Terrorismo

EI não consegue pagar seus soldados, diz Tesouro dos EUA

Esforços para afetar finanças do grupo Estado Islâmico estão funcionando, diz porta-voz; organização terrorista precisa de dinheiro para sobreviver; corte ou atraso em salários tem estimulado corrupção e deserções

Atualizada em 11/10/2022 às 12h47
(As forças do 'Estado Islâmico' tomaram Raqqa em janeiro do ano passado)

Washington - Os esforços internacionais para afetar as finanças do grupo Estado Islâmico (EI) incapacitaram os extremistas de pagar seus combatentes e estimularam a corrupção dentro do grupo, afirmou uma autoridade americana.

Daniel Glaser, secretário-assistente do Departamento de Tesouro para o financiamento do terrorismo, disse ao Congresso americano que a combinação de ataques com bombas aos caixas do EI e às cargas de petróleo, bloqueando-o fora do sistema bancário e cortando o fluxo de caixa do governo iraquiano para áreas controladas pelo EI, deixou o grupo com dificuldades financeiras.

"Como resultado desses esforços, o Isis (Estado Islâmico) está se esforçando para pagar os combatentes e nós estamos vendo um número desses combatentes deixando o campo de batalha, já que seus pagamentos e benefícios estão cortados ou atrasados", afirmou.

"Quando vimos indícios de que o Isis não conseguiria pagar os salários de seus próprios combatentes e estava tentando compensar a receita em outro lugar, sabíamos que estávamos batendo onde dói... O Isis, assim como qualquer outra organização terrorista, precisa de dinheiro para sobreviver", afirmou.

Em depoimento por escrito à Câmara dos Deputados, em audiência do Comitê sobre as ameaças de segurança, Glaser disse que o governo dos EUA estava concentrado em atacar os recursos financeiros do EI e de outros grupos terroristas que tiveram impacto significativo.

A rede Al-Qaeda, que tem contado tradicionalmente com dinheiro enviado do Golfo, sentiu os resultados dos esforços do bloqueio de fundos, com a ajuda de autoridades financeiras de países da região, afirmou.

Mas Glaser também acredita que os países do Golfo precisam fazer mais, usando as leis nacionais de congelamento de fundos e ativos de indivíduos e grupos suspeitos.

Ele alegou também que o país tem obtido significativo sucesso em cortar recursos financeiros do grupo libanês Hezbollah em esforços que se estenderam da Ásia à América Latina.

"Nossas ações estão criando um ambiente operacional hostil para o Hezbollah, elevando os seus custos para fazer negócios, restringindo a sua capacidade de transferir fundos e diminuindo sua base de receitas", disse.

Deserções

A organização fundamentalista, que perde terreno na Síria e no Iraque pelos incessantes ataques de dezenas de caça-bombardeiros, se esforça para impedir que milhares de voluntários estrangeiros que se uniram a ela em 2014 fujam das terras do califado autoproclamado.

É o que mostra um estudo do International Centre for the Study of Radicalisation (ICSR) do King's College de Londres, realizado a partir de uma amostra de 60 desertores.

De acordo com a pesquisa, alguns tomam sua decisão por medo de ataques aéreos, por decepção em relação ao que haviam imaginado, pela corrupção dos líderes locais, pelas ações violentas contra os muçulmanos sunitas ou simplesmente por tédio.

"Eles percebem que a fase final [do grupo terrorista] começou. Muitos começam a nos enviar mensagens para se informar sobre como retornar", declara à AFP o coordenador nacional da inteligência na França, Didier Le Bret. "Já não existe uma expansão do glorioso califado, e sabemos que alguns morrem quando tentam fugir."

"Como os serviços de segurança do EI são muito desconfiados, ficamos preocupados quando alguém chega: como ter certeza de que são sinceros e não que estão ali para realizar uma missão?", acrescenta.

Segundo o diretor-geral da segurança interior francesa (DGSI), Patrick Calvar, em meados de maio 244 pessoas voltaram à França a partir da zona síria-iraquiana. "Assistimos a uma maior intenção de retorno", afirma. Segundo ele, esse retorno é dificultado pela política do Daesh (acrônimo árabe do EI), que considera traidores os que deixam a Síria e afirma que eles precisam ser executados imediatamente.

Desde janeiro de 2014, antes da proclamação oficial da criação do califado, o ICSR criou uma base de dados com entrevistas realizadas com desertores do EI para tentar entender seus motivos.

"Massacres porque sim"

"Os motivos pelos quais fugiram são tão complexos como os que os levaram a partir", escreveu, em um relatório, Peter Neumann, diretor do ICSR. "Nem todos se converteram em partidários fervorosos da democracia ao estilo ocidental. Alguns cometeram crimes", afirma.

"Em seus relatos, quatro críticas se repetem: 'O EI se concentra mais em combater outros muçulmanos que o governo de Assad, o EI comete atrocidades contra muçulmanos, o EI é corrupto e não segue os preceitos do Islã, a vida sob o jugo do EI é dura e decepcionante'", acrescenta.

Shiraz Maher, membro do ICSR, é um dos investigadores que interrogou os desertores.

"A maioria deles nos diz: 'Não viemos para isso'", afirma. "Um deles afirmou: 'Gostaria de dizer a todos os mujahedins [partidários da jihad, ou guerra santa] que não se dirijam à Síria. A jihad não é isso. Vai acabar matando muçulmanos".

"Alguns se juntaram ao grupo terrorista por impulso, às vezes convencidos de que se uniriam a uma utopia, a uma sociedade ideal regida pela sharia [a lei islâmica]. Outros buscavam adrenalina, camaradagem. Mas os aprendizes de jihadistas acabam, segundo contam, imersos na violência, na barbárie, no medo, nas privações, no tédio, na incompreensão e na discriminação em função de seus países de origem", diz o relatório.

"Um deles me disse" - lembra Shiraz Maher - "que os chefes do EI não hesitarão em destruir um edifício, com mulheres e crianças no interior, para matar apenas uma pessoa. Não é a jihad revolucionária, e simplesmente um massacre."

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