Artigo

Os 100 anos de Roberto Campos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h40

Roberto de Oliveira Campos, mato-grossense de Cuiabá nascido em 17 de abril de 1917, foi sem dúvida um dos economistas mais polêmicos e competentes que o Brasil conheceu no século XX. Polivalente, ele também foi diplomata e político, teórico e personagem importante de nossa história contemporânea. Para seus adversários, foi um mercenário a serviço dos Estados Unidos; para seus admiradores, um construtor do Brasil moderno.

Vamos aos fatos. Campos exerceu diversos cargos públicos: embaixador em Washington e Londres; ministro do Planejamento; senador pelo Mato Grosso; e duas vezes deputado federal pelo Rio de Janeiro. Desde o segundo governo de Getúlio Vargas, já atuava em nossa economia, tendo colaborado na criação do BNDES (na época sem o S), da caderneta de poupança, do Banco Central, do FGTS e da correção monetária.

Como intelectual, Campos seguia o pensamento liberal clássico da escola de economia austríaca, cujo guru era Friedrich Hayek (Prêmio Nobel de Economia em 1974). Paradoxalmente, no entanto, tal ideologia não se fez coerente com sua trajetória política.

No governo de Castelo Branco, conseguiu controlar a inflação através do arrocho salarial dos trabalhadores. Para ele, o problema inflacionário estaria na emissão de moeda. Em 1984, como senador, votou contra as eleições diretas e, em 1985, a favor de Paulo Maluf para presidente no Colégio Eleitoral. Em 1992, já combalido, numa cadeira de rodas, redimiu-se com a esquerda brasileira, tornando-se o primeiro parlamentar a votar a favor do impeachment do presidente Collor, fato que o fez ser mais aplaudido que Ulysses Guimarães.

Para entendermos melhor o pensador que foi Roberto Campos, selecionei algumas frases dele:

“Todo conselho é bom, desde que você não seja obrigado a segui-lo.”

“No socialismo temos preços congelados e prateleiras vazias; no capitalismo, preços flexíveis e prateleiras cheias.”

“A empresa privada é aquela que o governo controla; já a empresa pública é a que ninguém controla.”

“Aqueles que acreditam que a culpa dos nossos males está nas estrelas, e não em nós mesmos, ficam perdidos quando as nuvens cobrem o céu”.

Campos era um defensor ferrenho da iniciativa privada, embora toda a sua carreira tenha sido no setor público. Foi um defensor da liberdade. Serviu à ditadura, mas suas ideias prevaleceram e ajudaram a reformular até mesmo a esquerda brasileira, da qual foi inimigo número um por décadas. Ao contrário da maioria dos homens à frente do seu tempo, Campos teve o reconhecimento de suas teses ainda em vida, inclusive por adversários seus do passado, como Paulo Francis e Arnaldo Jabor.

Roberto Campos encerrou sua trajetória política em 1999, como deputado. Nesse mesmo ano foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. No ano seguinte sofreu um AVC que lhe deixou graves sequelas. Faleceu em 9 de outubro de 2001, aos 84 anos, no Rio de Janeiro, vítima de um enfarte. Com ele aprendemos que esquerda e direita têm pontos de interseção, e que ambas podem, obviamente, se reinventar. O que para muitos, no passado, era heresia, hoje virou sabedoria... Pelo menos para os mais sensatos!

Adriano Pinheiro

Professor de História

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