Editorial

Escravidão infantil

Atualizada em 11/10/2022 às 12h44

Dia 12 foi o dia das crianças e mais do que brinquedos, muitas das crianças de nossa capital, e do nosso estado, queriam simplesmente uma coisa: o direito de ser criança. Isso porque uma grande parte da nossa juventude, mais de 200 mil, segundo dados do IBGE referentes a 2013, são explorados de alguma forma: desde o pesado trabalho agrícola até o “leve” trabalho doméstico.

No decorrer de mais de um século em que a legislação brasileira aboliu a escravidão e de 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos ter conclamado a igualdade entre os seres humanos, independente de cor, raça, credo religioso, idade, sexo..., no Brasil ainda imperam as práticas e atitudes exploradoras do homem pelo homem.

Pelas ruas de São Luís é comum nos depararmos com jovens vendendo algum tipo de comida na rua, lavando carros, engraxando sapatos, quando deveriam estar na escola. Mas também há aqueles que ficam camuflados dentro de casa. Na sua maioria meninas que vem do interior do estado para estudar são obrigadas a empreender jornada de trabalho doméstico.

Um trabalho que historicamente é “coisa de mulher” no Brasil, mas que nem por isso é menos pesado do que arar a terra para plantar. Pelo contrário, pesquisas mostram que o trabalho doméstico pode ser tão estafante quanto qualquer outro, ainda mais numa relação exploradora, "desprofissionalizada", renegada dos direitos trabalhistas e, principalmente criminosa, quando no lugar de um adulto é colocada uma criança para desempenhar funções e atividades incompatíveis com sua condição biológica, psicológica e cognitiva.

A situação fica ainda pior quando se percebe que quem mais sofre nessa condição são as meninas negras e pobres, que se vem tolhidas de seus sonhos de serem alguém na vida. E elas sonham. Reportagem publicada nesta edição de O Estado mostra que elas querem ser advogadas, juízas, jornalista, mas acabam ficando apenas na base da pirâmide capitalista, justamente porque são exploradas de forma cruel e desumana, por pessoas que prometem lhes dar uma vida melhor na cidade.

“Ah, mas é melhor a criança trabalhar, do que roubar, é melhor estar ocupada, do que fazendo besteira por aí.” Pensamentos como esse perpetuam a violência, pois só valem para o filho dos menos favorecidos. O filho dos mais abastados pode estudar, brincar, sonhar. Enfim, ter um pleno desenvolvimento de sua formação, ao pobre resta somente o trabalho enfadonho e exploratório.

As razões que normalmente são apresentadas para a existência do trabalho infantil doméstico, têm se pautado “em ajuda humanitária” por parte de famílias bondosas, compadecidas com famílias pobres, com muitos filhos, moradoras do interior ou das periferias da cidade. Diante dessa situação, meninos e meninas passam a ser a única possibilidade do acesso a algum recurso financeiro por parte dessa família. Além disso, essa situação pode representar a oportunidade de frequentar a escola e assim “melhorar de vida”.

Mas no final, essa ajuda termina em exploração e violação de direitos, com crianças e adolescentes sendo humilhados e submetidos a trabalho excessivo e sem condições de estudo ou futuro.

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