Finis terrae

Atualizada em 11/10/2022 às 12h44

No início do mês de setembro, estive visitando, mais uma vez, a Ilha de Santa Catarina, que constitui a maior parte do município de Florianópolis, capital do estado que possui o mesmo nome da ilha. Quedei-me na beleza daquela ilha ao perceber que o progresso realmente havia se estabelecido de forma séria e responsável, desde quando estivera ali, pela primeira vez, nos idos de oitenta.
A Ilha de Santa Catarina, como a nossa Upaon-Açu, onde encontramos a cidade de São Luís, capital do Estado do Maranhão, situa-se no Oceano Atlântico, no litoral do Brasil. Ambas abrigam, em seu território, a sede do poder de cada Estado. Entretanto, muitas outras similaridades não encontramos entre estas duas pequenas regiões geográficas.
A ilha catarinense possui hoje uma malha rodoviária invejável, fazendo com que os deslocamentos sejam feitos em minutos. Nenhum turista, em seu carro alugado, se perde fazendo os caminhos da ilha pela farta e competente sinalização existente. As montanhas e a vegetação se complementam em um espetáculo para os olhos. Na saída estreita da Lagoa da Conceição, vi as maiores gaivotas da minha vida, nutridas, naturalmente, pelos peixes que ali abundam. Ao lado dessa saída, extensamente habitada, está a praia da Barra da Lagoa, muito utilizada para as práticas de surf. Não vi em toda a ilha placa alguma que sinalizasse ser aquele trecho impróprio para banho.
As atividades que se desenvolvem dentro desse território estão voltadas principalmente para o funcionamento da Universidade Federal e o turismo intensivo. Ali encontramos uma vasta rede de hotéis nacionais e internacionais que abrigam, o ano todo, viajantes de qualquer lugar do Brasil e do mundo. Nossos irmãos argentinos, particularmente, adoram Florianópolis. A estrutura se completa com a disponibilidade de uma culinária voltada para os frutos do mar não encontrada em nenhum lugar do Brasil. Diga-se de passagem: nem em São Luís do Maranhão.
A ilha foi colonizada pelos portugueses açorianos que até hoje habitam e cultuam as suas raízes de forma expressiva. O biotipo os identifica e caracteriza. Eles têm o boi de mamão, com músicas e com seu auto baseado no nosso mesmo elemento central dramático: a morte e a ressurreição do boi. Quem estiver mais atento percebe, em cada canto da ilha, pelo menos uma pequena igreja, ligada ainda aos cemitérios antigos no mesmo espaço, sem nenhum indício de decadência ou falta de cuidados.
A ilha de Upaon-Açu hoje é dividida em quatro municípios, sem que ninguém saiba, com certeza, onde começam os seus limites geográficos e as responsabilidades dos que os administram. A ilha de Upaon-Açu, três vezes maior do que a Ilha de Santa Catarina, ainda não teve o seu potencial turístico totalmente explorado. Equívocos continuam sendo implantados dentro desta ilha, embora ninguém meça os efeitos colaterais dessas decisões. Os impactos ambientais continuam sendo negociados e a população sofre os efeitos: não poder banhar nas águas do Oceano Atlântico sem pegar uma virose ou uma doença mais séria, por exemplo.
Alguns anos atrás, um colega na universidade dizia se encantar pela minha postura de otimismo ativo ao voltar para São Luís depois de participar de um congresso no sul do país. Ele, pelo contrário, voltava arrasado. Naquele tempo, ele já enxergava que habitávamos no finis terrae.

Sanatiel Pereira
Membro da ALL, ACLAC e da SOBRAMES, escritor, engenheiro, pesquisador e professor da UFMA

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