Aliança

Testada pela Rússia, Otan enfrenta dificuldades para manter credibilidade

Muitos países europeus continuam a resistir a medidas vigorosas de reforço da Organização para o Tratado do Atlântico Norte

Atualizada em 11/10/2022 às 12h48

Moscou - Seis semanas antes de uma crucial cúpula cujo objetivo é reforçar o poder de dissuasão da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) diante de uma Rússia ressurgida, a aliança enfrenta uma longa lista de desafios.

O primeiro é encontrar um país para liderar a última das quatro unidades militares a serem posicionadas na Polônia, na Letônia, na Estônia e na Lituânia. Mas os analistas dizem que esse pode ser o menor de seus problemas.

As preocupações de segurança atingiram seu grau de gravidade mais elevado desde o final da Guerra Fria. A crise de refugiados e imigrantes desgastou os relacionamentos entre os países da Europa.

As ansiedades foram reforçadas pelas ofensivas militares da Rússia na Crimeia e no leste da Ucrânia e pela campanha de bombardeio na Síria, que demonstrou as capacidades militares rapidamente crescentes de que Moscou dispõe.

Mais recentemente, a Rússia começou a falar abertamente sobre a utilidade das armas nucleares táticas. A despeito das crescentes ameaças, muitos países europeus continuam a resistir a medidas vigorosas de reforço da Otan.

Muitos continuam relutantes em elevar seus gastos militares, a despeito de compromissos do passado. Alguns, como a Itália, estão promovendo cortes. A França está retornando ao seu tradicional ceticismo com relação à aliança, que ela vê como instrumento da política dos Estados Unidos e uma ameaça à sua soberania.

E isso sem mencionar as declarações do virtual candidato republicano à Presidência, Donald Trump, de que a Otan é "obsoleta", os aliados estão "explorando" os EUA e que uma dissolução da aliança em nada o preocuparia.

Embora isso tudo possa ser só bazófia de campanha, reflete a crescente falta de disposição dos Estados Unidos de arcar com parcela desproporcional dos encargos da Otan, em termos militares e financeiros.

Batalhões

A atual preocupação, e um importante elemento daquilo que Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, define como "o maior reforço na defesa coletiva desde o final da guerra fria".

Trata-se dos quatro batalhões de combate nos países de linha de frente que fazem fronteira com a Rússia. A intenção é formar grupos de até mil soldados de outros membros da Otan para preservar a ideia de uma força multinacional.

Embora o Reino Unido, a Alemanha e os EUA tenham concordado em assumir cada um um batalhão, o quarto ainda não está definido, apesar de a cúpula da organização, em 8 e 9 de julho em Varsóvia, estar bem próxima.

Os Estados Unidos "não estão pensando em comandar dois", disse Douglas Lute, embaixador norte-americano à Otan, "Planejamos liderar um e incentivar nossos aliados a se apresentarem" para o comando dos outros três.

Mas outros países grandes, como Itália e França, se recusaram a assumir o comando da unidade. A Itália cortou suas despesas militares dois anos depois de prometer elevá-las, no País de Gales. Os líderes do país dizem que ele já está participando da força de reação rápida da aliança, que acaba de ser ampliada.

O posicionamento dessas unidades é importante porque os batalhões não foram concebidos como uma demonstração de solidariedade, mas sim como forças grandes e bem equipadas o bastante para causar danos reais a um invasor.

Depois eles poderiam ser reforçados mais rapidamente e, se a decisão for aprovada, por uma brigada blindada dos EUA na Europa (uma de três), uma força de 5.000 soldados com tanques e artilharia pré-posicionados na região.

Armamento

A Polônia está exigindo que parte desse armamento fique em seu território, mas por enquanto ele ficará na Alemanha, na Bélgica e na Holanda, que contam com instalações de transporte e armazenagem desde a Guerra Fria.

A Otan está apenas agora avaliando a infraestrutura —pontes, estradas e ferrovias— de seus membros na Europa central e oriental, não tendo julgado necessário anteriormente planejar como reforçá-los em caso de invasão russa.

O pré-posicionamento de armamentos na Europa oriental requereria grande investimento de capital para a construção de instalações e infraestrutura especiais, disse Lute.

A Polônia, ansiosa por enviar uma mensagem a Moscou, avançou na construção de uma instalação para um sistema de defesa antimísseis, cuja inauguração coincidirá com a abertura de uma central semelhante na Romênia.

Embora Stoltenberg e Washington insistam em que as defesas contra mísseis não tenham sido criadas para enfrentar os mísseis balísticos intercontinentais russos, Moscou não está convencida.

Segurança

A Otan está tentando reassegurar os membros vulneráveis, como as repúblicas bálticas, Polônia, Romênia, Bulgária e Turquia, no mar Negro, de que a aliança pretende cumprir suas promessas de defesa coletiva.

A defesa antimísseis é parte disso, bem como exercícios militares no mar Negro e operações regulares de aeronaves de reconhecimento. Como aponta Stoltenberg, o impacto de Moscou enfim levou os membros europeus da Otan a reverter os cortes no gasto militar.

Este ano, disse ele, as estimativas são de que os aliados europeus como um todo elevarão os gastos militares, algo que Washington vem exigindo, ainda a maioria deles não gaste o equivalente a 2% de seu PIB com defesa.

Cerca de 16 dos 28 países-membros elevaram seus gastos em termos reais, e só Itália, Bulgária e Croácia continuam com os cortes, ainda que insistam que eles são temporários.

"Conheço o clima de Washington e compreendo que os norte-americanos queiram ver os europeus fazerem mais, contribuírem mais", disse Stoltenberg. "Essa é minha principal mensagem nas capitais europeias".

Ainda assim, existe outra questão perturbadora relacionada à Rússia para a Otan: como lidar com uma nova doutrina militar russa que considera a utilidade de armas nucleares táticas no início de um conflito, como dissuasão à retomada de território por um adversário, o que seria seguido pelo que planejadores definem como "rápido apaziguamento".

Alguns países membros acreditam que a Rússia já tenha armas nucleares no enclave de Kaliningrado, no mar Báltico, onde exibiu ogivas em um exercício anterior. A Rússia não informou se as ogivas foram ou não removidas.

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