em um show de Ariana Grande em Manchester, na Inglaterra.

Um coordenador antiterrorismo também poderá ser nomeado. Mas a maioria das mudanças será superficial, na medida em que os aliados da Otan não têm intenção de travar guerra contra o Estado Islâmico.

"Está totalmente descartada a possibilidade de a Otan participar de operações de combate de qualquer natureza", disse ontem, véspera do encontro, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.

Os 28 países membros da aliança, além de Montenegro, que se tornará membro em breve, vão renovar uma promessa antiga de buscar gastar 2% de seu PIB com defesa até 2024. Mesmo assim, muitos veem com ceticismo esse valor arbitrário, que não leva em conta os gastos militares efetivos onde são mais necessários. A Alemanha teria que virtualmente dobrar seu orçamento militar e passar a gastar mais que a Rússia.

Para dar alguma consistência à promessa, os líderes vão fechar um acordo para traçar planos de ação até o final do ano, planejando meios de chegar aos 2% nos próximos sete anos, e mostrarão como vão utilizar esse dinheiro e contribuir para as operações da Otan com tropas.

Meta

Atualmente apenas cinco países membros estão cumprindo a meta: Reino Unido, Estônia, a endividada Grécia, Polônia e os Estados Unidos, que gastam mais com defesa que todos os outros aliados somados. "Não é justo que estejamos gastando perto de 4%, enquanto outros países que são mais diretamente afetados desembolsam 1%, sendo que deveriam gastar 2%", disse Trump à Associated Press em entrevista no mês passado.

Tomas Valasek, do think tank Carnegie Europa, diz que a exigência feita por Trump de que os países paguem suas dívidas pendentes abalou os outros aliados.

"Trump contestou a ideia de que o engajamento ativo na Europa seja do interesse fundamental dos Estados Unidos", disse Valasek. "Ele parece enxergar todas as relações exteriores como transações em que um lado ganha e o outro perde, nas quais cada contribuição para a segurança de outro país representa um prejuízo líquido para os Estados Unidos."

Valasek recomenda que os países europeus reajam de duas maneiras: "No curto prazo, impedir o presidente de abandonar a aliança. No longo prazo, preparar-se para assumirem um papel maior na defesa do continente europeu."

A reunião curta, um almoço de trabalho, terá forte teor simbólico. Na entrada da nova seda da Otan –um complexo do tamanho de uma aldeia, que deve entrar em uso pleno no início de 2018–, Trump e Stoltenberg vão desvelar um pedaço do World Trade Center.

Após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, a Otan ativou sua cláusula de defesa coletiva pela primeira e única vez. Os países membros juraram ajudar seu aliado atacado.

Stoltenberg e a chanceler alemã, Angela Merkel, vão descerrar também uma parte do Muro de Berlim, que no passado dividia a Alemanha Ocidental da Alemanha Oriental.

Mas as cerimônias e o simbolismo não vão ajudar muito a ocultar as divisões que perpassam a Otan. Trump quer mais da aliança, enquanto países como a Polônia, Lituânia, Letônia e Estônia querem garantias irredutíveis de que não serão abandonados à própria sorte se a Rússia atravessar suas fronteiras.

Enquanto isso, desde o golpe de Estado fracassado de julho passado, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, promoveu o expurgo de 11 mil militares das Forças Armadas de seu país. Centenas de oficiais seniores formados no Ocidente foram afastados de cargos na Otan, enfraquecendo seriamente o Exército. Esse, no entanto, é um tópico quase tabu na Otan –um problema nacional a ser resolvido internamente.

Tensões

As tensões também vêm crescendo entre Erdogan e Merkel desde que a Alemanha ofereceu asilo a alguns dos oficiais. A Bélgica já avisou publicamente que não permitirá manifestações públicas pró-Erdogan durante a visita do líder turco ao país.

No centro de Bruxelas e do lado de fora do perímetro de segurança, fortemente vigiado, perto do aeroporto da cidade, grupos pacifistas planejam seus próprios protestos.

Porém, com o ataque em Manchester ainda muito presente na cabeça de todos, a Bélgica vai permanecer no nível de segurança três –indicativo de que um ataque extremista é "possível e provável"–, como está desde os ataques suicidas no aeroporto e metrô de Bruxelas que fizeram 32 mortos no ano passado.

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